Ex-presidiário revela como saiu do mundo das drogas

Aos doze anos, o carioca Luiz Carlos Leite, conhecido como “Luizinho do Pó”, entrou para o submundo das drogas. Na década de 80 chegou ao apogeu, tornando-se traficante internacional, angariando uma fortuna que lhe rendeu fama, sucesso, poder e cadeia. O então conhecido “playboy de Ipanema” (RJ), hoje com 48 anos, chegou este mês a Curitiba, como pastor evangélico, afirmando estar regenerado e livre do vício das drogas. Durante sua estada na cidade, Luiz Carlos esteve visitando presídios, contando sua história aos detentos, na tentativa de provar como é possível sair “do fundo do poço”, principalmente se a pessoa tiver muita fé.

“Luizinho do Pó” ficou conhecido por aliciar atletas, enviando-os para o exterior com grandes quantidades de cocaína. A droga era escondida dentro do material esportivo, principalmente asas delta. Um dos atletas que trabalhou para Luiz Carlos foi preso em agosto de 2003, agindo da mesma forma. O instrutor de vôo livre carioca Marco Archer Cardoso Moreira foi flagrado com 13,4 kg de cocaína escondidos na capa do equipamento de vôo livre, na Indonésia. Ele é um dos traficantes condenados à morte naquele país.

Na década de 80, a cada quilo de cocaína vendido no exterior, “Luizinho do Pó” chegava a receber 100 mil dólares, amealhando assim uma fortuna e o apelido de “playboy” da praia mais conhecida do Brasil. Em meio ao glamour, casou-se com Débora Soares Leite, na época garota do Fantástico e modelo, que colecionava entre seus trabalhos, uma capa da revista Playboy. Porém, a vida milionária que lhe proporcionava desfrutar de carros caros, mansões luxuosas na Austrália e no Havaí, e festas na alta sociedade carioca, chegou ao fim em 1988, quando Luiz Carlos foi preso pelo tráfico de drogas. Depois de passar cinco anos na cadeia, ele perdeu grande parte de sua fortuna e converteu-se, tornando-se pastor evangélico.

Munido de reportagens e fotografias sobre sua vida, o ex-traficante e bem falante pastor leva seu testemunho a diversos presídios, igrejas e comunidades de cidades brasileiras, onde aproveita para vender os quatro livros e dois vídeos que publicou, todos falando sobre suas experiências.

Curitiba

No último sábado, Luiz Carlos visitou a Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara, onde pregou o evangelho a mais de 500 presos. Segundo ele, o resultado do encontro foi extremamente positivo, tanto que os detentos solicitaram que ele retornasse ao presídio antes de voltar ao Rio de Janeiro. “Muitos deles choraram ao me ouvir e, certamente, se converteram. Eles aceitam os conselhos que dou porque partem de alguém que conhece o mundo do crime e já passou por tudo o que eles vivem”, afirmou Luiz Carlos, que garante ter convertido mais de 50 mil pessoas, durante os 12 anos que vem pregando o evangelho.

Durante os encontros, o pastor afirma receber “interferência divina” e, com isso, se sente capaz de passar um alento aos criminosos. Trabalhando principalmente com o resgate da auto-estima, ele incentiva os detentos a fazer uma reflexão sobre seus atos, porém o ex-traficante acredita que para um maior sucesso do trabalho, seria necessário uma continuidade. “Além deles necessitarem ouvir a palavra de Deus com mais freqüência, precisam sair do ócio e isso é responsabilidade do governo. O preso precisa trabalhar, pois hoje têm pessoas com valores grandiosos que estão encarceradas e não sabem do quanto são capazes”, alfinetou o pastor, tomando-se como exemplo. Luiz Carlos também esteve no Regimento de Policia Montada Coronel Dulcídio (RPMon), onde se encontrou com policiais militares e presos da CPA que estão cumprindo o final da pena e passam pelo processo de ressocialização. O ex-traficante permanece em Curitiba até a próxima terça-feira, dia 24, e pretende visitar o Centro de Observação Criminológica e Triagem (COT) e a Delegacia de Furtos e Roubos.

Da vida luxuosa aos dias de cadeia

Luiz Carlos Leite nasceu no município de Queimados, no Rio de Janeiro, onde viveu humildemente até os 12 anos. Cansado de ser agredido pelo pai, mudou-se para a capital do Estado, onde teve sua primeira experiência com a maconha. Durante sua adolescência, dormiu por muitas noites nas areias das praias da então chamada “cidade maravilhosa”, trabalhando como “avião”. Ele levava a droga dos traficantes aos usuários, e isso lhe rendeu experiência suficiente para montar sua primeira “boca de fumo”, em Copacabana. Ameaçado de morte pelos traficantes da região, Luiz Carlos passou a agir em Ipanema, onde montou outros quatro pontos para o tráfico de entorpecentes.

Aos 20 anos, Luiz Carlos namorou uma modelo, cujos pais eram proprietários de uma empresa de exportação e importação e com isso, além de entrar para o mundo da moda, sendo capa de várias revistas, encontrou o caminho para levar drogas para o exterior. Depois de aliciar atletas para levar cocaína ao Japão, Indonésia, Havaí e Austrália, durante oito anos, já conhecido por “Luisinho do Pó”, tornou-se milionário e passou a freqüentar a alta sociedade carioca. Dono de carros, mansões, jóias e restaurantes, o “magnata do pó” casou-se com a modelo Débora Soares Leite, 38 anos, com quem hoje tem três filhas, de 8, 9 e 16 anos. Na época Débora estava no auge da carreira, sendo capa das principais revistas do país.

Queda

Em 1988, quando tinha 32 anos, o império de “Luisinho do Pó” desabou e o traficante foi preso, deixando Débora gravida de sua filha mais velha. Durante os cinco anos que passou na cadeia, ele afirma ter perdido a maioria dos bens que conquistou com o dinheiro ilícito, e por isso planejou o mais astucioso de seus planos. Em 1992, ao sair da prisão, “Luisinho do Pó” pretendia levar um veleiro recheado com 100 quilos de cocaína até Barcelona, onde aconteciam as Olimpíadas. A venda da droga lhe renderia o maior lucro de toda a sua vida criminosa: um milhão de dólares. Porém, em meio ao maquiavélico plano, Luiz visitou sua mãe e através dela foi convencido a freqüentar um culto religioso na casa de uma irmã. Naquele dia, Luiz Carlos afirma ter sido tocado por Deus. Jogou o plano milionário para trás e trocou o tráfico de cocaína pela pregação da palavra divina.

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