Na casa humilde de cores alegres mora uma família triste. É a de número 130, na Rua Odair Coelho Polidoro, no Guarituba, em Piraquara. Casa da viúva Marineusa Rodrigues, 55 anos, e de suas três filhas e netos. Casa construída enquanto trabalhava fora. A existência da casa foi possível porque o filho Edenilson Murilo Rodrigues, então com 15 anos, cuidava de tudo. Era o único filho homem. Embora não tivesse empregos duradouros, trabalhava e ajudava a família. Marineusa se lembra de seu último Dia das Mães alegre. Foi aquele em que ela o viu. Ele avisou que ia passar na casa da mãe para almoçar. Foi no dia 19 de maio de 2013. Na segunda-feira aconteceu um episódio grave e desde o dia 21 daquele mês e ano Edenilson nunca mais apareceu.

continua após a publicidade

O que aconteceu foi o seguinte: Edenilson, que tinha 25 anos, morava com Marilucia de Freitas, de 38 anos, de quem se suspeitava envolvimento com o comércio de drogas. Marilucia era mãe de uma garota de 7 anos, chamada Emily, que chamava de pai o companheiro da mãe. Na segunda-feira, dia 20 de maio, à noite, uma viatura da Rone (Rondas Ostensivas de Naturezas Especiais), com sete policiais, abordou um amigo de Edenilson, também chamado Edenilson Miller Barreto, amizade de quinze anos. Barreto foi revistado e foram apreendidas quatro pedras de crack. Ele foi intimado a revelar o nome do traficante de quem comprou a droga. Segundo Barreto, ele foi torturado. E, debaixo de tortura, confessou que conseguiu a droga numa chácara em que morava Edenilson Murillo e a companheira Marilucia.

Mãe de Edenilson vive longa espera.

Os policiais colocaram Barreto na viatura e foram até a casa de Edenilson Murillo e de sua companheira Marilucia. Os policiais permaneceram duas horas na casa tentando saber de quem Edenilson conseguiu a droga, porque revistaram a casa e não encontraram nada. A partir deste ponto, as versões são desencontradas. A polícia teria trancado Marilucia e Emily no quarto, enquanto Edenilson, que estava na cozinha, pulou o muro e sumiu. A polícia alega que não tem mais nada com isso. Desapareceu e não apareceu. Barreto disse que depois de algum tempo na viatura, ele foi levado para o interior da casa, quando se deparou com Edenilson com pés amarrados, sangrando e aparência de quem não conseguia respirar.

A versão mais contundente, no entanto, foi dada por Emily para a mãe de Edenilson que ao saber que houve alguma coisa de anormal na casa do filho naquela noite, após um telefonema de Marilucia, assim que a polícia foi embora. Ela lá foi lá conferir. “Marilucia contou a versão de que ela não sabia de nada porque estava trancada no quarto com a filha. Mas a menina me disse que ela viu os policiais colocarem o corpo do pai na viatura”, conta Marineusa. “Ele estava enrolado num edredon”, teria dito Emily. E neste instante, Marilucia olhou de cara feia para a filha como se ela tivesse dito algo que não podia ser dito.

continua após a publicidade

Uma versão mais sucinta do caso foi apresentada pelo Gaeco. Edenilson foi torturado pelos policiais com técnicas de sufocamento e afogamento, mediante uso de saco plástico na cabeça e água. Ele perdeu os sentidos por várias vezes e foi acordado a tapas, “até que veio a falecer em decorrência das agressões sofridas”. O corpo foi enrolado em um cobertor e colocado em uma viatura. E desde então foi dado como desaparecido. Os policiais foram temporariamente afastados. E tudo ficou por isso mesmo.

Leia a segunda parte da reportagem: Ronda pela cidade!

continua após a publicidade