Uma sinistra coincidência pode ajudar a polícia a elucidar o desaparecimento da garotinha Vivian Florêncio, 3 anos, e o assassinato da mãe dela, Maria Emília Cacciatore Florêncio, 38. Há pouco mais de seis anos um caso semelhante aconteceu em Curitiba, quando mãe e filha foram executadas e um major reformado da Polícia Militar foi levado ao banco dos réus, como principal suspeito do crime. A linha que liga os dois casos não se restringe apenas ao parentesco entre as vítimas, mas também ao fato de que os suspeitos são policiais militares e que ambos se conhecem e já trabalharam juntos na corporação.

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O caso semelhante aconteceu no dia 14 de dezembro de 1998, quando Marili Delfrate, 35, e sua filha Lisiele Delfrade, 8, desapareceram. Os corpos foram encontrados no dia 26 de janeiro de 1999. O principal suspeito, o major reformado da Polícia Militar João Carlos Gomes dos Santos, 53, foi levado a julgamento e absolvido.

O Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) e a Delegacia de Homicídios apuraram que João Carlos e o policial militar Edson Prado, lotado atualmente no Grupo Águia (considerado uma organização de elite dentro da corporação), já teriam trabalhado juntos. Edson figura como principal suspeito no assassinato de Maria Emília e no sumiço da garotinha Vivian.

Desaparecimento

A assistente administrativa Marili Delfrate, 35 anos, que mantinha um relacionamento extraconjugal com João Carlos, e a filha do casal, Lisiele Delfrate, 8, desapareceram logo após uma visita do major, da casa onde moravam, em um condomínio fechado, na Rua Irmão Libério Plewnia, Jardim Acrópole, no Cajuru, por volta das 22h do dia 14 de dezembro.

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Dias depois, parentes preocupados com a ausência de Marili e Lisiele, entraram na casa através de uma janela, que estava apenas encostada. Eles encontraram muito sangue no assoalho e nas paredes do quarto, tendo ainda manchas em uma cama toda revirada. Para confundir as investigações, o agressor levou um televisor e um botijão de gás cheio, mas pecou ao deixar os objetos em um terreno baldio, próximo ao condomínio.

O misterioso caso ganhou força com o aparecimento dos corpos, às 14h do dia 26 de janeiro. A descoberta aconteceu por acaso, feita pelo funcionário de uma empresa que estava roçando as margens do quilômetro 8 da Estrada da Graciosa, na localidade de Grota Funda, em Morretes. O homem escorregou em um barranco e deparou com o crânio de uma criança. Imediatamente comunicou a Polícia Florestal. Vários policiais da delegacia de Morretes, da Delegacia de Homicídios e militares se dirigiram para o local. Após uma varredura, encontraram uma trouxa feita com edredon, com o cadáver de uma mulher adulta. O crânio estava embalado em um saco plástico, separado do corpo. A criança estava embalada em outro cobertor. Devido ao estado de decomposição, Lisiele e Marili foram reconhecidas pelas roupas e pelos edredons. No local ainda foram encontrados um anel de ouro com a letra M, pertencente a Marili, e uma sapatilha rosa, da garotinha.

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Sesp garante rigorosas investigações

A reluta da Delegacia de Homicídios em divulgar o desenrolar das investigações sobre o assassinato da artesã Maria Emília Cacciotore Florêncio, 38 anos, e do desaparecimento de sua filha Vivian Florêncio, 3, está intrigando a família das vítimas. Ontem, o irmão da artesã, Sérgio Florêncio, conversou com representantes da Secretaria de Estado da Segurança Pública, na esperança de obter alguma informação que possa diminuir a angustia da família.

Segundo Sérgio, ele foi informado que todas as investigações necessárias estão sendo feitas e que os resultados estão sendo preservados, para não atrapalhar o desfecho do caso. Apesar de ficar sem uma resposta concreta, ele teve a garantia de que o caso está sendo rigorosamente investigado. Hoje a família das vítimas irá começar a distribuir os cinco mil cartazes com a foto de Vivian, principalmente na Região Metropolitana de Curitiba e interior do Estado. "Nós não perdemos as esperanças de encontrá-la com vida", disse Sérgio.

Silêncio

Quando mãe e filha desapareceram, no último dia 4 de março, a Delegacia de Vigilância e Capturas e o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) assumiram as investigações. Porém, no dia 9, Maria Emília foi encontrada morta, em Campina Grande do Sul, e com isso a Delegacia de Homicídios passou a presidir o inquérito. Desde então, o delegado Jaime da Luz vem mantendo em sigilo absoluto os trabalhos realizados, tanto para a família das vítimas, quanto para a imprensa.

Uma foto do principal suspeito de ter assassinado a artesã e sumido com a filha dela, o sargento Edson Prado, lotado no Grupo Águia da Polícia Militar está anexada ao inquérito policial, conforme flagrou ontem o cinegrafista do programa Tribuna na TV, durante uma entrevista com o delegado. A foto do policial possivelmente está sendo mostrada a testemunhas, na tentativa de confirmar o relacionamento do suspeito com as vítimas.

