Ex-prefeito de Paranaguá assassinado a facadas

O ex-prefeito de Paranaguá José Vicente Elias, 66 anos, foi assassinado dentro do apartamento em que morava na Rua João Manoel, bairro São Francisco, em Curitiba. Elias levou duas facadas no pescoço e estava com mãos e pés amarrados e a boca amordaçada, quando o filho Juliano o encontrou morto, às 9h de ontem. O crime foi cometido no início da noite de terça-feira, segundo a polícia. Os matadores fugiram com o Fiat Tempra do ex-prefeito, localizado mais tarde no bairro do Tatuquara. A família não tem suspeitos do crime e a polícia junta as primeiras informações para elucidar o caso.

O engenheiro civil Juliano Elias, 31 anos, manteve o último contato com o pai às 20h de terça-feira. Na manhã de ontem, não conseguiu localizá-lo pelo telefone e foi até o edifício Via Veneto, onde Vicente Elias morava sozinho há cerca de 5 anos. Como ninguém atendeu, Juliano chamou um chaveiro para abrir o apartamento 402. Encontrou o pai morto no chão do quarto, ao lado da cama.

Elias vestia apenas camiseta e cueca e estava com mãos, pés e boca atados com uma fita adesiva. O pescoço foi envolvido por um cinto preto. A perita Jussara Joeckel, da Polícia Científica, disse que o ex-prefeito levou uma facada em cada lado do pescoço e outra que quase decepou a mão esquerda, numa provável tentativa de defesa. Ela estimou que o crime foi cometido no início da noite de anteontem.

No começo da manhã de ontem, antes mesmo do homicídio ser descoberto, o Fiat Tempra bordô do ex-prefeito foi encontrado no bairro do Tatuquara. O carro ainda será submetido a perícia, mas de antemão o aspirante Mauro Sérgio, do 12.º Batalhão da PM, adiantou que um facão foi encontrado dentro de veículo. “Pelo tipo dos ferimentos, não deve ter sido a arma usada no crime”, afirmou.

Documentos

No apartamento, a família notou a falta de dois telefones fixos, ambos com secretária eletrônica, do identificador de chamadas e do celular – possivelmente roubados para ocultar as últimas ligações recebidas por Elias. Um cordão de ouro da vítima também desapareceu.

No cesto de lixo do banheiro, investigadores da Delegacia de Homicídios encontraram vários documentos e folhas de cheque rasgados, que serão levados à perícia na tentativa de se identificar impressões digitais. Em seguida os papéis, pistas consideradas importantes pela polícia, serão montados e os nomes que ali aparecerem, investigados.

Uma moradora do mesmo prédio contou à polícia que, pouco antes do crime, um homem acionou o interfone de seu apartamento dizendo que era morador do 402 e havia esquecido as chaves. Como a vizinha conhecia os hábitos de Elias e sabia que nem seus filhos tinham as chaves da moradia, não abriu o portão. Uma pessoa e um carro vermelho foram vistos em frente ao prédio. O filho acrescentou que o ex-prefeito jamais recolhia estranhos no apartamento. A polícia ainda não sabe como os assassinos conseguiram entrar.

Juliano disse não imaginar quem poderia ter cometido o assassinato e que não acredita em crime político. “Desde 1995 ele não exercia nenhum mandato”, justificou o filho, que pediu reiteradamente aos repórteres para que a vida pública do pai fosse exaltada e que fosse cobrado o fim da onda de violência no País. Ele afirmou ainda não ter certeza de que ocorreu um simples assalto.

A Delegacia de Homicídios colheu as primeiras informações do caso e deve ter o auxílio do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) para investigar o assassinato.

Vítima era personalidade na cidade

José Vicente Elias era uma das mais importantes personalidades de Paranaguá. Além de ter sido prefeito da cidade por duas vezes, assumiu a superintendência do Porto de Paranaguá, entre outros cargos, mas atualmente estava pouco envolvido com a vida pública.

Vicente Elias era secretário da Educação do município antes de ser nomeado prefeito em 1976, cargo que exerceu até 1982. Depois foi diretor administrativo e superintendente do Porto de Paranaguá e, em 1988, chegou novamente à Prefeitura, dessa vez eleito pelo voto direto e cumprindo o mandato até 1992.

Nas duas últimas eleições para prefeito, Elias amargou derrotas apertadas para seu maior adversário político na cidade, Mário Roque, do PSDB. Em 1996, quando ainda era filiado ao PTB, perdeu por 2,5 mil votos; em 2000, já no PFL, teve pouco mais de 1 mil votos a menos que Roque, ficando novamente em segundo lugar. No pleito de 2002 candidatou-se a deputado estadual, novamente pelo PFL, mas, com prestígio em baixa, obteve pequena votação (9.823) e não se elegeu.

Elias também tinha grande envolvimento com o futebol e chegou a ser presidente do Rio Branco, único clube profissional da cidade. Ele também já foi proprietário da Rádio Ilha do Mel FM, uma das principais do litoral paranaense.

Segundo o filho Juliano Elias, José Vicente ultimamente assessorava o deputado estadual Marcos Isfer (PPS), cujo reduto eleitoral também é o litoral paranaense. O ex-prefeito, teria planos de deixar a política em segundo plano e dedicar-se ao ramo da construção civil ao lado de Juliano, que é engenheiro.

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