A Camerata Amtíqua fez uma apresentação
na Prisão Provisória de Curitiba.

De dentro das celas, os internos da Prisão Provisória de Curitiba, no Ahu, acompanharam, ontem, uma apresentação da Camerata Antíqua de Curitiba, realizada no pátio interno do presídio. Alguns puderam assistir, apinhando-se nas janelas das celas. Outros, nos corredores mais distantes, apenas ouviram. Mas a música clássica ecoou em todos os lugares e mudou a rotina da prisão.

A iniciativa da apresentação partiu da própria Camerata, como parte do projeto Música pela Vida, que tem como objetivo levar a música para outros locais. Foi a primeira apresentação em um presídio. “Nossa arte não serve apenas para teatros. A música que temos traz vida e ajuda na recuperação dos detentos. Procuramos levar mensagens de esperança e fé”, conta Darci Almeida, coordenadora da Camerata. As músicas foram escolhidas especialmente para a ocasião, como Frevo Fugato, de Edmundo Villani Côrtes, e Jesus Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach.

Exemplo

Para o secretário de Estado da Justiça e Cidadania, Aldo Parzianello, a apresentação é o exemplo de que a sociedade e os presos podem conviver em harmonia. “A música, além da terapia, ajuda a diminuir a violência. Se nós gostamos de música, eles também gostam aqui dentro”, afirma.

Enquanto o coral e a orquestra da Camerata se apresentavam, os integrantes do Coral Voz da Liberdade, composto por 38 detentos, assistia tudo através de uma janela com grades, quase um se amontoando em cima do outro. Eles cantaram logo após a Camerata, no mesmo pátio, mostrando canções de cunho religioso. Estavam todos bem vestidos, alguns até usavam terno e gravata sob o uniforme do coral, para impressionar os convidados. Apesar da ansiedade, conseguiram mostrar muito bem o trabalho que estão fazendo dentro da prisão. “Foi muito emocionante. Nós só tínhamos um instrumento: a voz. Alguns nunca tinham visto um violino ou violoncelo. Isso faz viver a alma da gente. Ficamos realmente espantados com a música da Camerata”, comenta Carlos de Oliveira Miguel, maestro do coral e detento há 12 anos.

Atividades

O coral é apenas uma das atividades realizadas pelos internos da Prisão Provisória. Dentro do Programa de Ressocialização Bem Viver, os presos participam de várias oficinas, como de artes plásticas, mosaico, confecção de bolas, sinos de vento, confecção de cadeiras de rodas a partir de sucata e terapias em grupo. De acordo com Lauro Valeixo, diretor do presídio, 60% dos 850 detentos estão ocupados com as atividades, incluindo a escola. “O preso é um multiplicador das atividades, convencendo os outros detentos a participarem também. Isso traz tranqüilidade na unidade, cultiva o respeito e cria uma perspectiva de um novo viver. Com o programa, diminuímos o índice de indisciplina”, afirma Valeixo.

Ele destaca como exemplo de multiplicador de idéias e atitudes, o interno Oséias Leivas Silva, de 32 anos e que está no presídio há 13. Depois de freqüentar as aulas de artes plásticas, ele passou a ser o professor de outros colegas. “Eu já desenhava e pintava na escola. Conheci técnicas de pintura a óleo e nunca mais parei. Já fiz mais de 500 trabalhos”, revela. Uma vez por semana, ele orienta dez alunos sobre desenho e pintura. Os trabalhos feitos por Silva e por outros detentos estavam expostos, ontem, para os convidados da apresentação da Camerata e do Coral Voz da Liberdade. “Tento despertar neles uma meta, um projeto de vida, para levar depois que sair daqui. É muito gratificante porque, dividindo seus conhecimentos, você acaba crescendo també”, conclui.

Além das oficinas, alguns detentos são contratados por empresas conveniadas para trabalhar dentro da prisão nos segmentos de padaria, mercearia e montagem de componentes de chuveiros. Esses participantes recebem certificado de curso profissionalizante, o que permite a diminuição da pena (a cada três dias trabalhados, um a menos na pena). “Todos os trabalhos feitos aqui despertam a disciplina. 80% dos presos com distúrbios comportamentais, normalmente isolados, já participam como os outros”, conta Valeixo. Outro projeto que está mostrando bons resultados de comportamento está relacionado com os dependentes químicos, que estão tomando florais de Bach e participando de atividades terapêuticas. “Os benefícios para os presos estão ficando evidentes, o que também está mexendo com os funcionários do presídio. Eles fazem trabalhos voluntários com os próprios presos depois do horário de expediente observa Valeixo. Os projetos estão mudando a rotina da prisão, criando um abiente mais propício para a recuperação”.

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