Delegado se diz perseguido por bicheiros

O delegado Gerson Machado, titular da Delegacia de Furtos e Roubos, denunciou, ontem, que está sendo vítima de perseguição por parte da cúpula do jogo do bicho do Paraná. No ano passado ele fez investigações que resultaram em um inquérito de 1.700 páginas, denunciando que o jogo está por trás de várias mortes, inclusive a do bicheiro Almir Hladkyi Solarewicz, ocorrida no dia 20 de setembro de 2.000. As investigações desenvolvidas pelo delegado envolviam os bicheiros Francisco Feitosa – também conhecido como “Chico Feitosa” – e Fúlvio Martins Pinto. “Agora estão querendo se vingar e inventando mentiras. Mas a verdade é uma só e há de prevalecer”, salientou o policial.

Denúncias

Na semana passada Maria Odete Siqueira Roza dos Santos, 37 anos, enviou documentos à Tribuna denunciando que seu marido – Sansão Jesus dos Santos -, que está com mandado de prisão decretado e é acusado de aplicar vários golpes na cidade, desapareceu no dia 11 de setembro. Na carta intitulada “Filha do Silêncio”, ela dizia crer que ele havia sido assassinado, apontando como suspeitos policiais comandados pelo delegado Gerson Machado, que na época era titular do 6.º Distrito Policial (Cajuru).

Na manhã de terça-feira, ela o denunciou novamente à imprensa. Desta vez, foi ao Instituto Médico Legal (IML) tentar reconhecer o cadáver encontrado domingo à noite, boiando no Rio Passaúna, em Araucária, dentro de uma cômoda. Foram comparadas as impressões digitais do morto com os documentos do marido da denunciante. O resultado foi negativo. Antes mesmo de saber do resultado, Maria Odete deu entrevistas para várias emissoras de rádio denunciando o delegado.

Um fato que chamou a atenção é a ligação de Sansão com os bicheiros. Além do mais, Odete informou que não tinha fotografias do marido ao ser solicitada para a publicação do desaparecimento dele.

Reconhecido

Após a divulgação do caso em rádios, o soldador Jony Willian Urbano, 26 anos, procurou a Delegacia de Furtos e Roubos, na tarde de ontem, para informar que Sansão não está desaparecido. “Eu o vi na segunda-feira da semana passada, na BR-376, sentido Santa Catarina – Curitiba. Ele ocupava o Gol placa MBB-2571 (SC)”, assegurou o rapaz.

Jony contou que reconheceu Sansão porque em junho do ano passado ele vendeu um Monza Classic para o suposto desaparecido e comprou dele um Fiat Uno 93, que depois descobriu se tratar de veículo roubado em Santa Catarina. “Desde então venho tentando receber esta dívida. Ele não está morto coisa nenhuma”, disse o rapaz.

Lesado

Desde que foi lesado, Jony tenta receber o dinheiro pago pelo carro roubado de volta. Ele chegou a ir na casa de Sansão, na Rua Rubens Huergo, Jardim Cruzeiro, em São José dos Pinhais. “Fui ameaçado pela mulher dele, que disse que ia na delegacia registrar queixa contra mim. De vítima passei a bandido. O que é isso?”, indagou o soldador, que registrou a ocorrência no 10.º Distrito Policial (Sítio Cercado). Ele denunciou ainda que na casa de “Sansão” funciona uma construtora. A reportagem da Tribuna fez contato telefônico com a empresa, descobrindo que se trata da D.I. Incorporações.

Em um segundo contato com a empresa feito pela reportagem, o telefone foi atendido por Maria Odete Siqueira. Ao ser informada que seu marido havia sido encontrado disse: “Que bom”. Mas quando lhe foi perguntado qual é o seu envolvimento com a advogada Dirce Elaine Pinto, filha do bicheiro Fúlvio, ela se acautelou: “Ela é vítima como eu. Prefiro não falar mais nada sobre este assunto”, e encerrou a conversa.

Farsa

O delegado Gerson Machado, ao tomar conhecimento da denúncia, na semana passada, disse que foi provada, a sua inocência das acusações perante a Corregedoria da Polícia Civil e que tudo estava documentado. “Sou um delegado atuante e prendo bandidos. Não espero que eles gostem de mim”, argumentou Machado.

Ontem,s ao saber que o corpo encontrado não era de Sansão e ao ser procurado por Jony afirmou: “Estava na cara que era uma farsa. Além do mais, o Sansão assinou o documento junto com esta advogada Dirce, que é filha de um bicheiro, que também não gosta de mim, pois não compactuo com o crime”, enfatizou.

Machado disse que Sansão tem mandados de prisão por Santa Catarina e São Paulo, por estelionato. “Ele é tão malandro que enganou a própria Corregedoria. Descobrimos que ele tem cinco identidades”, contou Machado.

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