Foto: Anderson Tozato/Tribuna
Escola explica por que não houve aula na noite de sexta e outro colégio reforçou a segurança.

Ninguém sabe quem dá a ordem, mas o aviso chega rápido aos ouvidos de moradores e comerciantes da Vila Barigüi, na Cidade Industrial de Curitiba. Sexta-feira à noite, o comércio fecha mais cedo, as aulas são suspensas e as ruas se esvaziam. É o toque de recolher, indicando aos moradores que mais uma morte está sendo encomendada. Duas escolas fecharam os portões ao escurecer e uma delas deixou um aviso explícito, grudado na entrada: "Por motivo de segurança a escola ficará fechada hoje à noite".

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Após as 19h, quem passava pela Avenida Cid Campelo, palco de dois homicídios no último dia 19, podia comprovar o medo estampado nos rostos dos poucos que se arriscavam a caminhar pela rua. Durante o mês de março, pelo menos seis pessoas foram assassinadas e três baleadas, naquela região.

Para garantir a integridade dos estudantes, duas escolas não funcionaram ontem. O Colégio Estadual Professor Dario Vellozo estava com o portão trancado a correntes e cadeados, assim como a Escola Municipal Pró Morar Barigüi, que tinha o aviso do porquê da suspensão das aulas grudado no portão. Nenhum vigilante foi encontrado nos estabelecimentos para comentar a situação. Segundo os moradores, todos os dias da semana passada os alunos foram dispensados às 21h, por medida de segurança.

Medo

Ontem à noite, quitandas, mercados e farmácias estavam abertos, mas com as portas semicerradas, o que indicava o temor sentido pelos comerciantes. Segundo eles, o boato sobre o toque de recolher surgiu no início da semana. "Alguém avisa que hoje vai ter tiroteio na vila e que é para o comércio fechar mais cedo. A gente fica com medo e obedece. Semana passada, eles avisaram e eu vi um cara ser baleado aqui na frente", disse a funcionária de uma frutaria situada na avenida, lembrando que há 15 dias houve outro toque de recolher na região. Uma empregada doméstica, de 45 anos, confirmou a ordem dos bandidos. "As ruas ficam vazias. O que vale aqui é a lei dos marginais. Desde cedo a gente sabia que não era para sair de casa à noite", contou ela. Um grupo de estudantes confirmou a situação em que vivem os moradores do bairro. "Aqui todo dia tem tiroteio, e eles avisam quando alguém tá prometido. Hoje (ontem) a gente tinha uma palestra na escola que acabou às 17h30, porque era para ir para casa", contaram os garotos.

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Por fim, um garotinho de 13 anos, que já foi testemunha de um homicídio e conhece quem são os criminosos do bairro, definiu a situação vivida pela comunidade com poucas palavras, mas muita precisão: "Aqui, se ficar o bicho pega, se correr o bicho come".