Cobrador assassinado em terminal de ônibus

As muletas de José Rodrigues, 38 anos, ficaram encostadas na cabine onde ele trabalhava como cobrador, na entrada do terminal do Pinheirinho. O trabalhador foi assassinado com um tiro no peito, às 20h30 de segunda-feira. O vigilante do terminal, Valderlei Carmo Legari, também foi baleado e levado ao Hospital do Trabalhador. Na fuga o assassino roubou um Golf, abandonando-o pouco depois. Apesar de ser aventada a possibilidade de o autor ter tentado assaltar o cobrador, a polícia acredita que o assassino foi até o terminal especialmente para matar a vítima, já que nenhuma testemunha ouviu o criminoso dar voz de assalto.

De acordo com informações obtidas ontem pela polícia, dois individuos ocupando uma motocicleta chegaram no terminal. O garupa desceu, foi até o cobrador e atirou. O piloto da moto arrancou imediatamente, abandonando o cúmplice. O assassino baleou também o vigilante e depois, na fuga, tomou um Golf em assalto.

Confusão

A polícia teve dificuldades para apurar as informações no local do crime. Algumas pessoas disseram ser três os assaltantes. Outras, que era somente um. Houve dúvida também no tipo de carro usado na fuga. Falaram no Golf e também num Kadett escuro e num Fiesta branco. Havia discordância até mesmo se José pediu socorro antes ou depois do disparo. Porém, todas concordaram que o assassino era um rapaz moreno, com o cabelo curto, roupa escura e boné amarelo.

Quando José pediu socorro, Vanderlei tentou ajudá-lo, mas levou um tiro no ombro. O Siate foi chamado para atender as duas vítimas e encaminhou Vanderlei ao hospital. José morreu no local. A ocorrência foi atendida, primeiramente, pelos soldados Erich e Carvalho, do 13.º Batalhão da Polícia Militar.

Fuga

O bandido fugiu rumo a um supermercado, na outra esquina da Avenida Winston Churchill. O motorista de um Golf – que saía junto com três pessoas do estabelecimento – foi rendido com um revólver. Todos os ocupantes do veículo conseguiram sair antes de o assaltante tomar o volante.

Ele seguiu pela via rápida sentido BR-116, mas o sistema de segurança do carro cortou a corrente no meio do caminho. “Ele ainda tentou tirar o som e revirou o porta-luvas”, relatou a vítima do assalto. Segundo anotado pelos soldados Kowalski e Gawlta, também do 13.º BPM, testemunhas afirmaram que o bandido foi resgatado por um Fiesta branco.

Apagão

Durante o trabalho da polícia, parte do bairro Pinheirinho ficou sem luz, inclusive o terminal. Cogitou-se a possibilidade de os bandidos terem provocado um acidente que teria danificado a rede elétrica, mas isso não foi confirmado. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Furtos e Roubos (DFR).

O delegado Rubens Recalcatti, titular da DFR, informou que as testemunhas começam a ser ouvidas hoje. “Não acredito que houve uma tentativa de assalto, mas uma vingança. Apesar disso, vamos investigar essa morte”, explicou o policial.

Recalcatti informou que irá solicitar ajuda das testemunhas para auxiliar na confecção do retrato falado do atirador. “Também vamos ouvir familiares e amigos para saber se o cobrador tinha alguma rixa antiga ou estava sendo ameaçado”, salientou Recalcatti. Há informação de que dois meses antes, um desconhecido enfiou a mão pela proteção da cabine do terminal de ônibus e tentou levar algum dinheiro. O cobrador o impediu e o “descuidista” foi agarrado e agredido por freqüentadores do terminal. Ele teria jurado vingança, o que leva a polícia a aventar esta hipótese para o crime.

Protesto paraliza centro de Curitiba

Um protesto dos motoristas e cobradores que trabalham na Rede Integrada de Transporte (RIT) paralisou as linhas urbanas e metropolitanas de Curitiba ontem, por meia hora. No período entre 14h30 e 15h, os trabalhadores desceram dos ônibus em manifestação à morte do cobrador José Rodrigues, 38, na noite de segunda-feira. O homicídio ocorreu no terminal do Pinheirinho.

A maior concentração de motoristas e cobradores aconteceu na Praça Rui Barbosa, centro da cidade. Com a paralisação, pequenas filas formaram-se nos pontos de ônibus e estações tubo do local, mas não ocorreu nenhuma complicação.

O Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros (Sindimoc) participou da ação e assegurou que a campanha contra a falta de segurança vai continuar. Eles esperam alguma iniciativa por parte do governo e da Prefeitura para que o problema seja reduzido.

De acordo com Valdecir Polete, vice-presidente do Sindimoc, o problema é grave. Ele ressalta que os casos de assalto seguidos de morte estão ocorrendo também em terminais, e não somente em pontos de ônibus dos bairros mais afastados do centro.

Segundo o Sindimoc, somente no ano passado ocorreram 651 assaltos nos ônibus. Valdecir ressalta que a Polícia Militar (PM) e a Guarda Municipal têm feito um trabalho conjunto com o Sindimoc, mas que o efetivo para prestar segurança a todos ainda é pequeno.

A morte do cobrador João Rodrigues foi a segunda registrada nesse ano. A primeira, do também cobrador Joaquim José da Silva, de cerca de 60 anos, ocorreu na linha Raposo Tavares, em março.

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