Maior seqüestrador do Brasil é preso em Curitiba

Após um tiroteio que resultou na morte de um cão rottweiler e oito horas de nervosas negociações com policiais civis, militares e federais do Paraná e de São Paulo, o assaltante e seqüestrador Pedro Ciechieanovisk, 49 anos, foi capturado às 4h15 de ontem, em sua casa, na Rua Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, 696, Capão Raso. O criminoso, apontado como líder de uma quadrilha responsável por uma dezena de recentes seqüestros praticados em São Paulo, dono de uma fortuna avaliada em R$ 10 milhões, fez uma série de exigências para se entregar e em troca libertou o empresário João Bertin, 82 anos, que estava sendo mantido em cativeiro há 155 dias, no município de Assis (SP).

Velho conhecido da polícia paranaense, Pedro foi também o líder da quadrilha que assaltou uma fábrica de jóias em Campo Largo, em 1986. Preso naquela época, cumpriu uma pena de 7 anos de reclusão e depois foi encaminhado para a Justiça paulista. Lá cumpriu algumas penas e conseguiu fugir em 1995. Desde então passou a liderar a gangue que se especializou em seqüestros de empresários.

Boa vida

Desfrutando do dinheiro que extorquia das famílias das vítimas, Pedro comprou vários imóveis em diferentes cidades (Maringá, Teodoro Sampaio (SP) e Punta del Este, no Uruguai), e passava pouco tempo em cada um deles, para despistar a polícia. Há seis meses comprou a casa no Capão Raso, por R$ 150 mil, onde aparecia de vez em quando, sempre dirigindo carros importados, de grande valor, e se fazia acompanhar pela amásia, Maria de Fátima Mainardes, 43.

No ano passado, investigadores da Divisão de Narcóticos (Dinarc) de São Paulo grampearam alguns telefones de Pedro, descobrindo seu endereço no Capão Raso. Há dois meses equipes daquela divisão, com o apoio do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), procuravam monitorar a vida do criminoso.

No domingo, por volta das 20h, policiais da Dinarc cercaram a casa, junto com investigadores da Polícia Federal. Houve troca de tiros e o cão de guarda foi atingido e morto.

Medo

Cercado, sabendo que não iria conseguir escapar, o próprio seqüestrador telefonou para a Polícia Militar, avisando que iria ser morto por policiais federais. A PM deslocou mais viaturas até a residência. Em seguida, ele também exigiu a presença do delegado-geral da Polícia Civil, Adauto Abreu de Oliveira – o mesmo policial que em 1986 o capturou em uma casa no Jardim Schaffer, após o ousado roubo à fábrica de jóias -, para negociar sua rendição.

A princípio Pedro ameaçou matar sua mulher e se suicidar em seguida. Porém desistiu e quis a presença de seu advogado, que foi trazido de São Paulo às pressas. Num primeiro momento ele entregou um revólver calibre 38, uma das armas que usava. Somente às 4h15, quando finalmente decidiu se render, entregou aos policiais outro revólver e uma pistola calibre 0.40.

Sua mulher foi tirada antes da casa. Saiu com o rosto coberto e levando um cachorro no colo. Ontem à tarde ela foi interrogada no Cope, pelos policiais paulistas, e a informação que a polícia dispunha era de que seria colocada em liberdade, uma vez que não existe nenhum mandado de prisão contra ela.

Interrogatórios

Pedro, assim que saiu da casa, usando camisa, calça jeans, e um displicente boné colocado na cabeça com a aba para trás, conversou com o delegado-geral e seguiu imediatamente para a capital paulista, onde deverá prestar contas dos últimos seqüestros que comandou.

Liberdade

Entre as negociações – nas quais pedia que sua mulher não sofresse qualquer punição – ele prometeu libertar o empresário João Bertin, que já estava há seis meses em cativeiro, sendo o mais longo seqüestro registrado em São Paulo. Quando se entregou, determinou aos cúmplices que soltassem Bertin.

