Capital paranaense clama por mais segurança

Moradores e comerciantes de alguns bairros de Curitiba estão muito assustados com a crescente violência na cidade. Eles reclamam dos assaltos, dos roubos, do tráfico de drogas e da constante presença de pessoas suspeitas. A população critica ainda a falta de policiamento. Moradores e comerciantes acreditam que a presença mais consistente de policiais afastaria os criminosos. A reportagem de O Estado escolheu aleatoriamente quatro bairros de Curitiba – Centro, Santa Felicidade, Pinheirinho e Jardim das Américas -para ouvir a população. Estes problemas aparecem nas quatro regiões.  

Muitos moradores e comerciantes pediram para não serem identificados na reportagem. Sentem medo de possíveis represálias. Eles ficam muito temerosos em denunciar o que está acontecendo nos bairros onde moram ou trabalham. Mas, a partir do momento que pedem para ficar no anonimato, as pessoas falam.

Os comerciantes da Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade (região norte da cidade), estão sofrendo com assaltos e arrombamentos. Uma das lojas foi assaltada na semana antes do Natal. O estabelecimento foi assaltado outras vezes em 2006. Os criminosos, durante os arrombamentos, procuram levar mercadorias que tenham valor para posterior troca ou venda. Todos os comerciantes conhecem histórias, mas evitam conversar muito sobre isso. Para alguns deles, que preferiram não ser identificados, falta policiamento no bairro. O comerciante Paulo Sérgio, de uma banca de jornais da região, acredita que mais policiamento seria muito bem-vindo, pois há circulação intensa de pessoas suspeitas.

Rafael Scotini salienta que policiamento nunca é demais.

A reclamação de falta de policiamento também aparece entre os moradores e lojistas do bairro Pinheirinho (região sul de Curitiba), nas proximidades do terminal de ônibus e da Rua da Cidadania. A comerciante Andréa Maia – também moradora do bairro – lembra que um carro foi roubado nesta semana em frente da loja, em um momento de movimento intenso na região. O dono do carro foi até um estabelecimento e, quando virou as costas, o criminoso já estava fazendo a ligação direta e levando o automóvel. Este foi apenas um caso entre as várias ocorrências no bairro. ?Todo comerciante já sofreu com assaltos. É assalto direto por aqui. No começo de dezembro, colocaram uma viatura policial na Avenida Winston Churchill e nós comemoramos muito. Mas ficou apenas um dia. Uma viatura deveria ficar aqui, pois a presença inibe a ação de criminosos?, afirma. O comerciante Rafael Scotini fala que policiamento nunca é demais. ?A região é muito complicada. Sempre tem alguém reclamando?, comenta.

No Jardim das Américas (região leste da cidade), nas proximidades do Shopping Jardim das Américas e do Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná, os moradores e lojistas também reclamam da falta de segurança e de policiamento. Atendentes de estabelecimentos já ficam com ?um pé atrás? com pessoas suspeitas que circulam freqüentemente na área. De acordo com os comerciantes, há demora no atendimento policial após a ocorrência de assaltos e roubos. Uma balconista de um estabelecimento comentou que uma viatura, às vezes, fica nas proximidades, mas por pouco tempo.

Outro comerciante revela que a situação crítica acontece entre as 21h e 23h. Muitos estudantes de universidades voltam para casa neste período e são abordados por marginais. ?Muitos passam em um supermercado da região e, quando saem, os criminosos já ficam esperando, até entrar nas ruas mais residenciais do bairro. Levam as compras, dinheiro e celular. Em muitas ocasiões, agridem as vítimas?, relata. Ele, que também é morador do Jardim das Américas, fala que a situação está cada vez mais crítica. Para o comerciante, seria necessário um policiamento mais efetivo no período da noite. ?Se eles (a polícia) querem reconhecimento no bairro, que façam alguma coisa?, avalia.

No centro da cidade, a reportagem ouviu moradores e comerciantes nas proximidades da Praça Santos Andrade e do Passeio Público. Eles reclamaram dos assaltos, dos roubos, do tráfico de drogas em hotéis de alta rotatividade e da prostituição. Muitos comerciantes usaram o adjetivo ?péssima? para classificar como está a segurança na região. Há a circulação de pessoas suspeitas, principalmente no final da tarde. As praças acabam sendo freqüentadas por desocupados. Alguns comerciantes, como as lanchonetes, não dão nem mais um copo de água caso alguém solicite, por causa do medo dos assaltos. Para os moradores, seria necessário o policiamento a pé.

