Não bastasse a dor de perder o comerciante Adelson Neiva da Fonseca, 49 anos, morto em assalto, sexta-feira à noite, familiares tiveram que interromper o velório,na manhã de sábado, para que a vítima fosse levada ao Instituto Médico-Legal (IML). O corpo havia sido liberado diretamente do hospital para a funerária, o que compromete a investigação do crime, pela falta do laudo de necropsia. Jaqueline Cristina Yung, filha de Adelson, garante que vai processar os responsáveis pelo equívoco.

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O constrangimento aconteceu por uma sequência de erros, que começou no Hospital Municipal 24 horas de Fazenda Rio Grande, onde Adelson chegou baleado e morreu em seguida. O médico Luiz Neves Neto assinou o atestado de óbito do paciente, não chamou o IML e entregou o documento à família, que chamou a funerária.

Dúvidas

“Sabíamos que o corpo tinha que ir para o IML. Ainda insistimos com a funerária, mas eles disseram que não precisava, pois já que o médico tinha assinado o atestado de óbito, estava tudo certo”, contou uma parente de Adelson.

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Uma funcionária do serviço funerário, responsável pelos sepultamentos no município, disse que telefonou ao IML, perguntando sobre os procedimentos, já que o médico tinha emitido o atestado de óbito. “Um funcionário chamado Benedito me disse por telefone que a família poderia processar o hospital por causa do erro. Mas que o corpo não precisava mais ir pro IML”, alegou a funcionária.

Constrangimento

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A família recebeu o corpo de Adelson às 2h40 de sábado na capela do Cemitério Parque, em Fazenda Rio Grande. No final da madrugada, a confusão começou. Assim que a Polícia Civil e IML souberam do erro, o IML teve que recolher o corpo no velório, às 10h30 de sábado.
A esposa de Adelson, que presenciou o assalto e por pouco não morreu, passou mal e precisou ser levada para longe da capela, para não ver seu marido sendo retirado do caixão, tendo as roupas tiradas do corpo, sendo colocado no “bandejão” e da viatura do IML. Foi retirado o projétil alojado no peito da vítima, para exame de confronto balístico com a arma do crime. O enterro ficou remarcado para a manhã de domingo.

Assassinos são adolescentes

O assalto ocorreu por volta das 18h de sexta-feira, na lanchonete Scooby-Do, que Adelson tinha com a esposa, na Rua Rio Tejo, bairro Iguaçu, em Fazenda Rio Grande. Dois adolescentes, de 15 anos, e duas garotas, de 16 e 17 anos, foram apreendidos em seguida, com o revólver calibre 32 usado no crime.

Jaqueline Yung, a filha, e outros parentes, descreveram que os dois garotos entraram na lanchonete e perguntaram o preço de dois lanches. Os meninos acharam caro R$ 7 e perguntaram se o comerciante podia fazer mais barato. Adelson concordou e disse que faria os dois por R$ 5.

Arma

Quando a esposa da vítima ia para a cozinha preparar os lanches, um dos garotos apontou uma arma para a cabeça dela e tentou atirar duas vezes, mas os tiros não saíram. Nesse momento, eles anunciaram o roubo. Adelson jogou a carteira no chão e disse: “Se é um assalto, podem levar minha carteira”. Os meninos tiraram R$ 70 e ainda tomaram mais R$ 15 da esposa do comerciante.

Os jovens saíram de costas, apertando o gatilho do revólver, que não queria funcionar. Num dado momento, a arma funcionou e o único disparo acertou o peito da vítima. Adelson correu até a entrada da lanchonete, onde os meninos jogaram sua carteira sem o dinheiro, mas caiu

Captura

O Siate encaminhou o comerciante ao hospital, mas ele não resistiu. A polícia trabalhou rápido e capturou os adolescentes. Os garotos praticaram o roubo e as garotas deram cobertura. Segundo a Polícia Civil, os bandidos são moradores do bairro e responsáveis por outros assaltos na região, com uso de arma de fogo.

Procedimentos diferentes

Quando o paciente morre por doença ou causa não violenta, no hospital, o médico responsável pode emitir o atestado de óbito e liberar o corpo para sepultamento. No caso de morte em casa, em que a vítima passa por tratamento, é o médico que acompanha o paciente quem deve assinar o atestado. Quando não há assistência médica prévia, o Instituto Médico-Legal deve ser chamado.

No entanto, quando se trata de morte violenta, como homicídio, suicídio e acidente de trânsito, em que a vítima é socorrida mas morre no hospital, obrigatoriamente, o IML tem que ser acionado para fazer a necropsia. É o médico legista quem assina o atestado de óbito. Dessa forma, o laudo passa a integrar o inquérito policial que investiga o crime ou acidente.