O que os filhos, principalmente os adolescentes, fazem longe dos pais é sempre um mistério. Se em casa se mostram de uma maneira, na companhia dos amigos, o comportamento pode ser completamente diferente.
Neste cenário é que surge o envolvimento com as drogas e com o crime. A conseqüência é uma geração de pais inconformados, que se questionam a todo o momento onde erraram na educação dos filhos.
Foi assim que a enfermeira Iraíde Costa dos Santos, sofreu uma das maiores dores de sua vida. No último dia 7, ela deu um abraço apertado em Carlos Alberto Galli Bogado Júnior, 19 anos, e dinheiro para que ele comprasse um par de tênis.
No dia seguinte, o rapaz iria a uma entrevista de emprego. Porém, horas depois de se despedir da mãe, Carlos foi assassinado a tiros quando tentavam assaltar a casa de policiais. ?Nunca imaginei que meu filho fosse capaz disso. Até hoje tento entender o que foi que aconteceu com ele?, desabafa Iraíde.
Carlos morreu ao lado de outro amigo, também assaltante. Outros dois envolvidos foram presos e um quinto membro do bando está foragido. ?Eram garotos que freqüentavam a minha casa, me chamavam de tia e eram muito educados. Nunca imaginei que fossem bandidos. Meu filho não gostava de trabalhar, mas duvido que ele fosse um criminoso?, disse a enfermeira.
Hipótese
Iraíde acredita que sabe o que afetou o comportamento do filho. Separada, o atual marido não gostava de Carlos e ela foi obrigada a comprar outra casa para ele morar com o irmão. ?Sempre dei muito amor para meus filhos, mas, infelizmente, Carlos sempre teve desvio de caráter. Furtava as minhas coisas e meu marido não admitia isso. Fui obrigada a me separar dele. Agora, luto para saber se este foi o único assalto que cometeu, se ele foi influenciado pelos amigos ou estava consciente do que estava fazendo.?
Mais comum do que se pensa
A experiência vivida por Iraíde é quase corriqueira e abala muitas famílias. Segundo o delegado Rubens Recalcatti, que por quatro anos chefiou a Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), a surpresa e a decepção dos pais de criminosos era algo corriqueiro na delegacia. Ele conta que, sempre quando um jovem de até 20 anos era detido, costumava chamar a família. ?Em muitos casos os pais não sabiam de nada e ficavam atônitos quando viam os filhos algemados. Muitas mãe defendiam os filhos e diziam que a culpa era das más companhias, enquanto os pais ficavam bravos e irritados?, descreve o delegado.
Entretanto, Recalcatti ressalta que havia uma situação em comum nestes casos: na maioria das vezes os criminosos vinham de famílias desestruturadas. ?Eram filhos de pais separados, que não gostavam de estudar ou trabalhar ou que tinham conflitos com padrastos?, conta o delegado.
Carinho como antídoto
Para a psicóloga Delma de Paula Souza, especialista em terapia comportamental e cognitiva, é no período da adolescência, quando os filhos começam a ganhar autonomia e liberdade, que deve aumentar a atenção dos pais. ?Para se inserir em um grupo, esses jovens são obrigados a fazer o mesmo que os amigos?, conta Delma, lembrando que é assim que surge a primeira experiência com as drogas.
A psicóloga afirma que os pais devem ficar atentos a mudanças de comportamento, principalmente o isolamento. Quando isso acontecer, o caminho é muita conversa, amparo e amor. Delma lembra que a má influência só tem força se o adolescente não cresce cercado de carinho e união. ?Ou ele convive com as pessoas sem fazer o mesmo que o grupo ou se insere em outro grupo?, conta Delma.
Amigos
A solução para evitar ?surpresas? é alimentar um diálogo sincero, trazer os amigos para dentro de casa e procurar saber quem são eles, entrando em contato inclusive com os outros pais. O ideal é discutir as relações conjugais longe dos filhos e não achar que o carinho se compra com presentes. ?Muitos pais que trabalham o dia inteiro acham que basta dar dinheiro ou comprar coisas para suprir a ausência. Isso não adianta. Basta chegar em casa, levar o filho para passear ou assistir a um bom filme. Fazê-lo se sentir amado é essencial?, finaliza Delma.


