Desembargador Valeixo morre na última missão

Quando iniciava a tomada de depoimentos de meninas menores de idade que teriam participado de orgias em Campo Largo – durante festas que aconteciam em chácaras – o desembargador Octávio Jorge de César Valeixo, 68 anos, sentiu-se mal e foi removido às pressas para Curitiba. Internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Nossa Senhora das Graças, ele morreu às 17h30 de ontem.

Valeixo havia sido designado há duas semanas, pelo Tribunal de Justiça, para conduzir as diligências em torno das denúnicas das orgias envolvendo menores e que teriam a participação de políticos, empresários e até de um juíz de Campo Largo. Ele chegou no Fórum do município ontem pela manhã, para ouvir várias garotas e outros suspeitos no caso. No entanto, sentiu-se mal pouco antes das 11h e teve que interromper os trabalhos, iniciados às 9h30. Apenas duas meninas foram ouvidas.

O desembargador retornou imediatamente a Curitiba e foi internado. Faleceu no início da noite. Com a morte repentina de Octávio Valeixo, os depoimentos, que estavam marcados para continuar hoje, foram adiados até que seja definido outro desembargador para presidir o inquérito.

Menores

O promotor da comarca de Campo Largo, Álvaro Torrenz, que também participava da tomada dos depoimentos, salientou que o processo corre em segredo de Justiça e seu conteúdo não pode ser divulgado. Ele, porém, afirmou que as garotas ouvidas ontem não participaram diretamente das festas. As menores disseram que apenas conheciam outras, que efetivamente teriam ido aos jantares promovidos nas chácaras todas as quintas-feiras.

A mãe de uma das meninas estava bastante assustada. Ela acompanhou a filha ao Fórum e disse que não imaginava que a menina, de 15 anos, pudesse estar envolvida com orgias sexuais ou prostituição. A mulher, que é funcionária de uma loja no centro de Campo Largo, afirmou ter certeza que a filha adolescente não esteve na chácara. “Uma funcionária do Fórum me explicou que ela só foi chamada porque teve o nome citado por alguém que já foi interrogado. Minha filha não sai sozinha à noite, sempre sai comigo, por isso levei um susto quando recebi a intimação”, garantiu a mãe da garota.

Iniciativa

Outra jovem, esta já com 18 anos, também esteve no Fórum ontem, mas não chegou a ser ouvida. Ela contou que quando esteve nas festas, ainda era menor de idade. Também demonstrando estar assustada com as investigações e a repercussão do caso, ela disse que ficava sabendo das festas, que aconteciam às quintas-feiras, em uma lanchonete no centro da cidade, onde costumava se encontrar com outras garotas. “A gente saía dali direto pra chácara. Às vezes de ônibus, às vezes a pé, ou de carona”, revelou, demonstrando que o grupo de meninas tomava a iniciativa de ir para às festas em busca de diversão, comida e bebida de graça e um “algo a mais”.

Tribunal de Justiça decreta luto oficial de três dias

O desembargador Octávio Jorge de César Valeixo, morreu às 17h30 de ontem, aos 68 anos, vítima de insuficiência cardíaca. Ele estava internado na UTI do Hospital Nossa Senhora das Graças, desde o início da tarde, logo após ter ouvido o depoimentos de duas menores envolvidas no caso de exploração sexual em Campo Largo. Ele havia voltado recentemente de licença médica. O Tribunal de Justiça do Paraná e o Governo do Estado decretaram luto oficial de três dias.

Valeixo assumiu o cargo no Tribunal de Justiça em 1996 e era considerado uma das maiores autoridades brasileiras na área de trânsito, sendo freqüentemente consultado sobre o assunto. No período de 1979 a 1988, em Brasília, foi membro do Grupo Interministerial de Segurança de Trânsito e ajudou na elaboração dos estudos para implantação e regulamentação do bafômetro no Brasil. Em razão do trabalho desenvolvido na área de delitos de trânsito, foi um dos fundadores e presidente por dois períodos do Conselho Comunitário de Trânsito de Curitiba, além de coordenador estadual do Programa “Pare” do Ministério dos Transportes, com fundamental participação na elaboração do Novo Código de Trânsito Brasileiro.

Histórico

Nasceu em Curitiba, onde terminou o curso de Direito, em 1959. Ingressou na magistratura como juiz substituto, em 1964, nas seções Judiciárias de União da Vitória, Irati e Apucarana. Em 1966 foi nomeado juiz de Direito da recém-instalada comarca de Mandaguaçu. Exerceu estas funções também nas comarcas de Paranacity, Telêmaco Borba e Curitiba. No período de 1979 a 1990, foi titular da 1.ª Vara de Delitos de Trânsito, onde conseguiu consolidar a tese do dolo eventual nos crimes de trânsito. Em 1990, foi promovido ao cargo de juiz do Tribunal de Alçada.

Luto

O presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, desembargador Oto Luiz Sponholz decretou luto oficial de três dias nas repartições judiciárias do Estado do Paraná e suspensão do expediente nas repartições judiciárias da capital nesta terça-feira.

O corpo do desembargador será velado no saguão do Palácio Iguaçu e o sepultamento será hoje, às 17h, no Cemitério Parque Iguaçu.

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