?Impacto? fatal!

Os serviços prestados pelas empresas de segurança eletrônica permaneciam no anonimato até o último dia 17, quando funcionários da Centronic foram presos acusados de assassinar o estudante Bruno Strobel. Ontem, outra empresa do mesmo segmento, a Impacto, envolveu-se em um assassinato que por pouco não resultou em chacina, o que leva a supor que a truculência pode fazer parte do cotidiano das empresas do setor. Segundo a Delegacia de Homicídios, a Impacto é uma empresa clandestina, uma vez que não tinha autorização da Polícia Federal para funcionar. Na madrugada de sábado, o pintor Sidnei Costa Rodrigues, 24 anos, estava em uma festa com a esposa, Ediane Ribas, 18, na casa de um amigo nas Moradias Rio Bonito, Tatuquara. Ele viu quando o carro da Impacto passou a rondar o local e resolveu ir embora, uma vez que há 15 dias era perseguido pelos vigilantes. Ao entrar em seu veículo, uma Ipanema, começou a ser perseguido. ?Eles nos abordaram, apontaram a arma e disseram que tinha chegado a vez do meu marido morrer. Com medo, Sidnei acelerou e eles começaram a atirar?, contou Ediane, que estava no banco da frente. Quatro amigos do casal pegavam carona no banco traseiro.

Daniel Derevecki e Fábio Alexandre
Na sede da Impacto, vigilantes foram presos em flagrante.

Sidnei fugiu em alta velocidade e teve o carro crivado de balas. Os seguranças atiraram no pneu, o pintor perdeu a direção e bateu em uma mureta. ?Ele saiu correndo em direção a um mato e dois vigilantes que estavam no carro foram atrás dele. Enquanto isso, outros dois seguranças, que estavam em motos, chegaram e mandaram eu e nossos quatro amigos nos deitarmos no chão?, contou Ediane. Em meio a confusão, a jovem e um dos rapazes foram liberados.

Assassinato

De repente ouviram-se mais tiros e os gritos de Sidnei, indicando que ele tinha sido baleado. Os demais seguranças, que cuidavam dos três amigos do casal, também correram para o mato. O trio aproveitou para fugir com a Ipanema. Sidnei já estava morto e os seguranças voltaram a perseguir o carro, atirando novamente. Os rapazes, então, bateram em um poste. ?Eles acharam que, com a batida, os três tinham morrido e foram embora?, contou Ediane.

Assim que confirmaram a morte de Sidnei, os familiares foram até a Delegacia de Homicídios e registraram queixa. Pela manhã, os investigadores entraram na sede da empresa, na Rua Marcos Bertoldi, e detiveram quatro funcionários. Lá, eles apuraram que o autor do crime seria o proprietário da Impacto, Alisson Daniel Martins, 30 anos. Até a noite de ontem ele era caçado pela polícia. Alexandre Lima, 34 anos; Juarez Osório Lopes, 39; Silvio Rogério Favero, 29, e Nilton Antônio Zanlorenzi Fotela, 25, foram presos por co-autoria do assassinato.

Perseguição implacável há 15 dias

Daniel Derevecki e Fábio Alexandre
Vários tiros foram disparados contra a casa do pintor.

A empresa de segurança Impacto concentra suas atividades no bairro Tatuquara. Tanto o pintor Sidnei quanto toda a sua família contratavam os serviços para proteção de sua casas, por um mensalidade de R$ 10. Sidnei voltou a morar no bairro em julho passado e, há cerca de 15 dias, mesmo sendo cliente, era perseguido pelos vigilantes, segundo seus parentes.

Sidnei trabalhou três meses em Angola (África) como pintor, e costumava mandar dinheiro para esposa e a filha de um ano. Em julho, ele voltou e continuou no mesmo ramo, em Curitiba. A origem da briga com a empresa tem várias versões. Alguns dizem que Sidnei arranjou confusão em um supermercado protegido pela Impacto e, ao ser abordado pelos vigilantes, os teria desacatado. Outra versão é que ele teria brigado com a esposa e alguns vizinhos acionaram a empresa para apartar a discussão, ocorrendo então uma briga com os vigilantes. Um terceira hipótese é que o pintor era conhecido como um morador encrenqueiro e que perturbava os vizinhos que pagavam pelos serviços da Impacto. Por este motivo, os vigilantes estariam perseguindo o pintor.

O que a polícia tem de concreto é que, no dia 17 último, alguém atirou várias vezes na casa de Sidnei. ?Eu estava fazendo o jantar e por pouco os tiros não pegaram em mim e na minha filha?, contou Ediane, mostrando 13 marcas de tiros nas paredes e na porta da casa. Testemunhas afirmaram que os disparos foram feitos pelos vigilantes da Impacto. No último domingo, Sidnei foi levado para dentro da empresa e agredido até as 2h da madrugada. Ele registrou boletim de ocorrência e fez exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal.

História se repete

Mara Cornelsen

O estudante Bruno Strobel Coelho, 19 anos, filho do cronista esportivo Vinícius Coelho, desapareceu no último dia 3, depois de assistir a uma partida de futebol pelo telão, no Estádio Couto Pereira. Naquela noite, ele foi flagrado por vigilantes da Centronic pichando o muro de uma clínica médica, no Alto da XV. O estudante foi levado para a sede da empresa de segurança, no mesmo bairro, e torturado. Em seguida, amordaçado e amarrado, foi levado para Almirante Tamandaré e assassinado num matagal, com dois tiros na cabeça. O corpo de Bruno foi encontrado dia 8. Três funcionários da empresa foram presos e a Centronic corre o risco de ser fechada.

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