Megaoperação prende grupo de extermínio que executou major

O assassinato do major Pedro Plocharski, 49 anos, ocorrido em janeiro deste ano, foi o ponto de partida para a desarticulação de um grupo de extermínio comandado por policiais do 13.º Batalhão de Polícia Militar. Depois de cinco meses de investigações, ontem a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e a Polícia Federal (PF) deflagraram a Operação Tentáculos, que cumpriu 27 mandados de prisão, entre eles de policiais militares, e 85 mandados de busca e apreensão – em Curitiba e região metropolitana -, e prendeu outras seis pessoas, sendo cinco em flagrante. A força-tarefa começou de madrugada, às 4h, e desmantelou a quadrilha formada por policiais, advogados e assaltantes, envolvida também com tráfico internacional de armas e drogas; roubo de estabelecimentos comerciais e transporte de valores; roubo e receptação de veículos, e organização de milícias armadas contra trabalhadores rurais sem terra.

Executaram a operação quase 400 policiais federais de diferentes estados, que chegaram em Curitiba em dois aviões da Força Área Brasileira (FAB).

No início da tarde de ontem, o governador Roberto Requião, em entrevista coletiva, revelou que logo após a morte do major, pediu ajuda ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que designou a Polícia Federal para organizar a operação. Plocharski foi assassinado pelo ex-aspirante a oficial da PM, Alberto da Silva Santos, que atualmente estava preso na Colônia Penal Agrícola (CPA), também acusado de ter provocado o incêndio criminoso contra a Promotoria de Investigação Criminal (PIC), em 2000.

Ele teria contado com a ajuda do ex-soldado da PM Moacir Possamai Girardi, que dirigiu o veículo usado no dia do crime, o Golf verde, placa IKF 6181. Os soldados da Polícia Militar Sandro Delgobo e Ari Camargo teriam dado cobertura aos assassinos. Todos estão presos. O motivo da execução de Plocharski, na época no comando do 13.º BPM, foi a descoberta da participação de Santos e Giradi na morte de dois traficantes da Cidade Industrial de Curitiba. O major foi assassinado no dia em que ordenou o recolhimento das armas dos policiais.

Apreensões

Além dos policiais envolvidos na execução, foi preso o traficante Eder de Souza Conde, acusado de liderar o tráfico de drogas na Vila Nossa Senhora da Luz (CIC). Com ele os policiais apreenderam R$ 19 mil em dinheiro, proveniente do comércio ilícito. Apesar de ser antigo conhecido da polícia – apontado como um dos maiores traficantes de drogas de Curitiba -, ele não havia sido preso antes por ter segurança garantida pelos policiais do 13.º BPM. O advogado de Eder, Peter Amaro, também teve mandado de prisão decretado, acusado de associação ao tráfico. Porém, até o inicio da noite de ontem ele continuava foragido. Um indivíduo identificado como "Sky", suposto policial militar que também compactuava com o tráfico, está foragido.

Um verdadeiro "mar de lama"

As investigações que levaram à Operação Tentáculos, desencadeada ontem pela PF, descobriu diversos crimes, entre eles a formação de milícias armadas para combater a ação de sem terra em Ponta Grossa. O caso veio à tona em abril com a operação Março Branco, quando o tenente-coronel Valdir Copetti Neves foi preso, acusado de chefiar o esquema.

A atuação de Neves em Ponta Grossa foi descoberta por acaso, durante as investigações da morte do major Pedro Plocharski, ocorrida em janeiro deste ano e que deram início à Operação Tentáculos. As interceptações telefônicas do equipamento Guardião comprovaram a ação do antigo comandante do Grupo Águia, em Ponta Grossa.

Além disso, a PF descobriu que Neves está ligado a uma empresa de segurança clandestina, chamada Sigilo. De acordo com o secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, esta empresa agia nos moldes das máfias chinesa e italiana. "Os policiais militares ligados a assaltantes planejavam e executavam roubos nos bairros do Sul da cidade (na jurisdição do 13.º BPM) e depois ofereciam aos empresários locais o serviço clandestino de segurança. Um verdadeiro absurdo", disse Delazari.

Segundo o delegado Luiz Alberto Cartaxo Moura, titular da Homicídios, suspeita-se que a mulher de Neves seja sócia da empresa clandestina de segurança.

Perigoso

O grupo era tão perigoso que as investigações da morte do major Plocharski tiveram que contar com a ajuda do Ministério da Justiça. Segundo o delegado, durante os trabalhos alguns delegados tiveram os telefones "grampeados" pelos integrantes da quadrilha. Porém, nenhuma providência foi tomada porque eles não chegaram a receber ameaças.

