Guerra dos bicheiros alerta autoridades

A denúncia de que os bicheiros de Curitiba estão em pé de guerra com concorrentes que querem trabalhar com máquinas de jogo eletrônico e que a qualquer momento poderá ocorrer uma seqüência de assassinatos por conta da disputa pelo poder está mobilizando as autoridades estaduais e federais da área de segurança.

Uma carta, com nove páginas, repleta de informações e acusações que vão desde fraudes até homicídios e lavagem de dinheiro, foi enviada para oito diferente órgãos para que alguém tome uma providência. Ainda ontem, bicheiros de Curitiba estiveram reunidos durante toda a manhã, na cooperativa criada por eles, para discutir o assunto, porém até o fim da tarde nenhum deles se manifestou sobre as denúncias.

Pistoleiros do Rio de Janeiro e do Espírito Santo – estes ligados à Escuderia Detetive Le Coqc – já estariam na capital paranaense, aguardando ordens para eliminar alguns dos “escolhidos” pelos chefões do jogo do bicho, de acordo com a denúncia. Além de revelar detalhes de todo o esquema ligado ao jogo, a carta ainda indica autores de assassinatos recentemente ocorridos na capital e no litoral do Estado e fornece informações sobre lavagem de dinheiro e um esquema envolvendo a Caixa Econômica Federal.

Códigos

Praticamente todos os pontos de jogo do bicho de Curitiba e região funcionam anexos às casas lotéricas (até bem pouco tempo funcionavam dentro do estabelecimento, o que foi proibido pela Caixa Econômica Federal). Sendo assim, a maioria dos bicheiros também é proprietária de loterias. De acordo com a denúncia, para se adquirir um loteria oficial é necessário participar de uma licitação de códigos oferecidos pela Caixa Econômica. A fraude acaba acontecendo na compra dos códigos, pois um dos líderes da cooperativa dos bicheiros, através de contatos dentro da CEF, consegue adquiri-los. Mais tarde, os revende para quem estiver interessado em montar uma lotérica, mas não o transfere legalmente.

Quando a lotérica começa a dar lucro – fato que é descoberto pelos bicheiros através de um gerente da CEF que tem acesso a toda a movimentação bancária das loterias – eles tomam o estabelecimento do proprietário, que na realidade nunca foi dono de verdade do negócio, já que o código não lhe pertencia legalmente. A carta-denúncia aponta os nomes de alguns lotéricos que perderam tudo para a cooperativa e que conhecem bem o esquema.

Lavagem

Lavar o dinheiro ganho na ilegalidade do bicho e dos caça-níqueis não é problema para os líderes da cooperativa, segundo a denúncia. Um dos processos seria uma expressiva venda de cartões telefônicos e raspadinhas. Depois de ser feito um lastro destes produtos, são simulados assaltos ou desvios feitos por funcionários não identificados, que são relatados à polícia e a Serlopar, mas que acabam não investigados.

Uma construtora, uma empresa de motoboys e outra de reparos de fogões à gás também estariam sendo usadas como fachada para lavagem do dinheiro. E, por fim, milhares de dólares são levados para o Paraguai, todos os meses e de lá seguem para outros países. Agentes policiais fariam a escolta destas quantias. Homens da Receita Federal facilitam a passagem do dinheiro e declarações de imposto maquiadas dariam a face final para a trama.

Comandos

Todos os nomes do líderes do jogo do bicho foram revelados na carta, assim como os dos indivíduos – inclusive mulheres – que integram as quadrilhas responsáveis pelos homicídios, roubo de máquinas de vídeo-loteria, desvio de cargas e dos demais delitos denunciados. Delegados e outros policiais também foram citados. Alguns, inclusive, já estão presos graças a investigações realizadas pelo Ministério Público e Polícia Civil.

A expectativa agora é de que a denúncia evite a “matança” que está sendo prometida e que as autoridades investiguem rigorosamente tudo o que está ocorrendo em torno do jogo do bicho, que, de uma simples contravenção penal, tolerada pela polícia, pode estar se transformando em um jogo de poder e morte.

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