Ex-viciado quer ajudar presos do Ahu contando sua história

Dez anos depois de abandonar o vício das drogas e lutar para recomeçar a vida, Emerson Luiz Ribatski, 42 anos, vai trabalhar como voluntário no Programa de Ressocialização Bem Viver, que está sendo desenvolvido na Prisão Provisória do Ahu, em Curitiba. Sensibilizado com a situação de detentos usuários de drogas – muitos foram parar na cadeia justamente por causa do vício, como foi o caso do próprio Emerson – ele pretende levar sua história de vida aos presos e mostrar que é possível mudar. “Fui ao fundo do poço. Levei uma vida desgraçada durante o tempo que consumi entorpecentes. Mas mudei e é isso que quero contar aos outros e tentar ajudá-los”, explica.

Sem nenhum constrangimento Emerson exibe enormes hematomas nas pernas, locais onde aplicou injeções de cocaína milhares de vezes. Revela até que tem feridas nas virilhas que ainda não cicatrizaram, devido as “picadas” que auto-aplicava. “Cheguei a usar uma agulha muito grossa, normalmente utilizada em procedimentos cardíacos, para aplicar a droga em uma veia que passa ao lado do estômago, pois já não tinha mais onde furar”, contou.

Drama

A história de Emerson é tão dramática como a de qualquer usuário de drogas. Filho de uma boa família, estudou em bons colégios, tinha bens materiais, até que conheceu a maconha. “Aos 13 anos de idade eu achei um pacote com quase um quilo de maconha, em um terreno baldio, próximo de onde morava. Algum traficante deve tê-lo escondido ali. Mostrei aos amigos e passamos a consumi-la. Dessa forma entrei para o mundo negro do vício”, conta.

Alguns anos depois Emerson já estava usando cocaína – “uma droga leva à outra”, lembra ele – e aí começaram os internamentos. Ele se transformou no “inferno” da família. Passou por várias clínicas de recuperação e nada deu resultado. “Eu fingia que estava bem, para ganhar alta e voltar ao vício”, confessa. Como não trabalhava, costumava arrombar cofres de telefones públicos para furtar as fichas telefônicas.

Cadeia

Depois de centenas de arrombamentos, Emerson foi preso em flagrante pela Polícia Militar e conduzido ao 3.º Distrito Policial. Era fevereiro de 1994. Então com 32 anos, ele pesava pouco mais de 40 quilos e sabia que iria morrer a qualquer momento. Já havia sido ressuscitado algumas vezes por amigos usuários de drogas e acreditava que aquele era o seu fim.

“Na delegacia eu decidi me dar a última chance. Pedi para ficar preso, que não me soltassem tão logo. Fui para o presídio do Ahu, cumpri minha pena e foi lá que descobri que poderia viver sem as drogas. Nasci de novo”, conta Emerson, que agora quer levar sua história de vida aos presos viciados, para ajudá-los a trilhar o mesmo caminho. Casado pela segunda vez, pai de dois filhos, Emerson faz palestras em colégios, empresas e em outros locais para onde seja convidado. Mantêm um site na internet -www.temconserto.kit.net – e seu e-mail é ribatskiemerson@pop.com.br.

Força de vontade e voluntariado

O Programa de Ressocialização Bem Viver está sendo implantado na Prisão Provisória de Curitiba, no Ahu, graças a iniciativa do diretor Lauro Valeixo, que conta com o apoio de vários voluntários. O objetivo, como o próprio nome diz, é dar chance de ressocialização aos detentos, promovendo atividades que possam auxiliá-los no momento em que saiam da cadeia. Estão sendo desenvolvidas oficinas de mosaico e pintura – esta é ministrada pelo artista plástico Oséias Leivas Silva, que cumpre pena por latrocínio – música e teatro.

Outras oficinas como de medicina natural, saúde preventiva, estão em projeto. Ainda é desenvolvido um trabalho de conhecimento pessoal, desenvolvimento de senso crítico e colocação perante a sociedade. As pessoas interessadas em participar do programa podem fazer contato através do telefone 313-3700.

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