BR-277 é utilizada para
treinamentos e competições.

 

continua após a publicidade

AFC*, 34 anos, que é atleta de triatlo (natação, ciclismo e corrida) do Clube Golfinho, viveu momentos de pavor nas mãos de dois assaltantes, quando treinava pedalando sua bicicleta. Abordado, tentou se desvencilhar dos criminosos e acabou recebendo dois tiros. Uma das balas lhe transfixou a perna direita, na altura do joelho. A outra o atingiu no braço esquerdo, fraturando o osso e rompendo ligamentos. A carreira de atleta de AFC corre risco. Depois de várias cirurgias, ele ainda não sabe se poderá recuperar os movimentos completos do braço.

A tentativa de roubo aconteceu no dia 13 deste mês, às 19h, no viaduto da América Latina Logística (ALL), sentido sul, no Contorno Leste. É uma subida, onde normalmente os atletas diminuem a velocidade. O ponto é estratégico para ladrões. AFC foi apenas mais uma das vítimas abordadas ali. Muitos ciclistas e corredores já foram atacados no mesmo local. “Eles queriam roubar minha bicicleta e provavelmente os demais equipamentos que usamos durante os treinos”, explicou a vítima. A queixa do assalto foi oficializada na delegacia de São José dos Pinhais, mas até agora os criminosos não foram presos nem sequer identificados.

 

continua após a publicidade

O drama que atingiu AFC tem se tornado comum entre ciclistas e demais atletas que utilizam a BR-277 trecho Curitiba-Paranaguá, para treinar. Nos últimos meses já aconteceram mais de 20 assaltos, todos com uso de violência. Porém a maioria dos ciclistas não registra queixa na polícia, por acreditar que nada vai ser feito.

O técnico de AFC, Homero Cachel, revoltado com o episódio, contou que toda a equipe ficou chocada com o atentado. “A violência está aumentando e as autoridades parece que não tomam providências”, reclama ele, lembrando que a Polícia Rodoviária Federal, responsável pelo patrulhamento naquele trecho, ignora os pedidos de ajuda. “Já temos poucos jovens interessados no ciclismo e no triatlo, com esses acontecimentos, logo não teremos mais ninguém para nos representar nestes esportes”, alertou.

continua após a publicidade

Agressão para roubar óculos

Armados com revólveres ou com pedaços de pau, os assaltantes de ciclistas usam motocicletas, bicicletas e muitas vezes caminham a pé pelo acostamento das rodovias, esperando pelas vítimas. Escolhem pontos estratégicos, onde os atletas precisam reduzir a velocidade, para atacá-los. Quando não apontam armas de fogo para as vítimas, agridem-nas pelas costas, com pauladas, para derrubá-las. Roubam a bicicleta e os equipamentos em geral.

Os locais preferidos pelos criminosos serão mapeados e informados à polícia, de acordo com Adir Romeo, que está coordenando os trabalhos para aumentar a segurança dos atletas. Também algumas oficinas da periferia, que estão receptando o material roubado já foram identificadas e seus endereços igualmente serão fornecidos às autoridades. “Se o ladrão não tem para quem vender, não vai roubar”, lembra Romeo, pedindo que os receptadores sejam denunciados.

Óculos

O atrevimento dos ladrões é tamanho, que até mesmo um simples óculos é motivo para roubo. Exemplo disso foi o que aconteceu com Jaime Linhares, 39, ciclista e proprietário de uma oficina de bicicletas no Jardim das Américas. Ele pedalava pelo acostamento da BR-277, com mais dois amigos, quando passsaram a ser seguidos por um indivíduo em uma Garelli. “Em dado momento, o sujeito se aproximou e arrancou o óculos do meu rosto”, contou Linhares. Inconformado, ele passou a pedalar com mais força, para alcançar o ladrão. “Como a moto dele tem motor fraquinho, na subida consegui alcançá-lo e ele, para se livrar de mim, jogou o óculos no acostamento. Parei para recuperar meu equipamento e ele conseguiu se distanciar, escapando”, lembra o atleta.

Esportistas querem proteção

Temendo que a situação de violência contra ciclistas e demais atletas que usam rodovias para treinos aumente ainda mais, representantes das entidades ligadas aos esportes resolveram tomar algumas providências. No início da noite de anteontem reuniram-se no Velódromo de Curitiba (no Jardim Botânico) o presidente da Federação Paranaense de Ciclismo, Estefano Ulandowski; o presidente da Liga de Ciclismo de Curitiba, Florisval de Matos Mariano; o treinador e triatleta Walter Augusto da Silva; o promotor de cicloturismo Roberto Coelho; o também treinador Adir Romeo e o presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Paraná e campeão olímpico Juraci Moreira Júnior, além de vários ciclistas, para discutir formas de mobilizar as autoridades para o problema.

“Nós já estivemos reunidos com a Federação Nacional de Ciclismo, para que a partir dela sejam feitos contatos com o Ministério da Justiça, de forma que o problema seja estudado e apareçam soluções”, afirmou Ulandowski. Juraci Moreira, por sua vez, prometeu fazer gestões junto aos políticos, para que usem de suas influências no sentido de aumentar a segurança dos atletas que precisam treinar. “A comunidade ciclística em geral está abalada com os últimos acontecimentos e as equipes estão com medo de treinar”, salientou ele.

Boa pista

De acordo com os dirigentes e treinadores, a BR-277 é uma das melhores estradas ao País para treinamento, porque oferece uma boa infra-estrutura – bom acostamento – e oferece todas as condições de treino não só para velocistas, mas também para quem faz provas de circuito, montanhistas e provas longas de estrada.

Diariamente cerca de 80 a 90 ciclistas utilizam a rodovia para se manter em forma, fazendo cerca de 84 quilômetros de percurso (42 de ida e outros 42 na volta), em diferentes horários. “Aqui treina a elite do ciclismo brasileiro”, afirmou Florisval Mariano, lembrando que equipes importantes migraram de outros estados para o Paraná, por causa da boa condição da pista. No entanto, com a violência, muitos já pensam em desistir do esporte.

A opinião dos dirigentes é unânime no que se refere à necessidade de aumentar o patrulhamento policial na rodovia. “Se tivesse uma viatura circulando pelo trecho e abordando pessoas suspeitas que ficam pelo acostamento, revistando-as, seria uma forma de coibir esses delitos”, garantiram.

Deverão ser feitos contatos com delegacias dos municípios por onde os ciclistas passam, bem como com as polícias rodoviárias Federal e Estadual, e ainda com a diretoria da Polícia Civil, para que um policiamento preventivo passe a ser desenvolvido em benefício dos atletas.