A presidente da Associação de Moradores, Comerciantes, Proprietários e Amigos da Praça Santos Andrade e do Passeio Público (Amass), Edeluz Maria Taborda Ribas Alves, a região é de risco e a situação pode ficar ainda pior com a saída da sede da 1.ª Companhia do 12.º Batalhão da Polícia Militar, atualmente localizado no Passeio Público. A mudança está prevista para o final de janeiro de 2007, para a Praça Oswaldo Cruz. ?Estamos reivindicando a permanência e, se isso não for possível, queremos o policiamento com motos aqui, pelo menos?, afirma.

Major da PM diz que plano estratégico chegou a diminuir a ação dos criminosos

Foto: Lucimar do Carmo/O Estado

Hartmann explica que a Polícia Militar também está adotando módulos móveis em alguns locais.

O major Edson Hartmann, subcomandante do 12.º Batalhão da Polícia Militar (responsável por 35 bairros de Curitiba), conta que foi traçado um plano estratégico desde que a coronel Rita Aparecida de Oliveira assumiu o comando do batalhão. Foram adotadas diversas medidas que resultaram na diminuição da criminalidade, segundo Hartmann. Ele explica que o centro de Curitiba foi subdividido em cinco setores, de acordo com dados fornecidos pela Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico (Cape). Com estas informações, foi traçado um mapa da criminalidade. O policiamento foi adaptado e reforçado nos pontos mais críticos. Hartmann explica que a Polícia Militar também está adotando os módulos móveis em algumas partes do centro, como a Praça Tiradentes, em parceria com a Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam). Ele lembra ainda que há policiamento com motos, o serviço reservado e o monitoramento com câmeras na Rua XV de Novembro. ?Existe a previsão para a ampliação do serviço, com mais 96 câmeras, em diversas partes da área central?, declara.

O major conta que o policiamento é adaptado de acordo com a migração do crime. Hartmann enfatiza que, se a população tiver reivindicações, elas devem ser passadas para a Polícia Militar. ?Vale lembrar que o policiamento não é feito só pela PM, mas também pela Polícia Civil, Polícia Federal, Guarda Municipal, Diretran e Conselho Tutelar, cada um com a sua esfera de atuação?, indica.

Sobre a mudança da sede da 1.ª Companhia do 12.º Batalhão, Hartmann diz que a seção está instalada há nove anos no Passeio Público, mas as instalações não estão favorecendo o trabalho da polícia. A sede é pequena e inadequada para as necessidades da companhia. Então, a seção passará para a Praça Oswaldo Cruz, em uma área de 102 metros quadrados. ?Na época, a sede foi instalada para coibir os furtos e a prostituição no Passeio Público. Mas a realidade é outra agora. A Praça Oswaldo Cruz também é um ponto estratégico. A transferência não significa que não haverá mais policiamento no Passeio Público e na região?, assegura.

O major Hartmann explica que há reforço no número de viaturas que atendem o bairro Santa Felicidade, especialmente nos principais locais da região. O trabalho também é controlado pelo índices de criminalidade. ?Procuramos manter contato com as lideranças e com os Conselhos Comunitários de Segurança para discutirmos as ações. Hoje, o trabalho deve ser integrado com a comunidade?, avalia.

Sobre os bairros Pinheirinho e Jardim das Américas, o major Douglas Sabatini Dabul, chefe da seção de planejamento do Comando de Policiamento da Capital da Polícia Militar, diz que as pessoas devem repassar as informações sobre suspeitos e situações estranhas pelos telefones do Projeto Povo e o 190. Ele enfatiza que o horário do policiamento é feito conforme a necessidade e o que apontam as estatísticas. Dabul explica que a presença da viatura pode melhorar a situação em um ponto específico, mas pode ser alterada em outro. ?Mas a polícia está atuando e fazendo o seu papel?, garante. Major Dabul ainda pede que as denúncias sobre narcotráfico sejam feitas pelo telefone 181. As informações ficam sob sigilo.

Os telefones do Projeto Povo são: Jardim das Américas – (41) 9914-9746; Pinheirinho – (41) 9925-5040; Centro – (41) 9925-5236; Santa Felicidade -(41) 9925-5357.

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