Mulher paga caro por ter colaborado com a polícia

Uma das testemunhas que denunciou a existência da megaquadrilha, que agia na região de Almirante Tamandaré, e apontou mais de 50 nomes de pessoas acusadas de integrar o bando, está confinada no quartel da Polícia Militar há oito meses. “De testemunha eu passei a ser presa. Estou cansada. Quero sair e exercer o meu direito de ir e vir. Não agüento mais. Estou sendo tratada como uma presa”, desabafou.

Ela argumentou que ajudou a Justiça a colocar 17 pessoas atrás das grades, mas denunciou que há outros integrantes que ainda estão nas ruas. “Eles continuam soltos, andando livremente por aí, enquanto eu e outras testemunhas estamos presas. Algumas estão escondidas, eu estou presa dentro de um quartel”, lamentou.

A mulher contou que não é fácil viver dentro de um quartel, sem poder sair nem rever os amigos. O filho de 12 anos, ela viu pela última vez em abril. Às vezes recebe a visita da mãe. “Normalmente só converso com eles por telefone. Tenho saudade da minha vida anterior. Isto aqui é um pesadelo”, reclamou. Ela salientou que no início ficou totalmente escondida, mas alguns órgãos de imprensa acabaram descobrindo e noticiando, tornando seu esconderijo público. “Hoje não tem lugar seguro para mim. Acho que nem aqui dentro já que denunciei policiais militares. Nove estão presos, mas têm muitos soltos. Tenho medo”, revelou.

Drama

Apesar do medo, ela não quer ficar confinada dentro do quarto. “Tenho vontade de sair, ver o que acontece lá fora. Não sei o que é pior. Voltar para casa, ir para um lugar onde ninguém me conhece ou ficar aqui. Acho que não existe lugar seguro para mim”, disse.

Ela era uma das mulheres que estavam marcadas para morrer, o que a motivou a denunciar. Apesar disso, não se arrepende de ter contado o que descobriu durante os meses em que conviveu com um dos acusados de integrar o grupo, Alceu Rodrigues, 31 anos, mais conhecido como B.A., que acabou sendo assassinado pelo grupo no dia 9 de maio deste ano, após ameaçar denunciar os crimes e os envolvidos, caso não o ajudassem. Alceu estava desesperado, já que estava com mandado de prisão decretado e sem dinheiro para contratar um advogado ou fugir.

A testemunha disse que começou a ser ameaçada quinze dias antes de procurar a polícia. “Não me arrependo de ter denunciado. O meu consolo é que hoje as pessoas de Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul e Itaperuçu não têm medo de andar nas ruas como antes. Hoje elas estão tranqüilas porque muitos criminosos foram presos e a população sabe quem está solto. O povo conhece os criminosos”, ressaltou. “Quanto a mim só vou ter paz quando a Justiça for feita. Vou ter que esperar. As autoridades vão ter que olhar para o povo”, acrescentou.

Continuam investigações dos crimes em Tamandaré

Vinte e três inquéritos referentes a assassinatos e outros crimes na região de Almirante Tamandaré continuam sendo investigados pela delegada Vanessa Alice, designada para apurar os crimes. Dezessete pessoas estão presas, mas outras podem ser indicadas e ter suas prisões decretadas.

De acordo com a delegada, o total de inquéritos era de 29. Destes, cinco já foram concluídos e o Ministério Público ofereceu denúncia e quatro estão em fase de conclusão. “Ainda tem muito trabalho pela frente. No decorrer das investigações posso solicitar novas prisões”, salientou Vanessa, que foi designada para apurar o caso de assassinatos de mulheres na região de Almirante Tamandaré em dezembro do ano passado. Desde então, acumula a função com a de delegada adjunta da Delegacia de Ordem Social.

Em abril deste ano, a delegada apurou a existência de uma megaquadrilha, responsável pelas mortes e com envolvimento com o tráfico de drogas, dinheiro falso e assaltos. Ela solicitou à Justiça, a prisão de aproximadamente 30 pessoas.

Vanessa informou que já foram concluídos os inquéritos de Vanessa Elker dos Santos, Joice Katoline de Vitte, Cleusa Aparecida Ferreira, Suzana Moura Gazani, assassinadas em Almirante Tamandaré. Os inquéritos das mortes de Maria da Luz Alves dos Santos e Carlins da Rosa Proença, não chegaram a ser concluídos porque o Ministério Público entendeu que havia provas suficientes para oferecer a denúncia. Em fase de conclusão estão os inquéritos dos homicídios de Davi Mendes Inácio, Clécio Daniel Ferreira da Rocha e Rodrigo da Rosa dos Santos. “Os trabalhos já estão em fase de conclusão”, ressaltou a policial.

Inquéritos

Vanessa Alice ainda trabalha no caso dos assassinatos de Michele da Rosa Correia (ocorrido em 1995, em Almirante Tamandaré) de Santina Soares Farias (morta em 1998 em Rio Branco do Sul), Neriane Rosário Veloso, Gilmara Rodrigues de Oliveira, Terezinha Rosa Barbosa, Maria Isabel da Rosa, Odete do Rócio Martins, Rosa Aparecida dos Santos, Lenita Machado dos Santos, Maria Helena de Azevedo, Natalina de Fátima Kapp, Nari Costa Farias, Cleide Mara Pocran, Maria de Lurdes Franco. Ela também investiga os homicídios, que vitimaram Davi Mendes Inácio, Alceu Aparecido André da Cruz. Além de dos desaparecimentos de Edivano Poli, que sumiu em Rio Branco do Sul, e Jacir Garcia, de saparecido há mais de cinco anos. “O Jaci matou o irmão do soldado Juarez Silvestre, que é está preso sob a acusação de integrar a quadrilha”, explicou Vanessa. Entre os casos também há de uma mulher, que teria sido violentada por integrantes do bando.

Ela ainda é responsável pelo inquérito em que Jacinto Carlos Correia e Arlindo Leite Ferreira, foram presos em flagrante assaltando o Banco Bradesco do Alto Quinze. Os dois também são acusados de integrar a quadrilha que agia em Almirante Tamandaré.

A delegada adiantou que está desenvolvendo várias diligências para apurar os casos, mas por enquanto prefere não divulgar os trabalhos para não atrapalhar as investigações.

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