Parte considerável dos menores infratores que passam pela Delegacia do Adolescente (DA) e pelo Centro de Socioeducação (Cense) do Tarumã sequer tem o nome do pai registrado na certidão de nascimento. Outra parte, também grande, dos que possuem o nome nos registros, não têm qualquer vínculo com o pai. A constatação mostra que o desequilíbrio familiar destes jovens é um dos principais fatores que os levam ao crime.

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Na maioria dos casos, quem acompanha os filhos infratores são as mães ou outras figuras femininas da família. São poucos os homens que assumem o papel de pai e vão ajudar a resgatar o filho da delinquência. Na maior parte dos casos, diz a delegada Paula Brizola, da DA, a quebra da estrutura familiar é o principal fator destes jovens caírem no mundo do crime.

Controle

São pais que perderam o controle sobre os filhos, que já se envolveram com drogas, saíram de casa e vivem longe da família. “Quando esses jovens caem aqui na DA, os pais acham que o Estado tem o dever de agir nesta situação, de obrigar o filho a voltar para casa, a parar de usar drogas. Na verdade, é um trabalho que tem que ser feito em conjunto, entre Estado e sociedade, mas principalmente a família”, analisou a delegada.

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Ela ainda verificou que, boa parte dos casos que chegam à DA são resolvidos com orientações ao infrator e à família. “Mostramos ao jovem que ele tem seus direitos, mas que também possui deveres para com o Estado e a sociedade”, disse Paula. A delegada explicou que há mulheres que cumprem muito bem o papel de pai e mãe ao mesmo tempo e que o importante para a criança e o adolescente é que exista alguém que saiba dar limites, amor, cuidado e atenção.

Perspectiva

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A assistente social Sueli Silva, que atua no Centro de Socioeducação (Cense), do Tarumã, reforçou que a adolescência é uma fase em que os pais precisam ter atenção dobrada sobre os filhos. “É quando eles estão começam a ampliar a rede de amizades. Ainda há muita imaturidade, curiosidade, aceitação do grupo de amigos. Aí estão os riscos”, analisou.

Em seus 25 anos de experiência com menores infratores, ela orienta que pais devem acompanhar e monitorar a vida dos filhos, saber quem são as companhias, estar presente na escola, acompanhar os estudos, conhecer a forma de comunicação do filho e o que o deixa feliz, o que o entristece.

Sueli diz que se depara muito com jovens que sequer sabem o que desejam para suas vidas, sem qualquer perspectiva para o futuro. “A gente faz aquela pergunta ‘O que você quer ser quando crescer?’ e eles dizem: sei lá”, relatou a assistente social. Ela orienta que essa pergunta seja feita às crianças pelos pais até a adolescência, pois leva o jovem a pensar no futuro e criar perspectiva, em vez de pensar em entrar no mundo do crime.

Diálogo é essencial pra intimidade

Para a psicóloga Lilian Mara Gheno, que atua na Delegacia do Adolescente, os pais tem muita dificuldade em dialogar com os filhos. “Tem que conhecer o filho tão bem a ponto de só olhar e já perceber quando algo está errado”, diz. A profissional entende que, como ainda é estão em idade de formação de caráter, há tempo de mostrar o que é certo e errado.

Lilian orienta os pais a conviver com o filho. “Converse, pergunte como foi o dia, o que fez, com quem esteve. Aos poucos, a intimidade vai surgindo. O importante não é a quantidade de tempo que se passa com os filhos, mas a qualidade”, orienta. A psicóloga acrescenta que não adianta cada membro da família estar um em cada canto, mexendo no celular, computador, tablet ou assistindo televisão. “Tem que observar o jeito do filho, dialogar, brincar, rir. Essa hora também pode ser usada para chamar atenção, ensinar o certo”.

Necessidade

Lilian explica que muitas veze,s os pais não percebem que o filho não está precisando de mais um moletom de marca, de um celular mais moderno, mas precisa de afeto. “Às vezes a gente escuta os pais dizendo ‘me mato de trabalhar, para não faltar nada para ele. Ele tem de tudo, não precisava fazer isto’”.

A psicóloga também ressalta que não é a escola que tem que educar a criança e o adolescente. “Educação quem dá é pai e mãe. A escola serve só para ensinar conteúdo”. Nesta linha, ela diz que também é obrigação dos pais dar limites aos jovens. “Alguém na família tem que fazer o papel disciplinador. Se não, quem vai fazer isto é o traficante do bairro, o policial, o juiz. Os pais precisam retomar o seu papel, trabalhar valores”, alertou Lilian.

Visita especial na PCE

Na Penitenciária Central do Estado, que abriga cerca de 1.600 homens, o Dia dos Pais não teve programação especial, mas as visitas puderam levar comidas especiais para celebrar a data. A assistente social Vera Regina Barreto contou que em média, 150 filhos visitam os pais encarcerados. Muitos dos presos sentem falta do contato com seus filhos, mas outros preferem que eles não convivam com a realidade da penitenciária.

Vera lembrou a história de uma menina, que costumava acompanhar a mãe nas visitas. Porém, o casal se separou e pai e filha perderam o contato. Anos depois, já adulta e com sua própria família, a jovem voltou a procurar pelo pai, preso por outro crime. Com autorização especial, pois a moça não tinha a identificação paterna nos documentos, os dois tiveram reencontro emocionante entre os muros da PCE.

Adolescência

A assistente social ressaltou que, crianças pedem para ver o pai e acompanham a família nas visitas, mas, quando se tornam adolescentes deixam de ir à PCE, muitos por vergonha ou preconceito.