Crimes em Tamandaré serão denunciados à ONU

Moradores de Almirante Tamandaré voltaram a se mobilizar em torno do caso da quadrilha de extermínio e tráfico de drogas que atua na região. Ontem, em reunião promovida por diversas entidades de direitos humanos, foi decidido que um dossiê sobre os crimes será levado à ONU (Organização das Nações Unidas). Para o vereador Luís Piva, um dos líderes do movimento que pede solução para a série de crimes cometidos pela quadrilha, o governo do Estado não está atuando como deveria. “A delegada Vanessa Alice tem trabalhado corretamente, à custa de esforço próprio. Sabemos que ela precisa de mais apoio por parte da Secretaria da Segurança para continuar investigando. A pressão externa de órgãos internacionais pode fazer com que o governo dê respostas mais concretas e enfrente o caso como deve ser, de crime organizado”, disse Piva.

Dossiê

Na reunião, realizada na sede da Associação dos Professores do Paraná, ficou acertado que um dossiê sobre a quadrilha de Tamandaré será levado para a Relatoria Especial sobre Execuções Arbitrárias, ligada à Comissão de Direitos Humanos da ONU. Alma Jainger, responsável pela Relatoria Especial, fará uma visita ao Brasil em 2003 e a intenção do movimento é fazer com que ela venha a Curitiba.

Seis meses de investigações da delegada Vanessa e dezenove pessoas presas ainda não derrubaram a quadrilha, comentou Piva. “Eu e outros moradores que integram o movimento continuamos a receber ameaças e sofrer intimidações”, contou. O vereador afirmou não ter dúvidas de que os crimes na cidade têm relação com o poder político. “Uma quadrilha organizada, cometendo tal quantidade de crimes e assassinatos, só se sustenta com respaldo político”, disse.

Afastados

Na reunião ficou também acertado que uma comissão do movimento de famílias de Tamandaré irá procurar a PIC (Promotoria de Investigações Criminais) para saber o encaminhamento dos processos. “Tanto o promotor Paulo Markowicz de Lima quanto a juíza Luciane Ludovico, de Tamandaré, foram promovidos e afastados do caso no final de junho. Queremos saber quem serão os novos encarregados e acompanhar tudo”, relatou o vereador. “O promotor Lima, ao sair, comentou comigo que também estava sendo ameaçado”, completou.

A mesma comissão deverá também pedir o apoio da OAB no caso.

Homicídio ligado a outros

Na reunião de ontem foi levantada mais uma informação importante sobre os crimes cometidos pela quadrilha de Tamandaré. O assassinato de Davi Mendes Inácio, 38 anos, ocorrido em outubro do ano passado no Parque São Jorge, naquela cidade, pode ter ligação com os demais homicídios, disse o vereador Luís Piva. Davi foi executado com sete tiros de pistola calibre 380 e o crime nunca foi elucidado. A vítima teria provas do envolvimento da quadrilha com políticos da região.

Coincidentemente, um dos investigadores encarregado deste homicídio na época, Luiz Antônio da Silva, o “Luizão”, foi preso este ano pela equipe da delegada Vanessa Alice. Ele é acusado de participar da quadrilha, acobertando crimes e desviando investigações. “Luizão” atuava como policial na delegacia da cidade, mas era funcionário da Prefeitura.

A denúncia que chegou ao vereador Luís Piva é de que Davi teria gravado uma fita cassete que comprovaria a ligação de políticos com o crime organizado. Porém, Davi tentava dar o golpe, negociando a fita com outro grupo político, disse Piva. “Parece que ele tentou dar uma de esperto e ganhar dinheiro dos dois lados”, comentou o vereador. “Acabou assassinado pela quadrilha”, finalizou.

Piva propôs que o movimento de famílias de Tamandaré acompanhe as investigações da PIC sobre o assassinato de Davi e a possível existência da fita.

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