Além disso, a Sesp resolveu manter diversas estruturas do 13.º BPM que estavam envolvidas nos crimes para não levantar nenhum tipo de suspeita sobre as investigações. "Agora vamos promover uma verdadeira limpeza no 13, uma mudança de 180 graus", disse Delazari. O atual comandante do batalhão, major Irineu Ozires Cunha, que acabou de assumir o cargo, deve permanecer no comando.

Mortes

De acordo com Delazari, a quadrilha presa ontem é acusada de ter cometido pelo menos 40 assassinatos na região da CIC. De acordo com Cartaxo, ainda é muito cedo quantificar os crimes ligados ao grupo. "Teremos que verificar novamente todos os inquéritos de homicídios de autoria desconhecida, ocorridos nos últimos três anos na área da CIC", disse.

No entanto, o delegado informou que é quase certa a participação do grupo nas mortes de Eduardo Francisco dos Santos, Eva Antônia Silveira Costa, a "Evinha do Pó", e do policial civil Aparecido Lopes, o "Nego Cido" (veja quadro).

As investigações sobre o caso prosseguem pela Delegacia de Homicídios. De acordo com a polícia, outras pessoas ainda podem ser presas.

Mandados cumpridos até no Ahu

A operação cumpriu os mandados de busca e apreensão em residências, escritórios de advocacia, na Casa de Custódia de Curitiba (CCC), na Prisão Provisória de Curitiba (PPC), no Ahu, e no 13.º Batalhão. Lá, no setor do Serviço Reservado (P2) funcionava o "QG" da quadrilha, onde foram encontradas drogas, armas e coletes da Polícia Civil. Também foram apreendidos R$ 80 mil, computadores, material de informática, fitas de vídeo, documentos, armas de diversos calibres, munições, duas motocicletas e 15 carros, entre eles o Golf. Além de crack e folhas de coca, foram apreendidas 250 gramas da droga em pó.

Os presos foram encaminhados à Delegacia de Homicídios, onde foi montada a central da operação. Lá reuniram-se delegados do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), Delegacia Anti-tóxicos (Datox). Os presos estão sendo recambiados para várias delegacias, sendo os policiais militares levados ao Centro de Observação Criminológica e Triagem (COT), que possui uma ala especial para detidos da corporação. É lá que ficarão recolhidos os indivíduos apontados como os mais perigosos da quadrilha: Alberto da Silva Santos, Sandro Delgobo e Ari Camargo.

Afastado coordenador do Depen

O coronel Justino Henrique Sampaio Filho foi afastado de suas funções, ontem, da Coordenação do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen-PR), pelo secretário da Justiça e da Cidadania, Aldo Parzianello. Quem vai ocupar o cargo temporariamente é o engenheiro Luiz Carlos Giublin Júnior, diretor geral da Secretaria da Justiça e da Cidadania (Seju). A Seju não quis comentar os motivos, mas informou que a medida não altera o sistema.

Em outubro do ano passado, aproximadamente 200 agentes penitenciários ocuparam o prédio da Seju, no bairro São Francisco, com uma pauta de várias reivindicações, entre elas o afastamento do coordenador geral do Depen-PR.

Promoção após a morte

O major Pedro Plocharski será promovido a coronel e um busto em bronze, em sua homenagem, será colocado na próxima segunda-feira na sede do 13.º Batalhão da Polícia Militar, unidade que estava comandando quando foi assassinado. A intenção do governo é que a firmeza e a determinação do policial nas investigações de irregularidades que ocorriam no batalhão, situado no Portão, sejam símbolo para a conduta de todos os policiais militares do Estado.

"Ele descobriu o envolvimento de políciais militares do seu batalhão com o narcotráfico e com o crime organizado e identificou os autores de dois assassinatos. Foi morto por isso", disse ontem o governador Roberto Requião, em entrevista coletiva.

Advogado deve se apresentar

O advogado Peter Amaro de Souza, acusado de envolvimento com uma das quadrilhas de tráfico de drogas e com prisão decretada, prometeu se apresentar nas próximas horas. A informação é do advogado Cláudio Dalledone, que defende Peter. Dalledone avisou que antes de apresentar o seu cliente ele quer ouvir as fitas gravadas em interceptações telefônicas. "Não me contento só em ver as transcrições", afirmou.

Quanto às acusações que o secretário de Segurança Luiz Fernando Dellazari fez ao tenente-coronel Valdir Neves, também seu cliente, de comandar uma empresa de segurança clandestina, Dalledone rebateu: "Qualquer palavra que venha do secretário de segurança temos que ver com ressalva.

Voltar ao topo