O empresário foi seqüestrado em seu sítio, quando se preparava para ordenhar as vacas, tarefa que cumpria todas as manhãs. Antes de Bertin, também o dono das cadeia de lojas Cem, Roberto Benito Júnior, foi seqüestrado pelo mesmo bando e ficou 120 dias em cativeiro.

Empresários eram as vítimas

Há quase duas décadas, Pedro Ciechieanovisk vinha agindo no Paraná e em São Paulo. Em setembro de 1986, ele foi preso por ter participado de um mega-assalto contra a fábrica de jóias em Campo Largo. Uma semana após o roubo, Pedro e Marco Aurélio Spíndola, apontados como os líderes da quadrilha, foram presos. Pedro foi condenado e cumpriu sete anos de prisão.

Já na década de 90, ele voltou a ser preso pela polícia paulista. Em 1995, conseguiu fugir da cadeia de Mongaguá, litoral sul de São Paulo. Desde então é apontado como um dos grandes coordenadores de seqüestros no País.

De acordo com o delegado Everardo Tanganelli, da Dinarc-SP, a quadrilha liderada por ele é apontada como responsável por pelo menos dez dos maiores seqüestros do Brasil. A polícia credita a quadrilha o cárcere dos empresários Girz Aronson, (proprietário das lojas G. Aronson), João Bertin (dono de um dos maiores frigoríficos do País) e Roberto Benito Júnior (um dos sócios das Lojas Cem). O último empresário citado permaneceu por 120 dias preso em cativeiro.

Investigações

Tanganelli estava atrás de Pedro desde junho de 2001, quando era delegado titular da delegacia de Sorocaba (SP). Nesta época, o filho de um empresário daquela cidade foi seqüestrado e dias depois apareceu morto com 14 tiros.

Em outubro de 2001 houve o seqüestro do empresário das Lojas Cem, na cidade de Salto (SP). As investigações desses dois casos apontaram semelhanças no modo de agir da quadrilha. A partir da detenção de dois integrantes do grupo, a polícia conseguiu apurar o nome de outros envolvidos e deu início a uma seqüência de prisões. Ao todo, segundo Tanganelli, 13 membros da quadrilha -composta por aproximadamente 30 pessoas- estão presos. A estrutura de funcionamento da gangue impressionou a polícia pois agia conforme células, mesma tática adotada por grupos terroristas. Para intimidar as famílias e forçar o pagamento de resgate, os seqüestradores apelavam para o lado emocional delas, enviando fotos do refém com armas apontadas para a cabeça.

A polícia paulista informou que Pedro está condenado há mais de 60 anos acusado dos crimes de seqüestro, tráfico de drogas e extorsão.

Autor do “assalto do século”

O “assalto do século”. Assim ficou conhecido o ousado roubo praticado pela quadrilha liderada por Pedro Ciechieanovisk, em 12 de setembro de 1986, contra a fábrica de jóias Carlos Sauro Guindani e Cia Ltda, situada à margem da BR-277, em Campo Largo. Depois de 40 dias de planejamento, a gangue – composta por nove indivíduos – invadiu a fábrica, rendeu 70 funcionários e realizou uma verdadeira limpeza, levando tudo o que havia no local em ouro, prata, jóias e pedras preciosas. O prejuízo foi estimado em 50 milhões de cruzados, moeda vigente na época.

O proprietário da fábrica entrou em desespero, pois o roubo o deixou falido. Seis dias depois, um telefonema anônimo dado ao Instituto de Criminalística informava os nomes dos autores do roubo e o endereço onde estavam escondidos. O delegado Adauto de Oliveira, então titular do 3.º Distrito Policial recebeu a informação (o esconderijo era em sua área de atuação), cercou o local e prendeu Pedro e o seu principal cúmplice, Marco Aurélio Spíndola, na época com 44 anos de idade e 105 anos de reclusão para cumprir. Todas as jóias foram recuperadas, bem como um verdadeiro arsenal composto por revólveres, pistolas com silenciadores e armas de cano longo, além de farta munição.

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