Filha mantinha mãe presa na sujeira

Os gritos de socorro e gemidos de dor de uma mulher de 84 anos, que era trancada em casa pela própria filha, levaram a polícia a desvendar torturas que já duravam quatro anos. Às 22h30 de segunda feira, Alaíde do Rocio Ribeiro foi resgatada por bombeiros, que, ao arrombarem a porta, se depararam com uma cena deprimente: a idosa, caída no chão, em meio a fezes e urina e ?acompanhada? por seis cachorros e dois gatos.

A comida estava sobre o penico, também repleto de fezes. A filha dela, Eliane do Rocio Ribeiro, 55, que chegou depois que a casa foi arrombada, será indiciada por tortura, maus-tratos e cárcere privado.

Mãe e filha se mudaram há dois meses para aquela casa na Vila São Pedro, no Xaxim. Desde então, Eliane saía cedo de casa e deixava a mãe trancada, com correntes nas portas, até tarde da noite. Os vizinhos demoraram a descobrir que ali morava uma senhora.

Gemidos

Foram os gritos de socorro, os gemidos de dor e as batidas na parede que chamaram a atenção. ?Avisamos uma assistente social, mas ela bateu na porta e, como ninguém abriu, foi embora.

Não acreditou que tinha uma velhinha presa ali dentro?, contou a vizinha Gisele Cristina Alves. Outros vizinhos disseram ter chamado a Polícia Militar e a Polícia Civil, mas nada tinha sido feito. Na noite de segunda-feira, bombeiros atenderam a ocorrência. ?Quando eles arrombaram a porta, vimos como ela vivia.

O vaso sanitário estava entupido, o cheiro era insuportável, o colchão rasgado e a comida no penico. Nem um porco era capaz de viver ali?, contou outra vizinha, Roseli Aparecida. O caso foi encaminhado ao Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), onde a filha foi interrogada ontem.

?A situação era deprimente. Iremos indiciar Eliane pelos crimes, o que poderá resultar em sua prisão nos próximos dias?, contou o delegado Francisco Caricati. Alaíde foi levada para a casa dos outros filhos, em Araucária.

Filha diz que denúncias são falsas

Na delegacia, a filha de dona Alaíde, Eliane, estava tranqüila. Ela disse que as denúncias não são verdadeiras e que trancava a casa para que ninguém entrasse e roubasse suas coisas. ?Tenho uma vizinha que se mete na minha vida e foi ela quem fez a cabeça da minha mãe contra mim?, disse, referindo-se à mulher que tentou ajudar a senhora, dando banho nela várias vezes.

Quanto à sujeira e ao mau cheiro, Eliane alegou que foi armação de seus irmãos e vizinhos. ?Foram eles que invadiram minha casa, entupiram o vaso sanitário e espalharam fezes pelo chão. Fizeram isso só para me prejudicar?, disse Eliane, garantindo que tratava a mãe muito bem e que é uma pessoa asseada.

Indução

Já a outra filha de Alaíde, que preferiu não se identificar, disse que a mãe foi induzida a ir morar com Eliane. ?Minha irmã dizia que iria levar ela passear, e comprar coisas. Tudo para ficar com a aposentadoria dela. Hoje ela está em uma cadeira de rodas?, contou.

A filha disse que desconfiava dos maus-tratos e que procurou a polícia várias vezes, sem sucesso. ?Nenhum policial quis me ajudar. Disseram que eu precisava de testemunhas dos maus-tratos, para que pudessem tirá-la da casa. Finalmente isso aconteceu?, finalizou.

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