As investigações sobre a queda do avião na Rua Nicarágua, nas proximidades do aeroporto do Bacacheri, sábado, não têm previsão para serem concluídas. O motor, os instrumentos do painel, o GPS e as cadernetas da aeronave foram recolhidos, mas as análises não iniciaram. Ainda não há informação se o acidente teve causa mecânica ou humana.

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O major Eduardo Michelin, oficial do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da 5ª Região (Seripa 5), explicou que, inicialmente, serão analisados os equipamentos recolhidos, para verificar se houve falha mecânica. Se for descartada a pane, o próximo passo será averiguar possibilidades de falha humana. O motor terá que ser aberto numa oficina credenciada da Aeronáutica e na presença de um engenheiro do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

O proprietário do avião, Marcelo Montezuma, já adiantou que não acredita em problema no motor. “Pode ter dado algo errado na decolagem. Não teve perda de potência do motor. A Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) já me passou todas as informações, já me liberou a aeronave”, disse Marcelo, em entrevista à rádio Band News. Ele ainda ressaltou que a aeronave foi revisada recentemente e toda a documentação estava em dia.

O major acredita que o problema ocorreu quando a aeronave estava em procedimento de decolagem, numa velocidade impossível de abortar, já que o piloto cumpriu corretamente o check-list antes do procedimento, como as verificações de pressão, combustível, potência do motor. A posição da hélice quando o avião caiu dirá se ela parou de funcionar no ar ou na hora que bateu.

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“Não sabemos quado as investigações serão concluídas porque dependemos de vários outros órgãos e disponibilidade dos profissionais envolvidos, como do engenheiro do ITA, dos laudos de necropsia e toxicológico do IML, entre vários outros”, analisou o major Michelin.

Co-piloto

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O Paraná TV primeira edição mostrou ontem um vídeo, feito com o celular do empresário Regilando Frez, que fez a viagem de Maringá a Curitiba, no vôo anterior ao acidente. As imagens mostram o piloto Cleber Luciano Gomes, 32 anos, comandando a aeronave, e o empresário Sílvio Roberto Romanelli sentado ao lado, no lugar do co-piloto, além de dois passageiros nos bancos de trás. O major explicou que a aeronave, um Cessna 177, prefixo PT-DLA, comporta apenas quatro pessoas e só exige a operação de um piloto. “Isso não impede de haver um passageiro sentado ao lado do piloto”, disse o major.

Ele ainda explicou que Romanelli tinha um número de inscrição na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que o autorizava a fazer o curso de pilotagem. Mas estava apenas nas aulas teóricas e ainda não tinha autorização para pilotar nenhum tipo de aeronave, nem mesmo de atuar como co-piloto.

Como parte das investigações, e também para dirimir a dúvida se Romanelli estava ou não co-pilotando, o Seripa 5 já solicitou a gravação da conversação entre a torre de comando e a aeronave. Segundo o major Michelin, já que o avião não possui caixa preta, porque pelo tipo e tamanho da aeronave, o equipamento não é exigido pela legislação, somente através da análise das conversas será possível verificar esta dúvida. As vozes na gravação serão identificadas e as condutas analisadas.

Perícia

As fotos tiradas no local do acidente vão ajudar na investigação. Mesmo assim, adiantou o major Michelin, pode não ser uma tarefa fácil, já que o avião foi bastante mexido para o socorro às vítimas, tanto por parte dos bombeiros, quanto por parte da população, antes da chegada do socorro. O major deve começar a análise das fotos hoje. Todo o restante da aeronave foi inventariado e entregue ao proprietário, para que repasse os pertences das vítimas aos familiares.

Também morreu o passageiro Mounir Saleh Brahim, 48 anos. Ape,sar de ter saído andando da aeronave, ele teve muitas queimaduras, ficou pouco mais de 24 horas internado e morreu domingo na UTI do Hospital Evangélico por uma parada cardíaca. A quarta vítima, Hélio Corrêa, permanece internado na UTI do Hospital do Trabalhador, com múltiplas fraturas. Apesar de estável, está grave, sem previsão de alta da UTI.

A aeronave tinha acabado de decolar do aeroporto do Bacacheri, por volta das 13h20 de sábado, com destino a Londrina, quando menos de um minuto depois de estar no ar, caiu na Rua Nicarágua, no jardim de uma casa, a pouco mais de um quilômetro do aeroporto.

Acidentes aéreos com mortes

Outros quatro acidentes com mortes aconteceram nas proximidades do aeroporto do Bacacheri, ou com aeronaves que partiram de lá, nos últimos 14 anos. Em outubro de 2011, o piloto Fábio Luiz de Almeida morreu ao colidir o avião que pilotava contra o solo. Ele participava do 6.º Festival Aéreo do Aeroclube do Paraná. Apesar de experiente em acrobacias, disse o tenente coronel Marcos Antônio dos Santos, oficial do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II), Fábio errou uma manobra e bateu contra o solo.

Em março de 2011, o farmacêutico/bioquímico Vitor Ascânio Caldonazzo, 68 anos, sofreu infarto pilotando o seu próprio monomotor e caiu na cabeceira da pista, na Rua Paulo Ildefonso Assumpção, no sentido contrário ao do acidente do último sábado, durante a decolagem.

Em outubro de 2003, uma aeronave com destino a Navegantes (SC), pediu autorização à torre para seguir a Paranaguá. Depois da autorização, o radar perdeu contato com a aeronave 15 minutos depois. Os destroços foram encontrados na Serra do Mar. O piloto e os três passageiros morreram.

Em dezembro de 2001, um piloto e um passageiro partiram para um vôo de treinamento de acrobacias. Houve pane no motor e o avião se chocou com o solo. Os dois morreram.