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Câmeras em estações-tubo não aumentam segurança e até são roubadas por marginais

Mais de 15% das câmeras da Urbs em estações-tubo e terminais de ônibus em Curitiba não estão em funcionamento por vandalismo. Muitas foram quebradas, roubadas ou retiradas pela própria administração em função do grau de depredação.

Os equipamentos foram instalados em 2013 com a função de monitorar a operação do transporte coletivo, ou seja, a entrada e saída dos trabalhadores, o pagamento das passagens e recolhimento do dinheiro. Cobradores entrevistados pela Tribuna relataram que as câmeras não aumentam a sensação de segurança nas estações -tubo, que são alvos frequentes de assaltantes.

Foto: Átila Alberti

A reportagem percorreu sete estações-tubo na Rua Major Heitor Guimarães, na região do bairro Campina do Siqueira. Destas, cinco, em ambos os sentidos, estavam sem as câmeras. A Urbs informou que hoje existem 490 câmeras em operação em terminais e estações-tubo, 96 foram retiradas por vandalismo ou pra proteção em regiões onde há maior risco e 36 estão passando por manutenção.

O roubo e os danos aos equipamentos trazem grande prejuízo à administração municipal. A Urbs informou que aproximadamente R$ 1,5 milhão já foi investido na manutenção das câmeras, desde que foram instaladas.

Uma cobradora, que preferiu não se identificar, disse que não adianta trocar os equipamentos. “No outro dia já roubam ou quebram de novo”, comentou. Outra cobradora, que também não quis ter o nome divulgado, afirmou que não se sente mais segura por causa das câmeras. “Não inibe os bandidos, mesmo com as câmeras eles chegam e colocam a faca no nosso pescoço. Passo medo todas as horas”, desabafou.

A cobradora considera ainda que as câmeras não evitam as invasões, mas contou um episódio em que um marginal entrou na estação pela porta de entrada do ônibus e ainda falou para ela: “vou entrar por aqui porque foi por isso que quebramos as câmeras”.

Falta da câmera abre brechas

A Urbs ressaltou que as câmeras têm como função o monitoramento do transporte, mas as imagens ficam à disposição das autoridades e dos órgãos de segurança pública e podem auxiliar investigações. No começo de fevereiro, por exemplo, um cobrador da estação-tubo Oswaldo Cruz, no Centro, foi agredido com um skate depois de coibir a entrada de três jovens que tentavam embarcar no ônibus sem pagar a passagem.

Ele registrou o boletim de ocorrência e as imagens, que mostram o momento em que um rapaz entra pela porta a de embarque do ônibus e o golpeia com o skate, devem auxiliar na identificação do agressor.

Para o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), Anderson Teixeira, as câmeras instaladas pela Urbs poderiam ter um melhor aproveitamento. “Elas podiam ser acompanhadas online 24 horas por órgãos de segurança pública, dessa forma aumentaria sua eficácia. Acredito que assim elas ajudariam a inibir os assaltos”, ressaltou.

falta de câmeras nas estações-tubo facilita a prática da “portinha”. Foto: Átila Alberti

“Portinha”

A falta de câmeras nas estações-tubo facilita a prática da “portinha”, feita por alguns cobradores. “Eu nunca fiz, mas sei de gente que faz sim e sem a câ,mera fica mais fácil”, afirmou uma cobradora. O “método” consiste em deixar passageiros entrarem pela porta de isenção ao lado da catraca e ficar com o dinheiro da passagem ou parte dele. “Se alguém tenta invadir pela portinha eu já mostro a câmera e aviso que vai me prejudicar”, relatou um cobrador.

Sistema de R$ 61 milhões

As câmeras que monitoram o transporte coletivo de Curitiba foram instaladas em 2013 e fazem parte do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM). Conforme a Urbs, o investimento no sistema foi de R$ 61 milhões, financiado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa.

O SIM inclui o Centro de Controle Operacional (CCO) do Transporte e do Trânsito, computadores de mão (PDAs) que permitem a interligação dos fiscais com o CCO, 89 câmeras de monitoramento do trânsito, 694 painéis eletrônicos de informação ao usuário, 44 painéis de mensagens aos motoristas, sistema de contagem de tráfego, softwares e rede conectividade de fibra ótica.

Projeto antidepredação

Para evitar a depredação dos equipamentos, a Urbs informou que está desenvolvendo um projeto para que as câmeras sejam instaladas fora do alcance de vândalos. Por isso, segundo o órgão, a câmeras já consertadas não estão sendo repostas por enquanto, o que só deve acontecer quando o projeto estiver concluído. A previsão é que isso aconteça ainda no primeiro semestre deste ano.

A Urbs destacou que nas estações-tubo onde as câmeras foram vandalizadas, o monitoramento do transporte é feito por meio do SIM, GPS, computadores de bordo nos ônibus e fiscais que circulam ao longo de todo o sistema.