Infância na mira da morte

Nos primeiros dias de 2005 um crime chocou os moradores e arrasou duas famílias do município de Colombo. No dia 19 de janeiro, fascinado pela jovem Josiane Taborda de Oliveira, 14 anos; Jairton Cardoso, 32, foi até a casa dela, mas não a encontrou. Josiane estava trabalhando como babá na casa de uma vizinha. O homem, que ficou conhecido por "mostro", a encontrou em uma residência, na Rua Maria Teresa Graboski, Jardim Guarujá, Colombo e invadiu a casa. Ele bolinou a garota, a esganou, atirou em seu peito e por fim a esfaqueou. Em seguida, amordaçou o menino Vinícius Nascimento Felix, 5, de quem Josiane cuidava. Jairton o deitou de bruços e deu um tiro em sua nuca. Iniciou-se então uma caçada ao "mostro" e dias depois ele foi preso. Moradores tentaram linchá-lo e, desconsolados, os pais de Vinícius se mudaram para o interior do Estado.

No dia 12 de março a covardia deu lugar a audácia, quando a falsa enfermeira, Márcia de Freitas Salvador, 32, invadiu o Hospital Evangélico, entrou na enfermaria e seqüestrou a pequena Gabriele. Ela alegou que precisava levar o bebê para fazer exame de sangue. Assim que percebeu-se tratar de um seqüestro, o retrato falado de Márcia foi divulgado e dois dias depois ela foi presa pelos investigadores do Sicride. Márcia disse ter decidido seqüestrar uma criança porque sofreu um aborto espontâneo de um filho gerado com o ex-namorado. Logo o relacionamento terminou e a falsa enfermeira viajou para São Paulo. Márcia escondeu ter sofrido o aborto, engordou 10 quilos e, para finalizar a história da falsa gravidez, "arrumou" um bebê na data prevista para o nascimento. No entender dela, um filho seria um meio de reatar o namoro.

Entre os casos mais intrincados registrados pela polícia em 2005 destacou-se o do casal Any Paula Fascolin, 29, e Nilson Moacir Cordeiro, 32. No dia 8 de março o filho do casal, de apenas sete dias, morreu vítima de uma infecção generalizada, provocada por suposta violência sexual. O casal foi acusado de ter praticado o crime e ficou mais de 160 dias preso. No dia 20 de dezembro eles tiveram a prisão relaxada por excesso de prazo e agora lutam para provar a inocência.

Em agosto, foi a vez da barbárie em família chocar. Com ciúmes da enteada, Andreia de Freitas, 27, na época grávida, assassinou Gabriela Moreira dos Santos, de apenas 7 anos, com mais de 90 facadas. O crime aconteceu na Rua Simão Bolívar, Hugo Langue, no dia 22, quando depois de tentar atear fogo na criança, a madrasta a esfaqueou. Horas depois ela foi descoberta pela polícia e presa em flagrante. Levada ao sistema penitenciário, Andréia deu a luz a outra menina. O motivo do crime segundo a assassina: "Gabriela falava demais".

Violência urbana atinge inocentes

Sem eira nem beira, a violência nas cidades invadiu casas, matou inocentes e tirou o sossego das famílias. Entre os trágicos exemplos está a "chacina de Almirante Tamandaré", ocorrida em 12 de novembro. Três adolescentes armados com pistolas e facas invadiram uma casa, mataram um rapaz e um bebê e feriram mais duas pessoas da mesma família. Os marginais procuravam por Anderson Alves, 18 anos, que morreu junto com a filha de sua namorada, de um ano e sete meses. A namorada, 17, e sua mãe, Dircelene Alves, 41, ficaram gravemente feridas e com cicatrizes psicológicas eternas.

Já para a pequena Nicole Escorequi dos Santos, 6, e seu tio, Edson Pedroso da Silva, 48, a morte estava na rua e veio em cima de uma moto, em 2 de agosto.

Edson seguia para a casa, no Bairro Alto, acompanhado da sobrinha e do filho, de 8 anos, quando dois criminosos se aproximaram e começaram a atirar. Tio e sobrinha foram baleados e morreram no local. Por um milagre o filho de Edson, saiu ileso dos disparos.

Balas perdidas tiraram a vida de muitos que nada tinham com as "broncas" de bandidos e irresponsáveis. O garotinho Ogacir de Paula Júnior, 13 anos, foi uma das vítimas inocentes, em 3 de janeiro. Ele participava de um aniversário em uma lanchonete, quando um casal começou a discutir e o indivíduo a atirar. Um dos disparos atingiu o garoto que morreu depois de ficar dois meses hospitalizado.

Nem mesmo as brincadeiras na rua, normal a toda criança, puderam ocorrer tranqüilas pelas ruas de Pinhais. Marcelo Augusto de Lima, 6, brincava na Rua Rio São Francisco quando levou um tiro, em 28 de agosto. Os autores dos disparos, presos 15 dias depois, discutiam dentro de um carro, quando passavam pela rua, e atiraram, acertando a criança.

