O prefeito de Guarapuava, Luiz Fernando Ribas Carli (PP), declarou ao jornal Folha de S. Paulo, em matéria publicada ontem, que não existem provas de que o filho dele, o deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB), estivesse embriagado no momento do acidente que matou, no último dia 7, os jovens Gilmar Rafael Souza Yared e Carlos Murilo de Almeida. Carli também disse que não há comprovações de que o filho dirigia em alta velocidade.

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O prefeito declarou que está sofrendo também pelas famílias das duas vítimas e prometeu visitá-las em breve. Ainda garantiu que não houve pressão política para abafar o caso.

Segundo Carli, existe um julgamento antecipado sobre os fatos do acidente. Ele comentou que desconhece a quantidade de multas recebidas pelo filho e que funcionários do gabinete do deputado também utilizam o carro durante o expediente.

As declarações do pai do deputado são contrárias às do promotor Rodrigo Chemim, designado pelo Ministério Público do Paraná para acompanhar as investigações.

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Ele assegurou, na semana passada, que está documentada, por meio de depoimentos de testemunhas e do relatório do Siate sobre o socorro, a embriaguez de Carli Filho e a alta velocidade no momento da colisão. Sobre a reportagem da Folha de S.Paulo, Chemim disse que não leu as declarações e que não vai “bater boca” pela imprensa.

O promotor informou ontem que está sendo operacionalizada a reconstituição do acidente. Ainda não existe prazo para que a simulação aconteça, mas o promotor quer o quanto antes, caso a reconstituição seja realmente possível de ser feita.

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Chemim também aguarda as informações solicitadas à Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs), que gerencia o trânsito na cidade. A expectativa é que os dados estejam no Ministério Público na próxima segunda-feira.

Segundo o promotor, o sangue do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, coletado pelo Hospital Evangélico, está no Instituto Médico-Legal (IML) e os exames que podem indicar ou não presença de álcool e outras substancias devem ficar prontos em uma semana. Nenhuma testemunha foi ouvida ontem.

Evangélico esclarece caso

Joyce Carvalho

O Hospital Evangélico publicou uma nota de esclarecimento em seu site, ontem, sobre a internação de Carli Filho. O paciente chegou às 2h02 de 7 de maio, se encontrava em risco de vida e sem identificação.

No momento da entrada no hospital, os médicos do pronto-socorro realizaram exames e constataram coma em nível 5 na escala Glasgow. Após o deputado ter sido entubado, ventilado mecanicamente e hidratado, foi identificado coma em escala Glasgow 8.

O deputado ainda foi ao centro cirúrgico para a realização de traqueostomia, colocação de monitor de pressão intracraniana e correção inicial das fraturas de face.

A nota afirma que a equipe médica reencaminhou o paciente para a unidade de terapia intensiva depois dos procedimentos. Nos dias 8, 9 e 10, o paciente permaneceu internado sob cuidados intensivos.

O Evangélico ainda explicou a transferência do deputado. “Às 20 horas do dia 10/5/09, em razão da estabilidade clínica e quadro neurológico favorável, o paciente foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, a pedido da família. Durante todo o período em que esteve internado no Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, foram prestadas todas as informações solicitadas e divulgados boletins médicos, relatando fielmente o estado de saúde do paciente”, diz a nota.

O documento não esclarece se o paciente foi transferido em coma ou consciente. O c,omunicado de ontem indica que o deputado ficou no hospital por 66 horas. O primeiro boletim médico relata que o estado do deputado era classificado como grave, “sendo as próximas 72 horas decisivas para a definição do prognóstico”.

“Graças a Deus que ele está bem”, diz mãe de vítima

Mara Andrich

A família de um dos rapazes mortos no acidente em que se envolveu o deputado  estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho (PSB) – Gilmar Rafael Souza Yared – não viu com estranheza a foto do parlamentar publicada ontem em O Estado.

A foto, enviada à imprensa na noite da última sexta-feira, mostra Carli Filho depois de uma cirurgia de correção de face, realizada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que durou cerca de 14 horas.

Para Cristiane Yared, a foto foi uma mera informação que a família do deputado quis prestar à sociedade, sem a intenção de comover ninguém. “Graças a Deus que ele está bem, tomara  que se recupere. E que a tragédia sirva de lição para ele, que possa ajudá-lo a ser uma pessoa melhor”, comentou ela.

Segundo Cristiane, a família do deputado deve, sim, divulgar as informações. “Enquanto eles cuidam do filho deles, eu estou procurando a verdade e a justiça para que os netos dele tenham uma cidade melhor para viver”, desabafou.

A família de Yared pretende fazer uma passeata no dia 24 de maio. A ideia é caminhar do local do acidente até o Parque Barigui. Desta forma, chamar a atenção da sociedade para tragédias como a que tirou a vida de Gilmar Rafael. “Nós não queremos vingança, só queremos justiça. Nós vamos fazer de tudo para mudar as leis de trânsito”, concluiu Cristiane.

Investigações

Agora depende do Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba e também do Instituto de Criminalística algumas provas materiais que podem comprovar se Carli Filho dirigia embriagado e acima do limite de velocidade no dia do acidente.

Na última sexta-feira, o IML já havia recebido as amostras de sangue do parlamentar retiradas no Hospital Evangélico na noite dos fatos. As amostras estavam preservadas no Hemobanco, e foram conseguidas pelo Ministério Público Estadual (MP) e pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) por meio de um mandado de busca e apreensão.

Ainda não se sabe exatamente o tempo que deve levar para sair o laudo do exame, mas informações do IML dão conta de que geralmente demora de 30 a 45 dias. Já a análise do veículo e do velocímetro está nas mãos do Instituto de Criminalística.

Testemunhas ouvidas pelo MP já confirmaram que viram o deputado embriagado na noite do acidente. Outras testemunhas também afirmaram que viram o veículo do parlamentar passando em alta velocidade no local do acidente.