Investigadas mais denúncias contra Neviton

A força-tarefa composta pela Promotoria de Investigação Criminal (PIC), Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas apresentou, na tarde de ontem, o material apreendido no escritório da empresa de assessoria e consultoria Vera Cruz, de propriedade de Neviton Pretty Caetano, e na chácara dele, situada em São José dos Pinhais. Foram recolhidas várias pastas com documentos provenientes do escritório que serão detalhadamente analisadas pelo Ministério Público e que podem comprovar os inúmeros casos de estelionato dos quais o empresário é acusado. Além disso, na chácara, foram encontradas uma pistola 380, uma espingarda calibre 12, uma caneta revólver calibre 22, munições de vários calibres e aproximadamente R$10 mil em dinheiro. Diante do material recolhido, o preso poderá ser enquadrado por extorsão, formação de quadrilha, estelionato e porte ilegal de arma. Neviton, que está preso no Cope, disse que vai falar sobre as acusações somente em juízo.

Os delegados Marcus Michelotto e Marco Antônio Goes (Cope) e Roberto Heusi (Delegacia de Estelionato) confirmaram que o detido possui mais de 20 inquéritos abertos na Polícia Civil e outras tantos na esfera cível, conforme já havia sido apurado pela Tribuna. Contudo, explicaram que a prisão ocorreu em virtude da queixa de extorsão praticada por Neviton contra o diretor de uma empresa, no final de março.

Extorsão

Além desse caso, onde há materialidade (provas), o Ministério Público investigará outras denúncias de extorsão. Segundo o promotor Luiz Eduardo Silveira de Albuquerque, Neviton utilizava do site www.tvinjustiça.com para vender a imagem de um programa sério e que estava a serviço da população, para defendê-la de casos lesivos. Entretanto, de posse das informações de vítimas que procuravam o escritório de sua empresa, Neviton as utilizava para chantegear a pessoa que teria lesado o seu “cliente”. Ele fazia isso através de matérias jornalísticas. “A TV Injustiça angariava clientes, pessoas que mais tarde poderiam ser vítimas”, contou o promotor.

Depois de conseguir as informações, o detido as colocava em seu site e entrava em contato com a pessoa citada na matéria, exigindo dinheiro para não fossem divulgados dados mais comprometedores. Foi agindo dessa forma que ele extorquiu o diretor da empresa Spaipa.

Outros casos ligados à grandes empresas também vão ser investigados, pois quando o site da TV Injustiça foi retirado do ar – ontem à tarde – constava em sua página matérias relacionadas a uma grande imobiliária da capital e de uma empresa de cosméticos bastante conhecida, que poderiam se transformar nas próximas vítimas. O promotor afirmou também que a PIC já foi procurada por, no mínimo, outras dez vítimas do estelionatário.

Briga

O caso de extorsão que levou Neviton para a prisão ocorreu no final de março. A ex-namorada de um diretor da Spaipa procurou a TV Injustiça para denunciar supostas agressões sofridas durante uma briga do casal. A equipe de reportagem daquele órgão providenciou imediatamente uma matéria. De posse desse material, iniciou a chantagem contra o diretor. De acordo com o delegado Michelotto, a quantia solicitada para o acerto era de R$ 300 mil.

Dentre as provas do crime apreendidas pelo Cope também está uma gravação de vídeo feita pelo próprio Neviton. Nela consta uma conversa entre a mulher supostamente agredida e Neviton. “A gravação mostra a mulher pedindo para que Neviton retire da internet a matéria envolvendo sua denúncia e ele se negando a fazer isso”, disse o delegado Marco Antônio Goes. Ainda, de acordo com o policial, a extorsão foi intermediada por um advogado.

Outro agravante contra Neviton é a acusação de tentativa de estupro contra a denunciante. Em uma das transações, a denunciante afirma ter sido levada para a chácara do detido e posteriormente para um motel.

Neviton foi preso na última sexta-feira, dia 7, no escritório onde funcionavam a TV Injustiça e a Vera Cruz Assessoria, na Rua Ébano Pereira, centro.

Mais casos investigados

Com a prisão de Neviton Caetano, a força tarefa organizada para esclarecer seus crimes, espera receber a visita de outras vítimas. Segundo o promotor, muitas delas tinham medo de retaliações e, por isso, não registravam queixas. O delegado Michelotto confirmou que o detido andava constantemente vigiado por seguranças armados. “Na chácara foi apreendido fardamento de um PM que fazia a segurança pessoal dele. O policial militar estava afastado de suas funções na corporação”, disse Michelotto.

O nome do detido também está envolvido em situações onde foram disparados tiros em um shopping de descontos e de um atentado contra um advogado. As armas apreendidas na chácara do preso vão ser periciadas para comprovar a participação delas nessas situações.

Diante de tantas acusações, o MP está investigando a possibilidade de uma quadrilha estar por trás desses crimes.

Advogados podem ser punidos

A participação de advogados que trabalharam para a empresa Vera Cruz e que, conseqüentemente, teriam ligações com os golpes aplicados por Neviton Caetano está sendo analisada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – secção Paraná. De acordo com Samuel Ricardo Silveira, presidente da Comissão de Fiscalização Profissional da OAB-PR, 27 advogados teriam trabalhado na empresa Vera Cruz, e eles serão investigados. “Os que tinham conhecimento ou que efetivamente participaram dos ilícitos praticados pela Vera Cruz devem ser responsabilizados. Há, inclusive, há possibilidade de exclusão”, afirmou.

Samuel contou que a assessoria recrutava normalmente advogadas recém-formadas. “Nesses casos, devido a inexperiência das advogadas, elas serão advertidas, pois os profissionais têm que ter ciência do local onde estão trabalhando”, explicou.

Serasa

Sobre a atuação da Vera Cruz – que prestava assessoria jurídica – Samuel disse que a empresa não tem condições de realizar esse tipo de serviço, pois tem alvará de funcionamento como representação comercial. Devido a apreensão de grande parte do material da Vera Cruz, a OAB-PR solicita aos clientes da empresa que procurem a Ordem para saber como agir, pois os inquéritos abertos pela Vera Cruz vão ficar parados. Grande parte dos processos gerenciados pela empresa dizem respeito a retirada de nome de pessoas inadimplentes da Serasa. Através de uma liminar, a Vera Cruz conseguia retirar temporariamente o nome dos inadimplentes da Serasa e cobrava como se tivesse resolvido o problema do cliente. “A pessoa tinha a ilusão de que tinha limpado o nome”, afirmou Samuel.

Além do golpe da Serasa, o MP investiga também a cobrança de valores por parte da vera Cruz de serviços judiciários que seriam gratuitos. “A empresa pedia gratuidade à Justiça, porém cobrava de clientes pelos serviços”, complementou o presidente da Comissão. A assessoria Jurídica da Vera Cruz nega as acusações.

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