Angústia da espera

Família de desaparecido mantém esperança

No próximo dia 13 de fevereiro completa-se cinco meses do desaparecimento do engenheiro Renato Brandão, de 54 anos. Desde então a sua esposa não deixa de acreditar, um dia sequer, que seu companheiro voltará vivo pra casa.

“Não posso e não consigo pensar de outra maneira. Existem várias hipóteses e possibilidades, mas eu tenho que e quero acreditar que ele um dia vai voltar”, diz Miriam Weiss Brandão, de 44 anos.

Renato desapareceu no dia 13 de setembro do ano passado. Era uma manhã de terça-feira quando o engenheiro saiu da casa da família, na rua Colombo, no Ahú, para um passeio de bicicleta. Nos primeiros dias após o desaparecimento, a família e a própria polícia acreditavam que Renato tinha saído para uma caminhada.

“Só vimos ele com a bicicleta quando tivemos acesso às câmeras dos prédios vizinhos. Ele não costumava andar de bicicleta. Tanto que a bicicleta que ele usou no dia era uma antiga, que estava na casa dos pais dele. A bicicleta nova dele estava em casa. Por isso nem desconfiamos”, relata Miriam.

O dia a dia da família Brandão segue sob à sombra do desaparecimento de Renato. Miriam trabalha numa empresa do ramo hospitalar e dedica quase que todo o seu tempo livre para divulgar fotos do marido nas redes sociais. “É o que me resta e o que eu posso fazer. Faço de tudo para a história não cair no esquecimento”, diz.

Religião

A filha Thais, de 14 anos, também tenta continuar a vida e, segundo a mãe, com sucesso. “Nos preocupávamos com desempenho no colégio, mas surpreendentemente ela passou a se sair melhor nas matérias”, conta. Ainda de acordo com Miriam, essa maturidade da filha se deve ao fato de Thais ter começado a frequentar um centro espírita meses antes do desaparecimento do pai.

“Além da ajuda da família e amigos da escola, o pessoal desse centro espírita também ajudou muito. Até eu passei a ir lá”, revela. Miriam ainda conta que foi a diversos centros esotéricos na esperança de escutar uma boa notícia. “Teve boa notícia e teve notícia ruim também. Cada um falava uma coisa. Teve um que disse que o Renato voltaria antes do Natal, outro disse que ele já estava em outro plano”, conta.

Sonhos e telefonemas

Desde o desaparecimento do marido, Miriam conta que sonhou apenas uma vez com ele. Em casa, durante o dia a dia, também não sente a presença dele. “Muitas vezes na rua eu me pego observado o rosto de todo mundo, na esperança de ver ali naquelas pessoas o rosto do meu marido”, afirma.

O celular de Renato ainda está ligado e na posse de Miriam. Durante os quase cinco meses do desaparecimento, ele tocou em quatro oportunidades e em todas ela era engano. “Não pra dizer que é algumas coisa e também procuro não pensar nisso”.

Tranquilo e dedicado à família

Ao ser questionada sobre o comportamento de Renato, Miriam faz questão de desmentir que o marido sofria de depressão e já havia sumido de casa algumas vezes antes do desaparecimento. “Muito se falou nisso logo após o ocorrido. Saiu até em alguns veículos de imprensa, mas não existe verdade alguma nisso”, desabafa.

De acordo com ela, Renato era um homem tranquilo dentro de casa e no trabalho e vivia para a família. “Como ele trabalhava em casa, ele convivia muito com a gente. Nas relações de trabalho, sabíamos que ele era tranquilo e muito dedicado. Ia a poucas reuniões’, diz.

Há pouco mais de dois anos, o pai de Renato, Dr. Hélio Brandão, médico que foi professor da Universidade Federal do Paraná, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, desde então, ele dedicava boa parte do seu tempo cuidando do pai. “Renato praticamente passava o tempo todo lá, e até durante a semana ia bastante à casa dos pais.

Carros e música

As duas grandes paixões de Renato eram a música e carros antigos. Na garagem da casa dos pais, ele mantinh,a um Galaxy 1961 e um Passat 75. Segundo Miriam, ele passava horas cuidando dos automóveis e sempre que o tempo estava bom costumava sair pra passear com os possantes.

A música também fazia parte da família Brandão. Renato estudou piano clássico e sempre que podia, praticava em teclado elétrico que mantinha no escritório. “Além dos clássicos, ele adorava tocar músicas de bandas como Supertramp e Beatles. A filha Thais estudou violoncelo e por algumas vezes pai e filha se apresentavam para família e amigos. “Era linda de ver”, completa Miriam.

“Eu acredito que ele está vivo”

Miriam não pensa duas vezes e é taxativa ao responder sobre o que aconteceu com marido. “Muita coisa pode ter ocorrido com ele. Assalto, assassinato, atropelamento… Mas eu ainda acredito que ele está vivo”, revela, emocionada. “Passo finais de semanas inteiros divulgando fotos na internet porque preciso acreditar que ele um dia vai voltar”, conta.

Uma das maneiras de lidar com o problema é falar muito sobre o assunto. Para ela, não se trata de um sofrimento, mas sim uma maneira de divulgar a história. “Não tem pessoa que eu encontre que o assunto não caia no Renato. E eu sempre falo e respondo tudo. É o jeito que eu tenho de manter a história viva na cabeça das pessoas.

Nas reuniões familiares o tema das conversas sempre acaba no desaparecimento de Renato. “É inevitável. Não tem com não chegar nesse assunto. Sempre que estamos juntos, acabamos falando do Renato, procurando entender o que e como aconteceu tudo. Enfim, é algo que acabamos que nos acostumando.

Última notícia

Na manhã do último dia 4 de janeiro, numa quarta-feira, Miriam recebeu um telefonema da delegacia de Bocaiúva do Sul, Região Metropolitana de Curitiba. No outro lado da linha um oficial confirmou que uma ossada foi achada na região ao lado de óculos escuros e botas de montanhismo.

A descrição batia com as vestimentas que Renato usava no dia do desaparecimento, mas até o laudo oficial do Instituto Médico-Legal sair, a agonia foi grande na Rua Colombo, no bairro Ahú. “Assim é a nossa vida agora. Sempre esperando por uma notícia. Seja boa ou seja ruim”, desabafa Miriam.