Sentimentos de dor, revolta e saudade uniram mais de 100 pessoas da Vila das Torres em uma missa, acompanhada de um manifesto pela paz, em memória dos dois jovens assassinados durante uma partida de futebol, no Boqueirão, no último dia 26.

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O ato de solidariedade fez com que moradores dos dois lados da vila – inclusive parentes e amigos das vítimas e dos agressores – estivessem juntos, pedindo que acabe a “guerra” existente por causa do tráfico de drogas.

Os organizadores prepararam bandeiras brancas, escrito paz, cartazes e camisetas com fotos dos garotos mortos, além de balões com mensagens para as vítimas.

Ciciro Back
Dolores: “todos nós queremos a paz”.

Segundo uma das organizadoras, a cozinheira Dolores Maria Parize, que reside ali há mais de 15 anos, vários conhecidos dela já foram assassinados “por conta da briga entre os dois lados da vila”.

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Agora, segundo ela, moradores de ambos os lados querem paz. “Não interessa de que lado a pessoa mora, o sentimento é o mesmo. Até os meninos que foram vítimas do tiroteio e os amigos dos que morreram não querem vingança, eles querem paz”, assegurou Dolores. Ela salientou que nessa guerra não há vencedores. “Sempre vai ter alguém querendo vingança. Alguém precisa tomar a iniciativa e optar pela paz”, concluiu.

Desabafo

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Um morador, que não quis se identificar, disse que na vila são mais de sete mil moradores que trabalham, pagam impostos e vivem honestamente, no entanto, as autoridades, principalmente a Polícia Militar tratam todos como se fossem bandidos.

“Precisamos de ajuda, precisamos ser vistos. Por isso não vamos deixar que mais inocentes sejam assassinados”, disse o homem. Segundo ele, “os temidos bandidos da Vila das Torres são alguns meninos, inconseqüentes, que não tiveram oportunidade de ser outra coisa”.

E completou: “É uma minoria que se envolve com o crime e o tráfico de drogas, mas nessa guerra, todos somos afetados. Ninguem sai de casa depois das 18h. Estamos presos dentro de nossas propriedades”.

Depois da missa, os moradores, acompanhados por um carro de som, caminharam pelas ruas, cantando e carregando os cartazes. “Vamos fazer outros eventos. Não podemos deixar que esse sentimento de revolta e tristeza vá embora”, conclamou uma mulher no comando da passeata.

Cicíro Back
O cartaz, na mão do bebê, dizia tudo.

Rivalidade

As gangues “de cima” e “de baixo”, separadas apenas pela Rua Guabirotuba, são apontadas como responsáveis pela seqüência de mortes. Durante o manifesto, os moradores citaram os nomes de pelo menos dez jovens que foram assassinados recentemente. A rivalidade -segundo a polícia – é motivada pelo tráfico.

O tiroteio que resultou em duas mortes, na semana passada, aconteceu nas arquibancadas do Estádio José Germano da Costa, durante a partida de futebol amador entre o Boca Juniors e o Expresso Azul, pela Copa Boqueirão.

Os atiradores invadiram o estádio, pularam o alambrado e seguiram em direção à torcida do Boca Juniors, formada basicamente por moradores da Vila das Torres. Atiraram em direção à multidão e fugiram.

Os tiros acertaram Claudenir dos Santos Sauer, 14 anos, conhecido por “Niti”, que morreu na hora, e Luiz Fernando Clovis da Silva, 15, apelidado de “Coquinho”, que foi socorrido e morreu no hospital. Outras oito pessoas ficaram feridas e foram hospitalizadas.

Quatro dias depois, três suspeitos foram detidos. Outras três pessoas (entre elas dois adolescentes) foram identificadas como responsáveis pe,lo tiroteio, porém permanecem foragidas.