Prisões fervem

Internos agridem agentes e rebelião deixa três feridos

O princípio de motim na Colônia Penal Agroindustrial (CPAI), em Piraquara, no fim da tarde de quarta-feira (23), e a rebelião no 12.º Distrito Policial, em Santa Felicidade, na quinta-feira (24), expõem o barril de pólvora em que estão assentadas penitenciárias e carceragens. A rebelião no distrito terminou no início da tarde com três presos feridos e 30 transferidos para penitenciárias, além de celas completamente destruídas.

Na CPAI, durante esta semana, duas tentativas de entrega de armas, drogas, celulares, entre outros artigos para detentos em regime semiaberto foram barradas por agentes penitenciários, com apoio do setor de inteligência do presídio, porém, na segunda apreensão iniciou-se motim que deixou um agente ferido na cabeça e um veículo depredado. Seis presos foram punidos com o retorno ao regime fechado.

Pente-fino

A desordem começou às 16h30 de quarta-feira e terminou depois das 19h, com um pente-fino nas instalações, feito por policiais militares do Batalhão de Polícia de Guarda (BPGd) e do Comandos e Operações Especiais (Coe). Segundo dois agentes penitenciários, que pediram para ter o nome em sigilo, naquela tarde, colegas perceberam que dois presos estavam perto do portão dando cobertura para um terceiro, que carregava uma mochila com sete celulares e buchas de maconha. Três agentes o perseguiram e o marginal largou a mochila e se escondeu no matagal que cerca a Colônia.

Agentes usaram um Gol na perseguição e voltaram com o detento recapturado. Quando chegaram ao pátio novamente, foram atacados a pedradas por um grupo de internos. O fujão tentou se desvencilhar dos agentes, agredindo um deles. “Ele deu três cabeçadas no meu colega, mesmo assim, não conseguiu se livrar. Mesmo com as pedradas, que danificaram a Kombi onde estávamos colocando causador da confusão. Ele e outros cinco foram punidos pelos atos violentos”, descreveu um dos agentes.

Ainda segundo o agente, os detentos punidos fizeram ameaças de morte aos três agentes envolvidos na captura do fugitivo. De acordo com o diretor da unidade, Ismael Meira, três presos foram encaminhados para a Penitenciária Estadual de Piraquara e outros três para a Casa de Custódia de São José dos Pinhais.

Maconha e disfarces

O clima entre os agentes da CPAI era tenso desde o dia anterior. O setor de inteligência interceptou informações de que drogas seriam infiltradas na CPAI. Por volta das 5h40 de terça-feira, funcionários faziam ronda nas instalações quando encontraram uma janela do setor de esportes aberta. Chamaram apoio pelo rádio e no lado de dentro encontraram duas mochilas.

Em uma havia quase nove quilos de maconha e na outra, uma pistola 9 milímetros municiada, tintura de cabelo, água oxigenada, sete tesouras, uma navalha, duas caixas com lâminas de barbear, quatro pincéis e toucas de silicone usadas para pintar cabelo, um celular e balança de precisão. Todo o material foi apreendido.

Para o diretor da unidade, estas duas situações aconteceram porque 250 dos 1.378 internos da CPAI ainda estão sem trabalhar. “Estamos fechando parceria com o Porto de Paranaguá, que abrirá 90 vagas de trabalho para esses presos, além de convênios com outras empresas. Esperamos ocupar esta fatia da massa carcerária de nossa unidade para diminuir problemas disciplinares”, garantiu Ismael Meira.

Celas danificadas no DP

De acordo com os agentes penitenciários, existiam comentários entre os detentos que haveria rebelião em delegacias, como represália à apreensão das drogas e armas na CPAI. Na madrugada de quinta-feira, cerca de seis horas depois que a confusão em Piraquara foi controlada, presos tumultuaram a cadeia do 12.º DP e destruiram parte das celas. Três presos ficaram feridos. Pouco antes do meio-dia, irritados com as reivindicações não atendidas, os presos voltaram a se rebelar e o clima só esfriou com a transferência de 30 in,ternos para o sistema prisional.

“A carceragem ainda está lotada, mas acordo foi firmado anteontem entre as secretarias da Segurança e da Justiça para desafogar as delegacias lotadas em 45 dias”, comentou o delegado Vinicius Augusto de Carvalho. A promessa é que dentro deste prazo, 130 presos em delegacias da capital sejam transferidos para penitenciárias.