Turismo do terror

Grupo é assaltado em trilha e filma ação de bandido

Um grupo de montanhistas foi assaltado no Caminho do Itupava, trilha turística que corta a Serra do Mar, entre Quatro Barras e Morretes, na tarde de sábado. O único bandido armado que atacou os jovens levou dinheiro, carteiras, celulares e outros pertences de valor e ainda obrigou um dos montanhistas para ajudar a carregar os produtos. O jovem foi liberado numa parte da trilha e ninguém ficou ferido. Uma das vítimas estava filmando o lugar e registrou o momento em que o assaltante chega, descendo a trilha, e dá um tiro para o alto. O vídeo foi postado na internet.

Uma das vítimas, estudante de engenharia civil, contou que pela primeira vez percorreu a trilha, com um grupo de 11 amigos. Depois de cerca de 10 minutos de caminhada, o grupo parou na primeira cachoeira da trilha para fazer fotos, onde encontraram outros cinco turistas. Quando todos estavam reunidos posando para as fotos, o assaltante desce a trilha. Possivelmente por ter se desequilibrado, acaba dando um tiro para o alto. Nesse momento, a vítima que filmava o grupo para de gravar e nas imagens o bandido aparece apenas do pescoço para baixo. Uma fotografia também foi tirada segundos antes do bandido atirar para cima. Um dos jovens aparece nesta foto olhando para cima, pois tinha acabado de perceber o ladrão armado se aproximando.

O bandido fez os 11 jovens deitarem no chão e tomou deles diversas coisas de valor. Alguns jovens conseguiram esconder celulares, o que permitiu manter a filmagem do início do roubo e a fotografia. Ninguém teve como escapar, já que aquele trecho da trilha terminava na cachoeira e todos ficaram encurralados. O rapaz que primeiro percebeu a chegada do ladrão é que foi levado como refém, mas liberado pouco depois sem ferimentos.

Decepção

A universitária relata que o grupo foi surpreendido pela falta de consideração de funcionários do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que ficam num posto de atendimento no início da trilha e trataram o crime como normal. “Esperávamos mais compreensão e auxílio por parte das pessoas que trabalham lá e da polícia. Tanto um quanto outro nos deram a entender que esse tipo de coisa acontece e que deveríamos ficar felizes por estarmos bem. É claro que estávamos felizes por estarmos vivos e sem ferimentos, mas isso não diminui o fato de que fomos assaltados de forma violenta e que se o assaltante tivesse entendido mal alguns de nossos movimentos a situação poderia ser muito pior. Quando escutamos policiais dizendo que devíamos estar preparados já que aquele é um lugar frequentado por pessoas de todas classes, me choca”, relatou a estudante. “Não entendo de trilhas, mas sei reconhecer quando um lugar não tem preparo para receber turistas. A trilha do Itupava não tem!”

Em entrevista à RPCTV, o comandante da Polícia Ambiental, César Lestechen, disse que há patrulhamento no Caminho do Itupava, inclusive nos fins de semana, mas, pela extensão, não é possível cobrir toda a trilha. Ele ainda disse que este é o segundo assalto na trilha neste ano e que, pelas características, pode ser o mesmo ladrão nos dois casos.

Identificação difícil

O grupo de montanhistas procurou a delegacia de Quatro Barras, para registrar boletim de ocorrência, mas tiveram de relatar o ocorrido em folhas de papel em branco, sentados no chão, do lado de fora, com a porta da delegacia trancada. O delegado Osmar Feijó explicou o que, nos fins de semana, a delegacia não atende o público por segurança. O local tem carceragem para apenas oito pessoas, mas abriga 37 presos, muitos deles considerados perigosos. Por isto, os policiais são orientados a não abrir a porta para ninguém no fim de semana, para evitar fugas e arrebatamentos.

Como o delegado estava na delegacia, autorizou o boletim de ocorrência. “Fizemos apenas um BO e dei aos jovens as folhas, para que cada um relatasse quais pertences foram levados. Eu mesmo conversei com todos lá fora e o,s atendi bem”, explicou Feijó.

O delegado ainda contou que recebeu por e-mail a filmagem feita por um dos jovens e a encaminhou à prefeitura e à Polícia Militar para que verificassem a possibilidade de reforçar a segurança nas trilhas. Feijó ainda disse que a breve imagem do bandido no vídeo não revela seu rosto e será quase impossível identificá-lo.