Onda de violência apavora professores e alunos

“Estão marcando hora para matar nossos alunos.” A denúncia é de uma professora do Colégio Estadual Eurides Brandão, no Conjunto Diadema, Cidade Industrial de Curitiba. Depois que o diretor foi ameaçado de morte ela prefere não se identificar. Em menos de dois meses um aluno foi morto e outro adolescente, confundido com um estudante do estabelecimento, também perdeu a vida. Na última sexta-feira o fato deveria se repetir, mas ligaram para a escola avisando e os pais do jovem ameaçado o mandaram para outro Estado. Ontem professores da unidade e representantes da APP-Sindicato estiveram na Secretaria Estadual da Educação para pedir segurança.

A escola, que começou a funcionar este ano, atende alunos de 5.ª a 8.ª séries e Ensino Médio. Nela trabalham 20 professores e estudam cerca de 1.100 alunos. Segundo a professora RM a onda de violência no colégio pode ser justificada porque fica entre bairros violentos: Caiuá, Sabará, Conquista e Morro do Juramento. “Neste último lugar nem a polícia entra”, diz.

Tiros

A situação voltou a ficar tensa na última quinta-feira. Jovens passaram de moto em frente ao colégio atirando. A polícia foi acionada, mas depois que foi embora, os indivíduos retornaram. “Era quase hora do recreio, foi avisado para ninguém sair da sala”, diz uma das professoras.

Outra professora, que também não quis se identificar, fala que existe o consumo de drogas na escola. “O muro é de palitos, fica fácil passar qualquer coisa”, comenta. Ela conta ainda que não é difícil encontrar alunos drogados, inclusive os que estudam pela manhã.

A evasão da escola é outro fator que preocupa. Muitos alunos estão deixando a unidade por medo. A professora conta ainda que alguns não podem nem mudar de escola porque pertencem a gangues rivais, que estão em outro colégio. Mas o caso mais grave foi o estupro de uma jovem surda-muda. “Eles devem ter achado que ela não iria contar nada. Ela nunca mais retornou para a escola”, fala uma das professoras.

Os professores começam a adotar o mesmo caminho. Depois dos assassinatos, dois já deixaram as aulas no local. Sem contar os que nem quiseram assumir as matérias no início do ano. Defasagem de aprendizagem e indisciplina são outros desafios para quem quer ficar. “Não quero ir embora, quero solução” diz uma professora.

Policiamento

Durante a audiência os professores também exigiram o pagamento de uma gratificação correspondente a 20% do salário. A secretaria destina o benefício a professores que trabalham em locais considerados de difícil acesso, como o caso da Eurides Brandão.

De acordo com a ouvidora da Secretaria da Educação, Tânia de Camargo Santos, ainda esta semana será entrado em contato com a Secretaria da Segurança Pública para que o policiamento no local seja intensificado. Também devem ser buscadas outras alternativas como trabalhos de conscientização com a comunidade. Quanto à exigência dos professores pela gratificação, Tânia afirma que vai buscar uma resposta junto ao órgão responsável.

Situação controlada, diz PM

Para o tenente-coronel José Paulo Betes, comandante do 13.º Batalhão da Polícia Militar a situação na área está sob controle. Ele afirma que a região não é a mais violenta da cidade e que os fatos ocorridos são uma fatalidade. ‘São situações que fogem ao controle’, explica. O coronel fala que no local o que mais ocorre são pequenas contravenções como brigas em bares e pequenos furtos. Os dados registrados no batalhão confirmam. De janeiro a maio, os maiores problemas foram 60 atendimentos a situações semelhantes a brigas em bares. Em segundo lugar ficaram 45 solicitações de presença policial, onde os casos foram resolvidos na hora. Casos mais graves ocorreram em número menor. Porte de arma, foram 4. Homicídios 3. Usuários de drogas 2 e um caso de estupro, rixa e trafico de drogas. ‘O número é baixo em relação a outros locais da cidade’, diz.

Ele conta que para garantir a segurança existe na região duas patrulhas escolares que atendem cerca de 5 escolas. Também há a radio-patrulha durante o dia e um patrulhamento nas empresas e comércio. Além disso nos últimos 10 dias um grupo da Rone, do 13.º, tem sido presença constante. A CIC também vai ganhar um reforço. Um grupo de policias deve ir para área com um ônibus e duas viaturas. Eles trabalham de modo itinerante. ‘O grupo já conseguiu resultado nos bairros Xaxim, Portão e Pinheirinho.’ (EW).

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