Escrivão assassinado em casa

A rotina conturbada que o policial civil Claudemir Dalamarta, 52 anos, estava vivendo desde quando aposentou-se, há três meses, culminou em sua própria morte. Cansada de ver o marido beber de forma compulsiva, sofrer ameaças de morte e ser agredida, Cláudia de Paula Maestrele, 26 anos, resolveu dar um fim na situação, executando-o com vários tiros. O crime aconteceu na tarde de ontem, no interior da casa onde eles moravam, na Rua Chile, Prado Velho.

Dalamarta era escrivão de polícia e há poucos meses havia se aposentado. Segundo Cláudia, com quem ele tinha um filho de 3 anos, desde a aposentadoria a rotina do casal mudou de forma vertiginosa. Em seu depoimento à polícia, ela contou que o escrivão bebia todos os dias, a agredia e constantemente ameaçava matá-la. Ontem, ela resolveu dar um basta na situação.

Por volta das 12h, Claudemir foi deitar-se na garagem da casa, e antes disso teria feito mais uma ameaça à esposa, dizendo que só não a matava naquela hora porque tinha gente na casa. Nervosa, Cláudia foi até o quarto do casal, apanhou a pistola calibre 45, do marido, e caminhou em sua direção. Após disparar o primeiro tiro contra a cabeça do policial, a pistola teria “engasgado”. Ao tentar fazê-la “desengasgar”, Cláudia disparou outros três tiros acidentalmente. Dois deles atingiram as costas de Claudemir e o outro, o braço.

Presa

Depois disso, Cláudia foi até a casa de sua mãe e pediu para que ela guardasse a arma, sem contar o que havia acontecido. Por volta das 16h, ela retornou ao local do crime e pediu socorro a um vizinho, simulando que havia encontrado o corpo do marido naquele momento. Segundo o superintendente da Delegacia de Homicídios, Miguel Gumieiro, os policiais, já desconfiados da mulher, ligaram para a casa da mãe dela para contar o que havia acontecido e perguntaram sobre a arma. Depois que a mãe negou que a filha levou a pistola até sua casa, o irmão de Cláudia retornou a ligação para a polícia e confirmou a participação da irmã no crime. “Ele falou que a arma estava lá e que não queria se complicar por causa dela”, contou Gumieiro.

Na noite de ontem Cláudia foi interrogada pelo delegado Jaime da Luz, que afirmou que ouvirá outras pessoas para apurar mais detalhes sobre o crime. “A filha dele, que estava na casa quando o escrivão foi morto, também será ouvida, pois existem outras informações que ainda precisam ser apuradas”, finalizou o delegado.

Cláudia foi presa em flagrante e levada ao 9.º Distrito Policial.

Morte vira rotina

Assassinato de policiais civis está se tornando uma constante em Curitiba. Só neste ano quatro investigadores foram executados e um quinto baleado. Em 29 de março, o policial Aparecido Lopes, o “Cido”, 46 anos, lotado no 11.º DP (CIC), foi assassinado no portão de casa, na Rua Joaquim Oliveira Filho, Campo Comprido. Alguém ligou e pediu para que ele fosse até o portão. Desarmado, “Cido” foi atender o criminoso e recebeu cinco tiros. Dia 6 de junho, Luiz Gonzaga dos Santos, 49 anos, foi baleado dentro da delegacia de Colombo, em uma tentativa de arrebatamento de presos. Luiz tirava plantão sozinho e caiu morto em frente ao prédio.

Onze dias depois (17 de junho) o investigador Bernardo Braga Lacerda foi executado a tiros, ao lado da viatura descaracterizada que ocupava, na Rua Saldanha Marinho, centro de Curitiba. Lotado na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas, o policial recebeu um tiro na cabeça e outro na perna.

Pouco depois o investigador da Delegacia de Homicídios, Osvaldo Alves da Veiga, 46 anos, também foi assassinado. No dia 10 de julho, o policial – que estava em férias – recebeu um telefonema e foi se encontrar com seu assassino. Na Rua Jordânia, próximo da BR-277, bairro Cajuru, Veiga recebeu seis tiros, dois deles na cabeça. Morreu no local.

Arrebatamento

Além dessas mortes, o investigador Miguel Algacir Negoseke, 40 anos, foi ferido com um tiro no peito na madrugada do dia 28 de junho. Ele tentou impedir o arrebatamento do único preso que estava guardado no 4.º Distrito Policial (São Lourenço). Edvaldo José da Silva, 27 anos, foi resgatado pelos cúmplices.

Na última terça-feira, dia 3, o jornal Folha de São Paulo divulgou uma pesquisa informando que a cada 17h um policial civil ou militar é assassinado no País, estando de folga ou em serviço. De acordo com levantamento, entre janeiro e a primeira quinzena de julho, ao menos 281 policiais civis e militares foram mortos: 71% deles (197) não estavam trabalhando na função. No Paraná foram registrados oito casos: cinco policiais estavam de folga e três em serviço.

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