Muita morte e pouca polícia

Uma pilha de 1.600 inquéritos antigos para despachar e uma série de assassinatos ocorrendo semanalmente para ser investigados consistem em um grande drama para os delegados e investigadores que trabalham na Delegacia de Homicídios. Poucos policiais e muitos inquéritos resultam em menos produtividade. Os papéis vão se amontoando em pastas, que por sua vez amontoam-se em volumes, que empilhados, cobrem uma pessoa de estatura média. Empoeirados, sem lugar para serem devidamente guardados, os inquéritos antigos vão entrando, um a um, para o rol dos insolúveis. Famílias desesperadas com a ineficiência da polícia cobram soluções para as mortes, que aos poucos vão caindo no esquecimento da sociedade e da própria polícia.

São raríssimos os casos de prisão em flagrante para autores de homicídio, já que a polícia sempre demora a chegar e quando chega, testemunhas e curiosos que normalmente se aglomeram ao redor do morto, nada querem contar. Todos tem medo de se envolver e mais tarde, quem sabe, se transformar na próxima vítima. A grande maioria dos crimes ocorridos na capital é motivada pelas drogas. Traficantes matam usuários que não pagaram suas dívidas. Usuários matam cidadãos comuns para conseguir dinheiro e comprar mais drogas. Essa é uma realidade rotineira.

Pouca gente

A DH possui apenas três delegados, cinco escrivães e 35 policiais, divididos entre o trabalho de investigação e o plantão. Parece um número alto de funcionários para uma única delegacia, mas não é, se for considerado número de habitantes de Curitiba (mais de 1,5 milhão) . “Não é só a Homicídios que está com falta de pessoal, nos distritos também falta gente, assim como nas delegacias do interior”, comenta o delegado Nabor Sotto Maior, delegado-chefe da Divisão de Investigações Criminais (DIC), responsável pela Homicídios.

Ele informou que muitos policiais estão pedindo a aposentadoria. “O processo é rápido e a reposição não acompanha”, salientou. Há 20 novos delegados, aprovados no último concurso, que estão se preparando na Escola Superior de Polícia para assumir delegacias. “Destes dois vão para a Homicídios”, garantiu Nabor. Ele lembrou que dois delegados da Homicídios pediram aposentadoria esse ano, o que diminuiu o quadro. Para quem ficou, aumentou o trabalho. Hoje, somente um delegado atende os casos que ocorrem diariamente, entre eles, assassinatos, suicídios, tentativas de homicídio e desaparecimentos. Outro cuida dos inquéritos antigos e o terceiro é o titular, ou seja, cuida da parte administrativa. Nessa semana o titular foi transferido para a Corregedoria da Polícia Civil e outro, já indicado, deverá assumir na segunda-feira.

que se acumulam na delegacia, e fica impossível investigar a todospu N;, em No ano passado haviam 1.300 inquéritos sem solução, que em menos de 12 meses pularam para 1.600. Por outro lado o número de policiais lotados diminuiu de 60 para 43. “Sem dúvida é muito trabalho para pouca gente, principalmente em uma cidade que tem mais de 1,5 milhão de habitantes e a vida está sendo banalizada. Agora se mata por qualquer coisa”, comentou um investigador.

Segundo dados estatísticos da própria Delegacia de Homicídios, cerca de 70% dos crimes estão relacionados ao tráfico de drogas. “O duro é que a prisão de traficantes é cada vez mais rara. Se combatessem o tráfico, sem dúvida diminuiria o número de homicídios”, disse o policial.

Delegado-geral promete resolver o problema

O delegado-geral da Polícia Civil, Adauto Abreu de Oliveira, prometeu que haverá agilização nas investigações dos crimes contra a vida. A mudança de comando da Delegacia de Homicídios, ocorrida nessa semana, deverá dar mais agilidade aos trabalhos investigatórios. “Alcimar Garret é um excelente delegado. Mas, o tempo que ele permaneceu na delegacia demonstrou não ter o perfil adequado para investigar crimes desta natureza”, salientou Oliveira. “Eu, por exemplo, gosto muito de investigar seqüestros. Nunca trabalhei na Homicídios. Talvez também não tenha o perfil adequado para esta tarefa. Acho que o delegado Garret se enquadra melhor na Corregedoria”.

Troca

Oliveira admitiu, porém, que uma simples troca de delegados não resolve o problema. “Isso não diminui a ineficiência”, salientou. Segundo o delegado-geral, o índice de resolução de crimes no ano passado foi de 40% e no período em que Garret permaneceu à frente da delegacia o índice baixou para 30%. A mudança, para ele, é uma tentativa de melhorar os índices. “Vassoura nova varre melhor”, brincou, ao afirmar que o delegado Stélio Machado foi indicado para assumir a Homicídios na próxima segunda-feira.

Pessoal

Oliveira disse que têm consciência de que é preciso mais policiais para investigar os homicídios. Hoje são dois delegados, além do titular, e cinco escrivães. “O delegado Stélio acredita que mais um delegado e mais um escrivão seria suficiente”, garantiu o delegado-geral. Ele prometeu que fará o possível para atender as necessidades dos policiais, de forma que eles possam efetivamente desenvolver investigações e chegar à elucidação dos crimes. Parentes de pessoas assassinadas, que há anos aguardam solução para os casos, têm esperanças renovadas a cada troca de delegado e a cada promessa feita.

Força-tarefa pode ajudar

Uma força-tarefa, formada por delegados de classes superiores, está sendo estudada pela direção da Polícia Civil para trabalhar em casos de assassinatos e prender seus autores. A informação é do delegado-geral, Adauto Abreu de Oliveira. A idéia surgiu em Londrina e está sendo adaptada para Curitiba. “Acredito que esta é uma forma de aumentarmos os índices de elucidações de homicídios”, acredita o policial. A força tarefa seria composta de delegados experientes em investigação. “Estamos determinando um estudo da eficácia de força tarefa. Hoje seria uma solução”, enfatizou.

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