"Nós já temos os resultados das perícias feitas no telefone dele e na arma que ele portava, porém faltam outros laudos. Acredito que até o final desta semana possa divulgar algum fato", disse Jaime.

Inquérito em andamento

O delegado Jaime da Luz, da Delegacia de Homicídios, que preside o inquérito do assassinato de Maria Emília Cacciatore Florêncio, 38 anos, encontrada morta no último dia 9 de março, informou que deverá concluí-lo nos próximos dias. "O andamento é bom. Já foram feitas as três principais diligências", adiantou o delegado, que nos próximos dias ouvirá mais um testemunha.

Jaime disse que o policial militar Edson Prado, que está preso temporariamente – por 30 dias -, também será ouvido novamente, e explicou que a prisão, decretada para impedir que Edson tumultuasse as investigações, poderá ser renovada ou transformada em prisão preventiva, dependendo da conclusão do inquérito. "No primeiro interrogatório ele negou qualquer envolvimento no caso. Agora temos novas informações que serão confrontadas", avisou o delegado. Ele adiantou que não foi constatado que Edson Prado estava no quartel, nos prováveis horários em que Maria Emília e sua filha Vivian desapareceram, no final da tarde do dia 4 de março. A mulher saiu com a criança para se encontrar com o policial militar, na Praça Tiradentes, onde pretendia discutir o pagamento da pensão alimentícia que o PM deveria pagar para Vivian.

O delegado acredita que os laudos realizados pelo Instituto de Criminalística (IC) e os de necropsia, feitos pelo Instituto Médico Legal (IML), devem estar prontos no início da próxima semana. Depois disso, o inquérito será remetido à Justiça.

Novo julgamento

Está na fila de espera da 1.ª Vara do Tribunal do Júri, o novo julgamento do major reformado da Polícia Militar João Carlos Gomes dos Santos, 53 anos, acusado de assassinar a amante Marili Defrate, 35 anos, e a filha do casal, Lisiele Delfrate, 8 anos. Ele foi absolvido em dia 2 de fevereiro de 2002, depois de 27 horas de julgamento. Porém, o Ministério Público solicitou um novo julgamento que foi acolhido pelo Tribunal de Justiça do Paraná. A data deste novo julgamento ainda não foi marcada. Paralelamente, a defesa do major, a cargo do advogado Adel El Tasse, aguarda manifestação do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, onde entrou com pedido para que seja mantida a decisão do primeiro julgamento, que absolveu o réu.

Apurado sumiço de viatura

O fato de uma importante pista para a elucidação dos crimes ter sido retirada de forma irregular do Instituto de Criminalística (IC), alertou a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). A diretoria do Instituto deverá explicar ao secretário Luiz Fernando Delazari, como foi liberada a viatura policial, usada pelo principal suspeito do crime – sargento Edson Prado, da PM -, no dia que Maria Emília Cacciatore Florêncio, 38 anos, e Vivian, 3, desapareceram.

Em 4 de março, mãe e filha foram até a Praça Tiradentes, para se encontrar com o sargento Prado, para discutir a pensão alimentícia de Vivian, já que Maria Emília garantia que a criança era filha dele. As duas então desapareceram. Cinco dias depois Maria Emília foi encontrada morta, enterrada em uma cova rasa, na Região Metropolitana de Curitiba, com o corpo parcialmente coberto por cal.

O fato chamou a atenção da Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC), que atuava no caso em busca das desaparecidas. Levando em consideração a hipótese que o encontro com Prado tivesse acontecido, e que as vítimas tivessem sido transportadas na viatura, a especializada solicitou uma perícia no veículo policial.

Na semana passada policiais militares, passando-se por investigadores da DVC, levaram o veículo do pátio do Instituto de Criminalística, causando grande estranheza e aumentando as suspeitas contra Prado. A viatura só poderia sair dalí com autorização da Delegacia de Vigilância e Capturas, o que não aconteceu. A perícia, segundo a polícia chegou a ser feita, porém o resultado ainda não foi divulgado.

Instituto

Segundo José Ricardo Fiedler, chefe da Divisão Técnica da Capital do Instituto de Criminalística, assim que recebeu o pedido da Secretaria de Segurança, o perito responsável pelas análises na viatura foi questionado. Ele contou que, na ocasião, acreditou que os policiais militares tinham levado o veículo em função de um Inquérito Policial Militar, porém sem ordem para entregar o automóvel, explicou aos PMs que era necessário fazer a retirada com a autorização do protocolo. Ao examinar o livro de registros, Fiedler teve um surpresa: a assinatura da pessoa que retirou a viatura referia-se a um investigador da Delegacia de Vigilância e Capturas. "Nós iremos checar com o protocolo que tipo de identificação foi fornecida pelos policiais, pois o carro só poderia ser entregue à DVC. Isso é um crime de falsidade ideológica", finalizou Fiedler, que deve dar uma resposta oficial à Sesp ainda hoje.