Pesadelo da lotação volta a atormentar 7.º DP

Para pavor dos moradores da Vila Hauer, o xadrez do 7.º Distrito Policial volta a enfrentar o drama da superlotação. Esvaziada por pressão da comunidade em abril do ano passado, a cadeia segue recebendo presos e hoje conta com 58 homens num espaço onde só cabem 32. Entre os detentos há inclusive dois com sintomas de hanseníase e outro com tuberculose, doenças contagiosas.

Após inúmeras rebeliões e fugas, líderes comunitários pressionaram a Secretaria da Segurança Pública para desativar o presídio. O anseio foi atendido com a construção da Casa de Custódia de Curitiba, na CIC, que recebeu os internos do 7.º DP e de outros distritos de bairro. O problema é que a cadeia – interditada pela Justiça – nunca foi fechada em definitivo pela polícia e continua recebendo presos semanalmente.

Em janeiro, quando o delegado Roberto Heusi assumiu o 7.º DP, havia 14 homens nas celas. “Temos que prosseguir o trabalho e, como não há documento oficial interditando a cadeia, os detentos vão ficando por aqui”, falou.

Doentes

Apenas uma das alas – com 16 celas – das que foram desativadas no ano passado, continua vazia. O espaço, agora, serve para acomodar presos em condições especiais, como dois acusados de furto qualificado, encaminhados pela Polícia Militar em 14 de maio. Ambos já chegaram com suspeita de hanseníase e foram levados à ala vazia. “É um local de menor segurança, mas somente os isolando garantimos a condição de saúde dos demais”, disse o delegado. O mesmo procedimento foi adotado com um interno com sintomas de tuberculose.

Um dos detentos já apresenta estágio avançado da hanseníase e perdeu um dedo dentro do xadrez. A doença é transmitida pela liberação de um micróbio (bacilo de Hansen) no ar, pela pessoa infectada. Para haver o contágio, deve haver contato íntimo e freqüente – uma cela lotada é espaço propício para proliferação do bacilo. O 7.º DP aguarda ofício para remover os doentes à Casa de Custódia, que em seguida deve remetê-los ao Complexo Médico – Penal (CMP), em Piraquara.

O retorno de um problema que parecia superado apavora a região. Nos fundos do distrito fica o Colégio Estadual Segismundo Falarz, mais de uma vez invadido por presos durante fugas. “É um risco constante. Nunca se sabe o que pode acontecer com alunos, professores e população vizinha”, reclama o líder comunitário Antônio Brasil, diretor do Conselho Local de Saúde do Hauer.

O foguetório foi em vão

Com um estrondoso foguetório, moradores e comerciantes da Rua João Soares Barcelos, na Vila Hauer, comemoraram no dia 16 de abril do ano passado a transferência de todos os presos recolhidos no 7.º Distrito Policial e a desativação do xadrez da delegacia. Era uma promessa da Secretaria da Segurança Pública que estava sendo cumprida. Os moradores da região finalmente estariam livres da triste convivência com fugas, tentativas de fugas, rebeliões e tiroteios que ocorriam com freqüência, em função do superlotado xadrez. No entanto, o sonho de levar uma vida sossegada teve fim em menos de um ano.

Lentamente a carceragem, que está interditada pela Justiça, foi novamente sendo lotada por presos condenados ou não. Sem ter para onde encaminhá-los, os delegados foram permitindo que as celas fossem ocupadas, até chegar no ponto em que está. A construção da Casa de Custódia de Curitiba (CCC), na Cidade Industrial – edificada a toque de caixa para aliviar a tensão nas cadeias das delegacias – pouco significou. Ela teve suas instalações preenchidas em menos de duas semanas e as delegacias continuaram com suas celas cheias.

Outra cadeia nova, a Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), também está com a lotação completa. Iinaugurada há pouco tempo e construída para abrigar presos condenados que estavam recolhidos nas delegacias, também não passou de um sonho para delegados e policiais que gostariam de se livrar da tarefa de cuidar de presos e voltar à sua função principal, que é de investigar e esclarecer crimes.

Transferência

No dia em que o xadrez do 7.º DP foi desativado, aconteceu uma verdadeira operação de guerra para a transferência dos detentos. Carros blindados, helicóptero, cães farejadores, policiais armados até os dentes, ruas interditadas para a passagem do comboio. Os moradores e comerciantes da região – que se cotizaram para comprar os foguetes – lembram da cena até hoje, e lamentam: “Foi um fugaz momento de alegria e de confiança em nossas autoridades”.

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