Chamas consomem vidas

O fogo também destruiu vidas em 2005. Pelo menos três crianças morreram queimadas em seus lares. No dia 10 de setembro um incêndio destruiu duas casas na Rua Santa Bárbara, Vila Nova, Jardim Osasco, em Colombo. Não se sabe o que teria começado o fogo, que demorou horas para ser apagado, deixando entre os escombros brinquedos e desenhos feitos pelas irmãs Kauane Naiara da Silva Luz, 6 anos, e Keyte Nayra da Silva Luz, 8. Elas morreram queimadas porque não conseguiram sair da residência, uma vez que estavam trancadas. Antes da chegada dos bombeiros, vizinhos tentaram, em vão, evitar a tragédia, jogando água com baldes e mangueiras.

No dia 6 do mês seguinte, a filha de 10 meses do casal Marli de Fátima Pancheski e Edenilson Calixto morreu carbonizada dentro da residência durante um incêndio acidental, possivelmente provocado por curto-circuíto. Érica Luana Calixto de Oliveira estava no berço, no quarto dos fundos, quando aconteceu o incêndio. Gabriel, de 4 anos, foi  retirado a tempo. O incêndio aconteceu na Rua João Bley Filho, Pinheirinho.

Crimes cometidos em família

A mão que balançou o berço foi a mesma que matou em dois casos. A doméstica Luíza Souza Regis, 26 anos, doente de depressão, envenenou a filha Larissa, de 3 anos, e depois se matou. Ambas tomaram veneno misturado com iogurte, em 14 de dezembro, no bairro Cachoeira, Curitiba.

Já em São José dos Pinhais, em novembro, Mirton José Medeiros, 35 anos, matou a tiros sua filha, Daniela, 15, e feriu a filha da garota, de um ano e oito meses. Mirton era pai e avô do bebê, resultado das relações sexuais que mantinha com Daniela. Depois do crime, Mirton se matou.

Filhos

Um garoto, de 17 anos, colocou a culpa em forças demoníacas pelo assassinato de sua mãe, a enfermeira de 34 anos, que morreu degolada enquanto dormia. Ao ser preso, ele prometeu matar o pai também. O assassino é filho único e usuário de drogas. O crime ocorreu em abril.

No mesmo mês, uma garota, de 16 anos, arquitetou o assassinato de sua mãe, uma comerciante de 42 anos, em Campo Magro. Foram detidos Márcio Andrei de Morais, 21, e Diogo Ventura dos Santos, 18, acusados de terem participado do crime. A mulher foi morta a golpes de cano de ferro. A garota alegou, como motivo do crime, que a mãe desaprovava o relacionamento dela com Márcio.

Irmão

Brincadeira irresponsável se transformou em tragédia no Uberaba. Em fevereiro, um garoto de 16 anos matou o irmão, de 11, quando brincava com um revólver, calibre 38, lixado. A procedência da arma não foi descoberta. O menino levantou a mão para se defender do tiro, mas o projétil atravessou-a e atingiu a cabeça da criança. Os dois estavam no quarto que dividiam na residência.

No silêncio do lar

A casa que deveria ser o refúgio da criança contra os perigos das ruas se transforma, muitas vezes, no seu pesadelo. Em São José dos Pinhais, uma menina de 9 anos passou dois anos sendo abusada sexualmente por seu pai. O caso só veio à tona em fevereiro. Ela contou que o pai a obrigava a fazer sexo anal. O acusado já havia cumprido pena por estupro e vivia com a mulher, a criança e outros filhos.

No mesmo município, uma menina de 7 anos foi raptada pelo pedreiro Silmar da Luz Santos, 29, em dezembro. O homem a violentou e foi preso dentro de um galinheiro depois de perseguido por moradores. Outra menina, de 10 anos, foi retirada da guarda da mãe depois que a polícia comprovou que ela era conivente com os estupros praticados por seu amásio. Na delegacia de Pinhais, em julho, quando o crime foi descoberto, o casal alegou que a menina teria mantido relações sexuais com um "namoradinho".

Porém, nem sempre há motivação sexual para a violência doméstica. Em janeiro, vizinhos denunciaram o padrasto de um garoto de 9 anos que batia nele constantemente. Com marcas profundas nas costas, o caso foi levado à polícia. O garoto e os irmãos apanhavam do padrasto, assim como a mãe deles.

Desaparecidas

Bruna Eduarda Alves, 2 anos, foi encontrada morta em 2 de setembro. Há sete dias desaparecida, ela sumiu quando brincava no quintal de casa. Sem sinais de violência no corpo, sua morte tornou-se um mistério.

A artesã Maria Emília Cacciatore Florêncio, 38, e a filha Vivian, 3, também sumiram misteriosamente, em 4 de março. Maria foi encontrada morta cinco dias depois e Vivian continua desaparecida.

José Airton Pontes, autor de pelo menos 30 crimes de violência sexual contra crianças em vários estados brasileiros, foi preso em novembro quando confessou ter matado Jéssica Morais de Oliveira, 8, e Renato Renan Poronizack, 6.

Mistério sem fim

Outro caso assustou moradores de Fazenda Rio Grande. Na tarde do dia 12 de dezembro, Jaqueline Veslei de Lima, 10 anos, foi encontrada morta em um matagal. A menina tinha um corte profundo no peito, próximo ao coração, e a faca de cozinha usada no crime foi deixada cravada em sua barriga. A criança estava nua, mas exames descartaram abuso sexual. Ainda não se chegou a algum suspeito.

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