Dono da VC consultoria é um megavigarista

Denunciado por golpes desde 1999, Neviton Pretty Caetano, 59 anos, ganhou o apelido de “megavigarista” e poderia até entrar para o livro dos recordes, dado ao grande número de vítimas que fez ao longo de sua carreira criminosa.

Em 2004, quando estouraram os escândalos da TV Injustiça, site que alimentava com denúncias contra empresários para poder extorqui-los, e da empresa Vera Cruz Empreendimentos, usada enganar quem tinha o nome “sujo” na praça (no Seproc ou na Serasa) com a promessa de “limpá-lo”, foi calculado que havia conseguido lesar cerca de 40 mil vítimas.

Naquela época, o Ministério Público montou uma força-tarefa para conseguir apurar todas as denúncias contra o acusado e analisar dados encontrados em mais de 30 computadores apreendidos nas empresas de Neviton.

Seus golpes chegaram ao conhecimento público quando tentou extorquir R$ 300 mil de um executivo da Spaipa, a quem acusava de ter espancado uma namorada, e ter tentado fazer o mesmo com o proprietário de uma mina de ouro, em Campo Largo. Sua primeira prisão data de 7 de maio daquele ano.

Chácara

Neviton já usava a chácara em São José dos Pinhais para arquitetar seus delitos e foi acusado de manter, em cárcere privado, durante dias, a tal namorada do executivo, que foi obrigada a dar declarações falsas e até sofreu tentativa de estupro.

A jovem, quando interrogada pela polícia, disse ter sido ameaçada para dar uma entrevista comprometedora.

Sua suposta entrevista, foi divulgada na TV Injustiça e, depois disso, Neviton e três seguranças, passaram a exigir dinheiro para retirar o material do site.

Riqueza acumulada


Fernanda Deslandes

Arquivo
Armas de grosso calibre não mantiveram suspeito na prisão.

Além das filiais da empresa, os policiais vistoriaram a residência dos suspeitos. Foram apreendidos sete carros de luxo, R$ 3 mil, computadores, celulares, um revólver e documentos.

No condomínio onde Alexandre vivia e foi preso, havia apenas quatro sobrados. Um era dele, outro era de uma família, e dois estavam vazios. Em um desses últimos, foram apreendidos 15 mil contratos em branco, assinados por aposentados que, de acordo com as investigações, eram utilizados para emissão de novos empréstimos sem a autorização dos clientes.

Laranja

Uma quadra adiante deste condomínio fica a chácara onde funciona a sede da VC Consultoria. Lá é a residência de Neviton e, em outra casa, vivia Letícia. Ela era mantida em uma espécie de cárcere privado, e recebia em troca tudo o que desejava.

Isso porque foi escolhida para registrar em seu nome tudo o que Neviton não podia, já que ele possui uma extensa ficha criminal, que teve o primeiro registro em 1999.

“Ela tinha plena consciência de que tinha o nome utilizado para registro da empresa e de bens da quadrilha. Por isso, o Neviton a mantinha afastada das outras pessoas. Ela só saia com seguranças, quando ele permitia. Entretanto, ele pagava tudo o que ela queria”, explica o delegado Jairo Estorilio, da Delcon.

Prisões e solturas viram rotina

Mara Cornelsen

Em maio de 2004, o juiz Francisco Eduardo Gonzaga de Oliveira, da 3.ª Vara Criminal de Curitiba, decretou as prisões de Neviton, dos jornalistas José Diniz e Edson Silvestre; do policial militar aposentado Claudionei de Souza Alexandre; do motorista Márcio Antônio dos Santos e do segurança Cornélio Goetz, acusados de formaç&ati,lde;o de quadrilha, extorsão e cárcere privado.

Ele se referia à tentativa de extorsão contra o executivo da Spaipa, denunciada pelo Ministério Público. Na acusação, Diniz e Edson apareciam como os profissionais que tentavam dar “cunho jornalístico” às matérias que depois serviriam para extorsão, esta levada a efeito por Neviton e os seguranças Claudionei, Márcio e Cornélio. Em 4 de março de 2005, os jornalistas, o motorista e o policial militar foram absolvidos das acusações, por falta de provas, pelo juiz Márcio Tokars, e libertados no mesmo dia.

Mineradora

Ainda julho de 2004, Neviton passou a responder a mais um processo e teve a terceira prisão preventiva decretada, desta vez pela 6.ª Vara Criminal. A acusação se referia à tentativa extorsão de R$ 2 milhões do proprietário de uma mineradora em Campo Largo, a quem acusava de levar ouro para outro estado, de forma ilegal.

Após 11 meses, ele saiu da cadeia, em abril de 2005, quando deixou a Casa de Custódia de Curitiba, na CIC. Seus três mandados de prisão haviam sido revogados.

Porém, em agosto de 2007, foi novamente preso, pois a 4.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça acatou recurso da então Promotoria de Investigações Criminais (PIC), hoje chamada de Gaeco, que pedia seu encarceramento. Meses depois foi novamente solto e continuou arquitetando suas falcatruas.

Arquivo
Documentação foi apreendida pela PIC ainda em 2004.

Muitas caras

Mara Cornelsen

Acostumado a envolver várias pessoas nas falcatruas que lhe rendiam altas quantias, possibilitando uma vida milionária, Neviton Caetano se fez passar por jornalista, empresário, e advogado.

Quando passou o Natal de 2004 na cadeia, juntamente com os dois jornalistas e dois de seus seguranças, ele e os cúmplices foram “presenteados” pelo juiz Santa Cruz Arruda, da 4.ª Vara Criminal de Curitiba, com mais um mandado de prisão, desta vez pela acusação de terem tentado extorquir uma imobiliária de Curitiba, sob a ameaça de convencer os clientes a deixarem de pagar as prestações dos terrenos adquiridos, o que resultaria em enorme prejuízo.

Dizendo-se advogado, Neviton buscava pessoas humildes que pagavam prestações de terrenos na periferia e pedia a documentação da negociação. Depois inescrupulosamente dizia que o interessado já era dono da propriedade e que não precisaria pagar mais nada, desde que lhe dessem uma determinada quantia para fazer a quitação final. Esta artimanha era feita através da outra empresa do vigarista, a Vera Cruz Empreendimentos.

Seproc

Também pela Vera Cruz, ele enganava pessoas prometendo tirar o nome das vítimas do Seproc e do Serasa, além de reduzir valores de financiamentos, coisa que não conseguia fazer.

Apenas recebia o dinheiro das vítimas. Nesta empreitada ele envolveu a advogada Andressa Maria Beotoni, 35. Ela chefiava um grupo de advogados recém-formados, que atendiam os clientes da Vera Cruz.

Andressa chegou a ter prisão preventiva decretada em maio de 2004, foi presa no dia 19, ficou alguns dias recolhida em xadrez e depois foi liberada em 1.º de julho, por força de habeas corpus.