Foco no mais populoso

Instalação de UPS mobiliza mil policiais no CIC

Policiais Policiais civis, militares e guardas municipais terão trabalho árduo, junto aos moradores da Cidade Industrial, para implantar as unidades Paraná Seguro (UPS). Eles terão que resgatar a confiança da comunidade, amedrontada com os crimes e incomodada com a ineficácia da polícia. Serão instaladas quatro UPSs no bairro, que é o mais populoso de Curitiba, com 10% da população e quase 17% dos assassinatos.

Quando saíram de casa para trabalhar, na manhã de ontem, moradores e comerciantes perceberam a enorme quantidade de policiais. Alguns pensaram que um grande crime tinha ocorrido e olhavam desconfiados, outros acompanhavam as notícias pelo rádio e sabiam do que se tratava.

Saturação

O coronel César Alberto Souza, subcomandante da Polícia Militar, explicou que 1,3 mil agentes de segurança saturaram ontem a Vila Nossa Senhora da Luz, Moradias Caiuá, Moradias Sabará e Vila Verde, onde serão instaladas as unidades. Metade já havia iniciado a ocupação na noite de segunda-feira e outros 600 entraram no bairro às 7h de ontem. As equipes realizaram a presença ostensiva em 60 pontos do bairro.

As quatro foram palco de 21 assassinatos no primeiro semestre, 35% do total de crimes na CIC. A Vila Barigui, também uma das mais perigosas da região, que registrou oito homicídios no ano, não receberá uma unidade e a polícia não esclareceu se os policiais das UPSs poderão atuar nas outras vilas. Os policiais trabalham na filosofia do policiamento comunitário, em que é esperada a aproximação com a população e a união para o combate à violência.

Drogas

“Não é só a presença da polícia que vai resolver a insegurança por aqui. Os assaltos são praticados por pessoas que roubam para usar droga. O governo tem que investir no tratamento destes viciados, na prevenção do crime”, disse Marizete Cristo, dona de uma distribuidora de doces em frente ao terminal da CIC.

O coronel César informou que o projeto UPS também prevê a instalação de uma delegacia 24 horas, um juizado civil e criminal, além do apoio da prefeitura na instalação de novos equipamentos sociais e de atenção à saúde.

Comerciantes vivem tensão diária

Os comerciantes da CIC que conversaram com o Paraná Online ontem disseram que passam o dia tensos, esperando a hora de receber a “visita” dos marginais. No bairro, ter sido vítima de três ou quatro assaltos é natural quanto ver televisão.

Os donos da Taíssa Modas, na esquina das ruas Pedro Aleixo e Lodovico Kaminski, no Caiuá, reclamam que, mesmo com câmeras de segurança e vigilante na porta, a loja é roubada. Os ladrões encostam de carro e carregam roupas, principalmente as de marcas caras. Foram mais de 11 roubos, em pouco mais de dois anos. No último, o prejuízo foi de R$ 11 mil. “Tem horas que dá vontade de queimar tudo e ir embora de raiva”, desabafou Maria Nilda.

Maria registrou boletim de ocorrência de todos os roubos e levou imagens nítidas dos assaltantes e das placas dos veículos ao 11.º Distrito Policial e à Delegacia de Furtos e Roubos. “Não adiantou. Uma vez os marginais cruzaram de carro com uma viatura e os policiais nem viram que eram os assaltantes. Apontamos e gritamos que eram os bandidos e eles não ligaram”, reclamou a comerciante, que não acredita que a instalação da UPS irá resolver algo.

Moleques

“A situação é bem precária, são dois a três roubos por semana. E são todos moleques, que vêm em bando e armados. Enfiam a arma na cabeça dos lojistas e levam o que querem. Se os policiais ficarem por aqui mes,mo, será ótimo pra população”, afirmou Elisângela Américo, dona de uma casa lotérica, em frente ao terminal do Caiuá.

A comerciante Lúcia Batista também vive tensa. Ela administra uma lanchonete na esquina do mesmo terminal e disse que tem que baixar as portas para fechar o caixa, no fim da tarde, sempre com apoio do marido. “Os marginais chegam em grupo. Fica um de cada lado, um dando sinal pro outro. Uma vez, meu marido teve que pegar uma ferramenta e colocou debaixo da blusa pra fingir que estava armado. Se não, seríamos assaltados”, contou Lúcia.

Experiências negativas com PMs

Alguns comerciantes da CIC denunciaram que tiveram que fechar as portas, porque não aguentavam os assaltos e as visitas de policiais militares, que ofereciam “atenção” na frente do comércio em troca de comida. Segundo eles, geralmente são “cobrados” produtos alimentícios, como pizzas, carnes e outros gêneros de supermercados.

“Um lojista ofereceu pizza uma noite para uma equipe. Agora eles vão todo dia pegar pizza de graça”, denunciou um morador. “Alguns policiais militares abriram empresas de segurança particular (o que é proibido pra quem atua na área de segurança pública) e vêm na minha porta oferecer os serviços. Eu não aceitei. Pode vir o quanto de polícia for na minha porta, não confio mais”, reclamou outro comerciante, que também já sofreu dezenas de roubos.

Batalhão

Por ser um bairro com população maior que muitas cidades do Paraná, a CIC ganhará um batalhão exclusivo. O 23.º Batalhão terá sua sede no Parque dos Tropeiros. Viaturas e policiais do novo batalhão já circulam nas áreas de ocupação. Inicialmente, o 23.º BPM terá 120 policiais que acabaram de encerrar o curso de formação.

O início da implantação das UPS ocorreu em março, com no Uberaba. Em maio, foi a vez do Parolin, receber uma base.

Veja na galeria de fotos a situação.