Delegacia de Quatro Barras abriga nova carceragem feminina

“Aqui somos felizes.” É assim que as 22 mulheres recolhidas na carceragem da Delegacia de Quatro Barras (Região Metropolitana de Curitiba) dizem se sentir, desde que foram transferidas para a nova cadeia feminina criada recentemente pela Polícia Civil. Antes, todas estavam no superlotado xadrez do 9.º Distrito Policial (em Santa Quitéria), que abrigava 72 detentas, mais que o dobro de sua capacidade.

Diferente das cadeias masculinas, as celas da Delegacia de Quatro Barras são limpas e arrumadas. O passatempo também é diferente. Ao invés de baralho, as mulheres aguardam o julgamento fazendo tricô, crochê e artesanato. Elas também cozinham, dividem as demais tarefas “domésticas” e ainda sobra tempo para orações. “Aqui é um paraíso comparado com o 9.º DP. Lá era superlotado e o tratamento não era tão bom. Os policiais são super-humanos”, comentou Janete dos Santos, 39 anos.

Janete divide sua cela com outras cinco detentas. Tem banheiro com chuveiro quente e fogão para cozinhar os alimentos trazidos pela família. Ela conta que foi presa por roubo. “Um amigo me chamou para fazer um assalto em uma panificadora em Colombo. Burra, eu fui. Ele estava armado e eu só tinha que pegar o dinheiro. Fui presa e ele fugiu. Jamais peguei numa arma e estou muito arrependida”, argumentou.

Mulheres

O delegado Márcio Derenne, de Quatro Barras, disse que a cadeia foi transformada em feminina há pouco mais de dois meses. “Quando assumi, as mulheres já tinham sido transferidas para cá. Sem dúvida elas são mais tranqüilas do que os homens”, salientou.

“Por outro lado, também ocupam mais espaço que homens e dão mais trabalho que eles. Antes tínhamos 40 homens recolhidos no xadrez”, informa o superintendente José Carlos de Oliveira. “Elas precisam de mais atenção e assistência. Tem que levar no médico e adoram um telefone. Sempre que podem querem ligar para os parentes”, completa José Carlos, dizendo que entre as 20 detentas, duas estão grávidas.

Márcio Derenne argumenta que o maior problema é que Quatro Barras não possui nenhuma policial feminina para atender as presas. “Seria o ideal, já que a cadeia é exclusivamente feminina”, comentou Márcio.

Artesanato é a saída para passar o tempo

Blusas de tricô, sacolas e tapetes de crochês e bibelôs, são feitos pelas presas. Todo o artesanato produzido é entregue para a família, que vende. “A nossa idéia é vender tudo em uma feira livre, aqui perto da delegacia. Estamos trabalhando para isso”, revela o superintendente José Carlos.

As presas dizem que gastam muito pouco para produzir o artesanato. Mostrando uma espécie de caixinha para guardar objetos, uma das detentas revela: “Só precisamos de papel e cola, mais nada”, afirma uma delas, que prefere não ser identificada e está presa sob a acusação de roubo.

Ela acredita que seria ótimo se a idéia do superintendente – de vender a produção na feira livre – desse certo. “É um dinheiro extra que pode nos ajudar”, salienta. (VB)

Justiça lenta preocupa as presas

Das 20 presas recolhidas na cadeia de Quatro Barras, cinco são acusadas de tráfico de drogas, uma responde por estelionato, sete por assalto, uma por homicídio, cinco por furto, e uma por corrupção de menores. São mulheres de Colombo, Almirante Tamandaré, Piraquara e São José dos Pinhais. Elas possuem idades entre 20 e 65 anos. A mais velha é chamada carinhosamente de “Vozinha” pelos policiais, e está presa por corrupção de menores.

A maioria é de baixo poder aquisitivo e seus defensores são advogados nomeados pelo juiz. Normalmente ficam “mofando” na cadeia, conforme dizem os policiais. “Algumas não têm sequer o apoio da família, que por serem muito pobres, as abandonam na cadeia”, lembra o delegado Márcio Derenne, titular de Quatro Barras.

O superintendente José Carlos de Oliveira disse que duas das presas tem direito a progressão de regime penal, passando para o semi-aberto, mas continuam a cumprir suas penas em regime fechado, por falta de vagas no sistema penitenciário. Uma delas está condenada, por assalto, a cinco anos e quatro meses.

Rose Maria de Souza, 35 anos, diz que está presa por furto há um mês e 15 dias. “Eu não devo nada, mas vou ficar aqui porque não tenho condições de pagar um advogado para me defender”, frisou.

Morosidade

Ao mesmo tempo em que elogiam a nova cadeia, que não é um “mar de rosas”, mas é muito melhor do que as instalações que ocupavam antes, as presas reclamam da morosidade da Justiça. “Estou recolhida há um ano e três meses por assalto e seqüestro. Fui esquecida aqui e não tenho culpa de nada. Eu estava em uma casa, junto com os caras que fizeram o assalto, mas não sabia de nada. Quando eles foram presos, fui junto”, alega Vanessa Maria Ferreira, 25. “Se provar que sou inocente quem é que vai devolver este tempo todo que estou atrás das grades? Conheço meus direitos, mas de nada adianta. O julgamento teria que ser realizado em 81 dias, mas continuo trancafiada aqui e meu filho lá fora, precisando de mim”, salientou a jovem.

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