Ciac-Sul concentra atendimento de toda a cidade

Carceragens lotadas, distritos abrigando presos e falta de policiais. Esta realidade enfrentada pela Polícia Civil do Paraná tras como conseqüência um atendimento policial “capenga” e sem resultados. O problema – que é crônico – atinge inclusive o Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciac-Sul), anexo ao 8.º Distrito Policial, no Portão, criado justamente para “agilizar” as ações da polícia.

Numa só noite, uma equipe do Ciac chega a atender mais de 60 casos em plantão de 12 horas. Um caso a cada 12 minutos. Humanamente impossível investigá-los. A grande maioria não passa da confecção do boletim de ocorrência.

Durante a noite e nos fins de semana, apenas o Ciac-Sul atende às ocorrências de toda Curitiba. A cidade deveria ter pelo menos outros três – conforme projeto inicial – instalados no centro, no Cajuru e nas Mercês.

Porém, o Ciac-Norte (Mercês) funcionou poucos meses do ano passado e fechou; o do centro registra as ocorrências do anel central; o do Cajuru não saiu do papel. O restante dos casos da capital deságuam no Ciac-Sul (Portão), que tem a obrigação de atender a uma demanda de um milhão e 700 mil habitantes.

Esforço

Policiais que trabalham no Ciac-Sul confirmam uma média por plantão de lavratura de dez flagrantes; outros dez termos circunstanciados (crimes de menor poder ofensivo) e ainda cerca de 40 boletins de ocorrência de crimes diversos. São números apenas dos dias de semana, pois nos sábados e domingos eles quase dobram.

A equipe de plantão é de apenas dois investigadores, dois escrivães e um delegado. Não há tempo para atender direito vítimas e policiais que levam presos.

A correria é insuportável. Para piorar, na cela provisória do Ciac cabem seis pessoas. Como não se pode misturar homens e mulheres, elas ficam perambulando pelos corredores.

Quando a cela lota, os investigadores são obrigados a parar o atendimento ao público, colocar presos nas viaturas e levar para os seus distritos. Fazem isso duas ou até três vezes numa só madrugada, sem escolta, temendo represálias ou arrebatamentos.

Por conta desse “Deus nos acuda” que dois presos escaparam do Ciac esta semana. Na segunda-feira, um pediu para ir ao banheiro e saiu pela janela. Na quarta-feira, outro aproveitou uma distração da Polícia Militar, que o entregava na delegacia, e fugiu pela porta.

Vítimas sofrem para acompanhar inquéritos

Durante o dia, todas as delegacias de Curitiba – especializadas e 13 distritos de bairros -atendem a população. Mas durante à noite e fins de semana, elas fecham e deixam o atendimento a cargo do Ciac.

À noite, estes centros funcionam das 19h às 7h. Já no final de semana, abrem das 19h de sexta até às 7h de segunda-feira. Equipes dos distritos, com exceção do 1.º DP (centro), se revezam no Ciac. Cada uma cumpre 12 horas de plantão e atende aos casos que chegam.

Uma equipe da delegacia das Mercês (3.º DP), por exemplo, é obrigada a atender ocorrências que não são de sua região e depois investigá-las. Isso acaba em uma grande confusão que nem a vítima sabe a quem procurar. Às vezes ela mora no Boquerião, mas tem que ir às Mercês, para acompanhar o inquéirto.

Um exemplo desse problema é o caso de Lavínia Rabech da Rosa, 9 anos, morta no Atuba. Como o crime ocorreu num domingo, o caso foi registrado no Ciac do Portão, no plantão de uma equipe do 12.º DP (Santa Felicidade). Os pais de Lavínia e testemunhas do caso precisam sair do Atuba e ir à Santa Felicidade para serem ouvidos.

A única delegacia que não passa por esse transtorno é o 1.º DP, no centro. Também funciona como Ciac, mas atente só os casos pertinentes ao centro. Essa medida foi tomada porque, de acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, é a região com maior volume de ocorrências.

Situação caótica estressa e fr,ustra investigadores

Desde que os moradores da Vila Torres pediram mais segurança, a Secretaria Estadual de Segurança montou uma operação contínua no local, no mês passado. Diariamente, 20 policiais civis e outros 20 militares se revezam em plantões de 24 horas no bairro.

Esse contingente foi dos distritos da capital, que já estavam desfalcados. A situação ficou caótica. Delegados contam que recebem diariamente atestados médicos fornecidos aos policiais que estão cansados, estressados e frustrados porque não dão conta do trabalho.

A revolta é generalizada na categoria. Numa tentativa infeliz de minimizar o problema, o Departamento de Polícia Civil chamou de volta ao trabalho 160 policiais que já estavam aposentados. São servidores com mais de 60 anos, que retornaram sem o menor “pique”.

Muitos até entraram com processos contra o Estado, que alega que independente da idade, se o servidor não tiver 30 anos de trabalho, não pode se aposentar. O Paraná possui cerca de 2.700 policiais trabalhando. Para dar conta do serviço, deveria ter 10 mil.