Droga e vingança motivaram massacre

Foi um crime para nunca mais esquecer. A sede de vingança dos autores da chacina de Colombo teve requintes de crueldade difíceis de imaginar. Para torturar o traficante Hélio Dias Duarte, os assassinos atacaram primeiramente as crianças pequenas, filhas de Hélio, na frente dele. Trucidaram os pequenos inocentes a golpes de picareta, para depois balear os adultos que estavam na casa. Tudo isso depois de beber cerveja e fumar um “baseado” de maconha na casa de Hélio, que os havia recebido amigavelmente. Friamente, os autores contaram detalhes da barbárie aos policiais responsáveis pela prisão.

Conforme os depoimentos, o ataque ocorreu motivado por vingança e pela disputa de liderança do tráfico de drogas na Colônia Penal Agrícola. Este seria o resumo, segundo a polícia, da matança de nove pessoas ocorrida na noite de 28 de fevereiro, no Alto Maracanã, Colombo. Os dois acusados de participação direta no maior massacre da história do Paraná e um terceiro, suspeito de ter fornecido as armas nele utilizadas, foram apresentados ontem à imprensa. “Só chegamos aos autores pela graça Divina”, falou o delegado Messias Antônio da Rosa, do Alto Maracanã, principal responsável pela investigação e prisões.

Acusados

Os presidiários Marcos Antônio Taverna, 27 anos, e Marcos Roberto Jardim Proceke, 26, foram acusados das mortes do traficante Hélio Dias Duarte, 51 anos, de sete pessoas da família dele (três filhos, de 4, 8 e 29 anos, um neto de 14 anos, esposa, padrasto e mãe) e de um suposto viciado, de 27 anos, que estava na casa de número 863 da Rua Isabel Capelari, local da barbárie.

Um ex-interno da CPA, João Maria Machado, 23 anos, o último a ser detido, portava a pistola 9 milímetros que o exame de balística comprovou ter sido usada no crime. A polícia não descarta, porém, que haja ainda um mandante por trás da chacina.

Tráfico

Segundo o delegado Messias, a matança foi confessada pelos dois Marcos e teve duplo objetivo. O primeiro é, como ele diz, “econômico”, e o segundo, uma vingança pessoal. Hélio Duarte era acusado de fornecer drogas na região do Alto Maracanã e na Colônia Penal Agrícola (CPA), em Piraquara, que conta com cerca de 600 internos. Como o espaço é quase livre (os presos cumprem pena em regime semi-aberto), não é difícil a entrada de entorpecentes.

Marcos Taverna, apontado em princípio como mentor da chacina, cumpre pena por roubo na CPA e seria responsável por introduzir na cadeia as drogas fornecidas por Hélio. Na carteira do acusado havia uma lista com nomes de presos usuários que tinham dívidas. “Uma das intenções dele era eliminar Hélio e a família para dominar o comércio de drogas dentro da Colônia. O volume de dinheiro movimentado é muito grande”, falou Messias.

Vingança

Taverna também teria razões pessoais para matar Hélio. O acusado é amasiado com uma ex-nora do traficante, e Hélio teria desrespeitado a moça diante de outros presos. Hélio teria ainda denunciado o detido anteriormente, em um caso não esclarecido pela polícia.

“Destino de cagüeta é este mesmo”, disse Taverna, em uma das poucas frases que declarou à imprensa. De acordo com o delegado foram esses os motivos que o levaram a agir com tamanha violência, inclusive contra as crianças.

Prisão

Os dois sobreviventes do massacre foram fator fundamental para esclarecê-lo. Luciane de Andrade, 22 anos, nora de Hélio, e um filho dele, de 10, foram baleados e continuam internados no Hospital Cajuru, protegidos por forte esquema de segurança. Ambos não correm risco de morte. “Foi uma ação de Deus, pois ambos sofreram lesões gravíssimas”, disse Messias.

Através de depoimentos colhidos no hospital, a polícia soube que os autores eram presos da Colônia Penal Agrícola, mas sem obter seus nomes. Pelo álbum com fotos dos internos oriundos de Colombo, Taverna foi apontado como um dos participantes e preso em flagrante no dia seguinte à chacina.

