Tumulto

Grávida pára o trânsito no centro de Curitiba

A rotina de quem mora, trabalha ou passa pela Praça Osório foi alterada na tarde de ontem. Grávida de cinco meses e completamente transtornada por um problema amoroso, Emanuele Gabardo, 21 anos, estagiária da Secretaria Municipal Antidrogas, paralisou o centro.

Por quatro horas e meia, ela ficou com o carro parado em frente ao prédio do namorado, aguardando a saída dele para atirar no rapaz. Filha de policiais militares – o capitão Mário Luiz Fonseca, do Regimento de Polícia Montada, e a soldado Silvana Gabardo, da Central de Operações da Polícia Militar (Copom) – suspeita-se que ela estivesse portando uma pistola calibre ponto 40, da corporação. Depois de furar o bloqueio policial no local e fugir, ela se entregou.

Pouco antes das 16h, Emanuele parou o Siena preto placa APA-8216, no meio da rua, bem em frente ao prédio de seu namorado, o Edifício Comendador Vasconcelos, entre a Rua Voluntários da Pátria e a Alameda Cabral. Telefonou para ele, pedindo que descesse, e ficou aguardando.

Guardas municipais perceberam a ação de Emanuele através das câmeras de segurança instaladas na praça e se dirigiram para lá. Policiais do 12.º Batalhão, que cobrem aquela área, também foram acionados. Com a aproximação policial, de dentro do carro, a jovem atirou contra o chão. Depois disso, apontou a arma contra sua própria cabeça, ameaçando disparar.

Isolamento

Guardas e policiais rapidamente isolaram cerca de 70% da Praça Osório, para evitar que a jovem  acertasse alguém, caso atirasse novamente. Uma ambulância do Siate ficou de prontidão. A partir disso, negociadores do Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia de Choque, foram chamados.

Junto com a mãe de Emanuele, o capitão Sampaio, do Coe, ficou por mais de quatro horas negociando com a jovem. Ela fez algumas exigências, a principal delas, a presença do namorado, morador do 10.º andar do edifício. Ele acompanhava tudo de longe, mas os negociadores acharam por bem não colocá-lo diante dela, sob risco do rapaz ser ferido a tiros.

Depois de muita histeria e várias manobras da estagiária com o Siena, às 18h45, policiais colocaram uma garrafa de água em cima do capô, mas ela não pegou. Às 19h30, ela saiu do carro com a arma apontada para seu pescoço. Andou ao redor do carro e, dez minutos depois, retornou ao Siena.

Passados quatro minutos, novo susto. Ela saiu do carro gritando muito, sempre com a arma na mão. Policiais se assustaram e se jogaram ao chão. Em menos de dois minutos, a praça passou por um isolamento ainda maior. Ficou com cerca de 90% bloqueada.

Bloqueio

Às 20h25, Emanuele deu mais uma ré no carro, telefonou para a mãe e a irmã, e decidiu furar o bloqueio da Polícia Militar, na intercessão com a Alameda Cabral. Pouco depois de meia hora, a PM confirma que a jovem se entregou, mas não revelou detalhes sobre o desfecho. Ela teria se encontrado com a mãe, sem a presença de policiais, que a levou diretamente para internamento numa clínica, não identificada até o momento.

“Baile” no cerco policial

Allan Costa Pinto
Pessoas foram retiradas protegidas pela PM.

O bloqueio montado para evitar a fuga de Emanuele era composto por apenas duas viaturas do 12.º Batalhão, um carro atravessado do lado direito da rua, e uma moto, encostada junto ao meio-fio.

Diante do espaço entre os dois veículos, Emanuele optou por derrubar a moto, bater em outras duas viaturas na Alameda Cabral – que não bloqueavam a rua – e seguir adiante. Virou à esquerda na Alameda Doutor Carlos de Carvalho e subiu a Rua Visconde de Nácar, em sentido ignorado.

Policiais saíram em seguida e a perseguiram por um trecho, até que o comandante da Pol&iacut,e;cia de Choque, o major Chehade Elias Geha, optou por deixar que apenas duas viaturas descaracterizadas, do serviço reservado do Batalhão de Choque, a acompanhassem. Mas numa determinada altura, os policiais a perderam de vista.

Entrevista

Apesar de Emanuele conseguir escapar muito facilmente do cerco policial montado para contê-la, o major Chehade afirmou que “tudo que podíamos fazer foi feito”. Em rápida entrevista, ele também não confirmou se a pistola que a jovem usava pertencia à corporação. “Da distância que estávamos não era possível fazer essa verificação.”

Emanuele pode não ficar presa, mas deverá ser indiciada em inquérito policial por porte ilegal e disparo de arma de fogo. Seus pais também poderão responder a procedimento interno na PM, para verificar se a pistola que ela usava pertencia ou não à corporação, e como foi parar nas mãos de alguém não habilitado a manuseá-la.

Transtorno geral

Diante do risco iminente de Emanuele dar outros tiros no local,algumas pessoas foram tiradas de dentro dos comércios protegidas por escudos da Polícia de Choque. Quem trabalha ou mora nos edifícios da região, não pôde sair de casa. Já quem chegava para descansar, também não pôde entrar.

Grupos de vários moradores – de crianças de colo a idosos, e até animais de estimação – se aglomeraram na Boca Maldita, esperando o desfecho da ocorrência para poder descansar em casa.

Prejuízo

Alguns comerciantes terão grande prejuízo pelas horas que ficaram sem atender o público. O dono de um café calculou que deixou de vender cerca de R$ 600,00 ou R$ 700,00 durante as mais de quatro horas que ficou sem clientes.

Segunda vez

Emanuele não se conformava com o fim do namoro. Na semana passada, quando o rapaz encerrou o relacionamento, ela tentou se matar pela primeira vez. Também armada, ela tentou disparar contra a cabeça.

O chefe de Emanuele, o secretário municipal antidrogas, Fernando Francischini, foi chamado à casa da família. Negociou com a jovem, retirou dela a arma e amenizou a situação. Diante da gravidez, a jovem tentou, ontem, reatar o namoro.