Morte de empresário seria “queima de arquivo”

Apesar da pouca idade, o empresário Thierry Cassab Cipullo, 23 anos, assassinado na quinta-feira passada, tinha uma extensa ficha criminal. Ele respondia a 14 inquéritos policiais – a maioria deles por estelionato – e também por falsidade ideológica, porte ilegal de arma, apropriação indébita e formação de quadrilha.

Thierry, que era proprietário do restaurante Mamma Carmela e de uma pizzaria, tinha em seu nome inquéritos no 4.º Distrito Policial (São Lourenço), 3.º DP (Mercês), 8.º Distrito (Portão), 9.º Distrito (Santa Quitéria), e na Delegacia de Estelionatos. Thierry chegou a ficar oito meses detido, na carceragem da Dinarc (Divisão de Narcóticos), mas não respondia por tráfico de drogas. Esteve preso naquela especializada no ano passado, de onde saiu há dez meses, por falta de vaga na Estelionatos.

As informações são do delegado José de Deus Alves Pereira, da Delegacia de Homicídios, responsável pelo caso, e também da Sétima Vara Criminal, da Décima-Primeira Vara Criminal e da Delegacia de Estelionatos. “Trabalhamos com diversas hipóteses do que poderia ter motivado o assassinato. Todas devem ser analisadas”, ressaltou o delegado da DH.

Encomendado

José de Deus disse que uma das hipóteses é “queima de arquivo” e trabalha com a possibilidade do crime ter sido encomendado. Thierry teria sido ouvido pela CPI do Narcotráfico há dois anos e apontado nomes. José de Deus não descarta também a possibilidade de o empresário ter sido vítima de ladrões, apesar de considerar essa hipótese pouco provável, devido à ficha criminal do rapaz e às ameaças que ele vinha recebendo.

A Promotoria de Investigações Criminais do Ministério Público não confirmou se Thierry teria prestado depoimento sobre policiais civis corruptos, citados na CPI, ou mesmo sobre um episódio criminal de desvio de verbas da Polícia Militar. Este último caso veio à tona através de denúncias anônimas enviadas ontem à Tribuna do Paraná. O promotor Ramátis Fávero, da PIC, não retornou telefonemas da reportagem. As denúncias também davam conta de que Thierry usaria outros dois nomes falsos e já teria aplicado golpes em São Paulo e contra duas redes de supermercados.

Tiros

Na tarde de ontem, o delegado ouviu familiares de Thierry. Entre eles a mãe, Sônia Maria Cassab Cipullo, e a esposa, Isabela Cristina da Silva, que está grávida de quatro meses. “Recebemos a informação de que ele prestou depoimento na CPI do Narcotráfico e teria denunciado policiais, no ano de 2000. Analisando o local do crime, é pouco provável que tenha sido cometido por policiais”, salientou o delegado. O corpo do rapaz foi encontrado na tarde de sábado, dentro do porta-malas do BMW placa AGR-8000, que estava parado havia quase dois dias na Rua Desembargador Westphalen, quase esquina com a Rua Chile, Rebouças. Ele foi morto com três tiros.

Parentes informaram que Thierry saiu às 20h de quinta-feira após receber um telefonema e não voltou mais. “Ele costumava me telefonar de meia em meia hora. Achei estranho o desaparecimento. Não sei se ele estava sendo ameaçado porque não me contava, mas acho que era para não me preocupar. Às vezes ele esquecia de pagar uma conta e não me falava, para não me incomodar. Acho que porque estou grávida”, comentou Isabela. Quanto aos antecedentes criminais do marido, ela alegou que não tinha conhecimento. “Desde que estamos juntos ele se dedica à família e ao trabalho”, frisou.

Já a mãe de Thierry acredita que o crime foi praticado sob encomenda. Os criminosos levaram os documentos da vítima, o malote do restaurante, o toca-CDs do veículo e a chave do BMW. “Acho que levaram os objetos para despistar as investigações e a polícia acreditar que foi roubo. Mas se foi isso mesmo porque não levaram o carro e a jaqueta de couro?”, indagou Isabela.

Família recebe ameaças

Uma nova ameaça de morte foi feita no início da tarde de ontem para a família do empresário Thierry Cassab Cipullo, 23 anos. Por telefone e com uma ligação à cobrar, uma voz masculina disse: “Gostou do que viu? O próximo vai ser o pai dele”. O telefonema foi dado para o restaurante Mamma Carmela, situada no Jardim Schafer – de propriedade do rapaz -, e atendido pela tia de Thierry, que também é gerente da casa, Cássia Cassab. O pai dele, Marco Antônio Cipullo, que é dono de outra casa de massas em Curitiba, estaria providenciando proteção policial.

“Nós não sabemos porque ele foi morto e muito menos quem fez isso”, afirmou Cássia, bastante preocupada com a situação. “Mas parece que os autores ainda querem nos aterrorizar”, disse ela. Ontem à tarde, a mãe do empresário, Sônia Cassab Cipullo, foi ouvida na Delegacia de Homicídios e disse suspeitar que o assassinato foi uma “queima de arquivo”, uma vez que Thierry havia denunciado policiais corruptos na Promotoria de Investigação Criminal (PIC).

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