Já o detalhe da cicatriz no rosto do segundo acusado levou a polícia a Marcos Proceke. Também interno da CPA, onde cumpre pena por roubo de carro, ele foi detido terça-feira, em Londrina. Ambos haviam recebido o indulto – curto período em que são soltos da prisão para ficar em casa – e teriam aproveitado o benefício concedido entre 28 de fevereiro e 6 de março para cometer o massacre.

Aparentemente sem envolvimento com o tráfico da CPA ou com Hélio Dias, Proceke teria sido apenas chamado por Taverna para ir à casa do traficante. O acusado nega qualquer envolvimento no caso. “Não confessei nada. Estava em Londrina visitando minha família”, disse Proceke à imprensa. Mas, de acordo com a polícia, os sobreviventes reconheceram Proceke e disseram que ele ajudou a executar as vítimas.

A pistola usada no crime foi apreendida quarta-feira à tarde na casa de João Maria, na Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo. “Ele acabou de ser solto da Colônia Penal e pode ter fornecido a arma para a execução”, falou Messias. João Maria disse que a pistola foi deixada em sua casa por um certo “Liel”, e que não imaginava ter sido utilizada na chacina. A outra arma empunhada pelos matadores, um revólver calibre 38, foi localizada no bairro Rio Verde, em Colombo. Como não é arma de uso exclusivo das Forças Armadas, a pessoa que a detinha não foi presa.

Planejada

A chacina, que segundo a polícia não tem relação com a cometida no Uberaba dias antes, que vitimou cinco pessoas, teria sido planejada para o Natal, mas algo deu errado e a data foi adiada para o Carnaval. A polícia investiga ainda a possibilidade de haver um mandante, relacionado com o tráfico na CPA, por trás do crime. “Poderemos ter novidades em breve”, falou Messias. A reconstituição, que irá fornecer novos detalhes da chacina, deve ser feita no início da semana que vem. Além da Delegacia do Alto Maracanã, participaram das investigações o Cope (Centro de Operações Policiais Especiais), a Divisão de Narcóticos e a Polícia Militar.

Crianças foramas primeiras vítimas

A fita de vídeo que gravou o depoimento oficial dos acusados não foi divulgada à imprensa. Mas a descrição dos detalhes da chacina, relatada pelo delegado Messias Antônio da Rosa, impressiona pela frieza e barbarismo com que os assassinatos – principalmente das crianças – foram cometidos.

Segundo o delegado, Hélio recebeu os suspeitos em casa e de forma amistosa. A esposa do anfitrião, Josiane Santos de Lima, serviu cerveja a Marcos Taverna e Marcos Proceke fumou um cigarro de maconha. Os visitantes conversaram e não deixaram transparecer que tinham intenção sanguinolenta.

O massacre começou quando o suposto viciado Luciano Augusto Damásio, 27 anos, chegou na residência. Primeiro, as vítimas teriam sido amarradas ou amordaçadas pelos dois Marcos, que sacaram suas armas. “Eles tiraram proveito do fator surpresa, já que não passava pela cabeça de Hélio e da família que seriam atacados”, falou o delegado, tentando explicar como duas pessoas conseguiram subjugar outras onze.

Messias disse que os primeiros e serem mortos foram as crianças, golpeadas com uma pesada picareta que já estava na casa. Os meninos Kauan, 4, e Kauê, 8 anos, tiveram o crânio fraturado em várias partes e exposição de massa encefálica. “Marcos fez questão de frisar que obrigou Hélio a assistir às mortes dos filhos”, disse Messias.

Em seguida, foram usadas as armas de fogo para matar a esposa do traficante, o outro filho dele, Ricardo Aurélio Duarte, 29 anos, o neto Renan Alberto Duarte, 12, o padrasto Teófilo Inácio Borges, 85, a mãe Rosa Mendes Duarte, 72, Damásio e, por fim, o principal alvo dos criminosos. Um filho de 10 anos de Hélio e a nora dele, Luciane, que fingiu-se de morta, sobreviveram.

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