Denúncia: “Quem manda aqui é o crime”

Moradias Cajuru. Uma grande área abandonada pelos órgãos competentes e tomado por traficantes, que fazem às vezes do Estado, tanto no que diz respeito ao fator social quanto ao de Justiça. São os comerciantes de drogas que ditam as regras, impõem leis e inclusive prestam ajuda à população trabalhadora, tentando suprir suas necessidades básicas e assim obter a garantia de que não serão denunciados.

No caso da Moradias Cajuru (que começa após a Vila Trindade e chega na divisa com Pinhais, no bairro Cajuru, entre a BR-277 e a Avenida Afonso Camargo), três traficantes dominam o lugar, dividido milimetricamente em partes iguais. Um dos setores é comandado pela traficante “Bega”, que seria residente na Rua Professora Olga Balster, de onde inicia seu comércio e segue pelas demais ruas em sentido Norte. Outro terço seria área de abrangência das ordens de um tal “Passarinho”, que mora na Reinaldo Isebenir; e a terceira parte é dominada por “Formigão”, cujo nome de batismo é Luciano Lourenço. Ele está recolhido no xadrez do 11.º Distrito (CIC) há alguns meses, por tráfico de drogas. Mas sua área não foi ocupada pelos rivais. Quem assumiu o “trabalho”, segundo os moradores, foram seus parentes Edson e Ilda.

“Eles ajudam todos. Se precisar de remédio, comida, advogado ou qualquer outra coisa. Às vezes emprestam o dinheiro, outras dão. Quando empresta tem que pagar, senão morre”, denunciou um homem. Ele diz que prefere não se envolver com o tráfico, apesar de às vezes ser a solução mais rápida e eficaz.

“Muitos não tem como escapar. Ou pedem ajuda aos traficantes ou vão para fila do governo, que às vezes nem atende a gente”, lamenta uma moradora. Outro revela que já perdeu um parente que foi pedir ajuda aos traficantes. “Ele foi atendido, mas não cumpriu sua parte. Morreu. Muitos já perderam a vida assim. O que é tratado tem que ser cumprido. É a lei”, justifica o homem.

Policiais acusados de receber propina

Como se não bastasse o descaso das autoridades, com ruas esburacadas e valetas a céu aberto, as pessoas que residem na Moradias Cajuru não têm sequer como se proteger dos mandos e desmandos dos traficantes que dominam a região. A polícia, segundo eles, está “comprada”.

Um rapaz revela que policiais civis sempre vão até o conjunto, mas quem pensa que vão investigar crimes está enganado: “Eles vem aqui pegar dinheiro para deixar tudo como está. Os traficantes pagam e tudo continua no mesmo. Se pensam que estou mentindo, pergunto: porque não prendem ninguém com drogas por aqui?”, indagou o jovem.

Com a garantia que seus nomes serão mantidos em sigilo, os trabalhadores que têm como vizinhos os traficantes denunciam: “se não tivesse polícia corrupta talvez um dia isto acabasse”. Eles afirmam que são cinco investigadores da Polícia Civil, lotados em três diferentes delegacias, que pegam dinheiro regularmente. Os nomes dos policiais e seus respectivos locais de trabalho foram informados à Promotoria de Investigação Criminal (Pic), que prometeu tomar providências.

Denúncia

A denúncia foi feita à Tribuna por moradores que não suportam mais a situação e nutrem a esperança de que o lugar deixe de ser comandado pelo tráfico de drogas. “Vivemos no meio de balas que a qualquer momento podem se perder e atingir um de nossos filhos. Somos reféns do tráfico”, justificou uma mulher.

O delegado Miguel Stadler, lotado na Pic, afirmou ontem que já havia recebido denúncia semelhante e que está apurando tudo o que está acontecendo nas Moradias Cajuru. Ele adiantou que a PIC também está trabalhando para apurar outras denúncias iguais a esta, feitas por moradores de outros locais dominados pelo tráfico de drogas.

Quem pega dinheiro e não devolve paga com a vida

Uma dívida com a traficante conhecida por “Bega”, que domina o comércio de drogas na Vila Trindade e Moradias Cajuru, foi o motivo do assassinato do ex-presidiário Osnoel Ermes, 29 anos. O crime ocorreu no início da madrugada de sábado, na Rua Assma karan Geara, Moradias Cajuru. “A vítima devia R$ 250,00 para a traficante, emprestados para pagar um advogado”, relatou o superintendente Neimir Cristóvão, da Delegacia de Homicídios.

Ele disse que as investigações apuraram ainda que quem disparou os quatro tiros contra Osnoel foi o filho de Bega, um rapaz identificado pelo nome de Alex, que cumpriu as ordens de sua mãe. Osnoel foi morto com dois tiros no peito, um no olho e outro na testa. Ele ainda conseguiu caminhar cerca de 50 metros, antes de tombar morto.

Quatro meses

Segundo Neimir, a traficante havia emprestado o dinheiro para Osnoel há quatro meses, pouco antes dele deixar o xadrez da Delegacia de Furtos e Roubos, onde cumpria pena por furto. Osnoel também tinha passagem por homicídio. “O trato era ele pagar assim que saísse”, relatou o policial.

O superintendente disse ainda que Osnoel estava trabalhando como pedreiro na obra de um mercado, no Jardim das Américas. “Quando começou a ser pressionado pela traficante, ele conseguiu metade do dinheiro, mas ela se negou a receber e exigiu o valor total da dívida. Como ele não tinha, pagou com a vida”, salientou Neimir.

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