Mulher sanguinária é acusada de outro crime

A “loira fatal”, presa neste final de semana em Pontal do Paraná pela morte do amante, e acusada também de envolvimento no assassinato do próprio marido, pode ser mais do que uma mulher ambiciosa. Novos indícios apurados ontem pela polícia de Pontal levam a crer que ela é uma fria “serial killer”, que pode ser responsável pela morte de três homens em menos de dois anos. A polícia vai investigar se Elenir Voltolin Papker, uma bonita loira de 37 anos, usou seus atributos e sua inteligência para mandar matar mais um homem Ä um outro amante dela, executado em maio de 2001, em Colombo, em circunstâncias misteriosas.

Elenir já está indiciada na delegacia de Pontal por homicídio e ocultação de cadáver, pela morte do empresário Neri Pereira, 61 anos, ocorrida quinta-feira passada. Agora, ela será investigada também pelo assassinato do pedreiro Jorge Alceu Papker, que tinha 40 anos e era marido de Elenir quando foi morto a tiros em agosto do ano passado em São José dos Pinhais; e pelo homicídio do comerciante Nelson Ferreira, que tinha 36 anos e era amante dela quando foi executado na Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo, em 10 de maio de 2001.

Evidências

“A situação dela está se complicando”, informou o investigador Taíco, de Pontal do Paraná. Além de todas as evidências da participação da loira no assassinato de Neri Pereira, morto com um tiro e carbonizado dentro do próprio carro na noite do último dia 23, ontem a polícia encontrou um documento de identidade de Elenir jogado no mato, próximo ao local onde Neri foi assassinado.

Além disso, em depoimento também ontem, a mulher citou um ex-amante Ä o comerciante Nelson Ferreira Ä que ela tinha em Curitiba, quando ainda era casada com o pedreiro Jorge Papker. Nelson foi executado e o assassino confesso dele, preso dois dias depois do crime pela delegacia do Alto Maracanã, assumiu o homicídio mas nunca quis confessar o verdadeiro motivo da execução. Declarou apenas que era uma “rixa antiga”, sem maiores explicações. A polícia está apurando se Nelson teria passado um imóvel em nome de Elenir pouco antes de morrer.

O marido dela, Jorge, por sua vez, foi assassinado no ano passado, quando Elenir dividia suas atenções amorosas entre ele e o segundo amante, Neri, dono de uma oficina mecânica de grande porte em Pontal do Paraná. Elenir costumava arrumar empregos temporários no litoral como desculpa para transitar entre a casa do marido e os encontros com o amante.

Transferida

O caso está tendo tanta repercussão no litoral, onde Neri Pereira era bastante conhecido, que Elenir teve que ser transferida da delegacia de Pontal, onde estava sofrendo ameaças, para Curitiba. Ontem, ela foi removida para a carceragem do 9.º DP (Santa Quitéria), que abriga mulheres. “A transferência dela vai facilitar também os trabalhos de investigação dos outros dois crimes”, comentou o investigador Taíco.

Os três comparsas de Elenir no assassinato de Neri Pereira estão sendo caçados pela polícia de Pontal. Um deles está identificado apenas como Jorge Ä seria o elemento que retirou Elenir do local do crime logo depois que os outros dois mataram o empresário, dando-lhe tempo para construir um álibi. Os dois homens que atacaram Neri enquanto ele estava dentro do carro junto com a amante estão identificados como Adriel Vagner Gonçalves, 18 anos, e Adriano da Silva, 28. A princípio, Adriano não tem passagens pela polícia, mas Adriel já é conhecido: esteve envolvido em um assalto em Matinhos, que terminou em tiroteio com a Polícia Militar, há dois meses, e conseguiu escapar. Foi também reconhecido por uma testemunha como possível autor do assassinato de Jorge Papker, marido de Elenir.

Acompanhe a história dos três crimes atribuídos à “loira fatal”:

O primeiro amante

Na madrugada de 10 de maio de 2001, o comerciante Nelson Ferreira, 36 anos, bebia em um bar da Vila Zumbi dos Palmares acompanhado de um sobrinho, João Renato Banck. Por volta de 2h, um homem Ä que supostamente já conhecia os dois – pediu carona para casa e Nelson atendeu o pedido. Levou Anderson Teodoro de Souza, o “Ande”, em sua Belina, até um determinado ponto da vila, onde o rapaz pediu para descer. Eles estavam na Rua do Trabalhador e “Ande” avisou que ficaria ali. Ao desembarcar da Belina, “Ande” sacou um revólver calibre 38 e disparou várias vezes. Dois tiros acertaram a cabeça de Nelson, que morreu na hora, e outra bala pegou de raspão o rosto de João Renato.

Preso dois dias depois do crime, na própria Vila Zumbi, e levado à delegacia do Alto Maracanã, “Ande” confessou o crime friamente. Declarou que tinha uma rixa antiga com Nelson mas não quis dizer o motivo. “Eu estava planejando isso aí fazia duas semanas”, resumiu. “Ande” continua preso e pode estar envolvido em outros homicídios.

O marido

Quatro tiros mataram o pedreiro Jorge Alceu Papker, 40 anos, na noite de 22 de agosto de 2002, em São José dos Pinhais. O crime ocorreu na Vila Martins, em Borda do Campo. A Polícia Militar foi acionada às 20h, mas o assassinato teria acontecido cerca de vinte minutos antes.

Jorge tinha sido chamado em sua casa por um homem e partiu ao encontro da morte. A vítima levou, dentro de uma sacola, sua agenda, onde anotava orçamentos de serviços, fazendo supor que o convite teria sido uma proposta de trabalho. A cerca de duas quadras de casa, Jorge foi assassinado cruelmente.

Casado com Elenir Voltolin Papker e pai de três filhos, Jorge tinha voltado a morar no bairro há pouco tempo com a família. Antes, haviam passado dois anos no litoral paranaense Ä onde Elenir conheceu Neri Pereira e começou o caso amoroso com ele.

Uma testemunha reconheceu, através de fotografia, Adriel Vagner Gonçalves Ä também envolvido na morte de Neri Pereira Ä como um homem que saiu correndo do local do crime logo após o assassinato de Jorge.

O outro amante

Neri Pereira, de 61 anos, foi atraído para a morte por Elenir, que estava brigando com o amante para exigir que o empresário passasse um imóvel para o nome dela. Simulando uma possível reconciliação, Elenir marcou encontro com Neri no local onde eles costumavam manter relações sexuais Ä um matagal à beira do Rio Guaraguaçu, entre Pontal do Paraná e Paranaguá Ä na noite de quinta-feira passada. Enquanto os dois se entretiam dentro do carro de Neri, chegaram os comparsas da loira. Um deles tirou-a do local, outro deu um tiro em Neri, e por fim atearam fogo ao carro, deixando o corpo do empresário totalmente carbonizado.

Elenir tinha planejado o crime com detalhes. Sabia que Neri carregava costumeiramente um galão de vinte litros de gasolina no porta-malas do carro; havia comprado, no mesmo dia, medicamentos de tarja preta em uma farmácia do litoral, indicando que pode ter drogado o amante para evitar reação dele e facilitar a execução; depois do assassinato, voltou rápido para casa e passou a visitar vizinhas e amigas, para construir um álibi; e ainda, chantageava Neri com as informações que tinha sobre o assassinato do marido Jorge, que teria sido planejada pelos dois amantes. Tudo para conseguir uma casa em Araucária ou um imóvel na praia.

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