Briga de gangues acaba em chacina no Uberaba

Num barraco, uma mulher amarrada na cama, com o rosto desfigurado pelo golpe de uma foice. Duas casas à esquerda, quatro corpos de homens, baleados sobre seus respectivos colchões e cujo sangue se misturava no chão do único e minúsculo cômodo. Cenário da maior barbárie que se tem notícia em Curitiba: um quíntuplo assassinato, cometido por volta das 3h30 de ontem na Rua Valdemar Valdegan, área de invasão Ilha do Mel, Uberaba. Crime que seria o desencadeamento mais sangrento de uma complicada trama que envolveu assalto e outros homicídios naquele bairro e na Vila das Torres.

A primeira vítima da chacina foi uma mulher, identificada apenas como Denise. Os matadores, em torno de quatro, entraram no barraco perguntando pelo sobrinho dela, conhecido como “Lobinho”. À resposta negativa seguiu-se a reação violenta: um contundente golpe de foice, que quase decepou a vítima e a matou na hora.

Em seguida, os assassinos invadiram a casa de número 38 da mesma rua. Agora, trocando de arma: com revólveres ou pistolas, executaram a sangue-frio os quatro homens que dormiam na moradia. Morreram baleados na cabeça o amásio de Denise, Arlindo Morais Filho, 31 anos, conhecido como “Bicão”; o vendedor desempregado Jadir Marcos Barbosa, 34, e outras duas pessoas não identificadas oficialmente, apelidadas de “Seo Zé”, que era o dono da casa, e “Paraíba”. A polícia só foi avisada do crime às 6h.

Quebra-cabeça

Juntando informações de várias testemunhas, a Delegacia de Homicídios montou um quebra-cabeça para desvendar o crime. A peça-chave para entendê-lo é Lobinho, o sobrinho de Arlindo e Denise, acusado de liderar uma quadrilha de assaltantes. A encrenca começou em setembro do ano passado, quando o grupo de “Lobinho” e outro, comandado por um certo “Jorge”, teriam cometido um lucrativo roubo, cujos detalhes a polícia ainda não dispõe. “Costelinha” e “Milico”, integrantes do bando de “Lobinho”, não teriam repartido o produto do assalto com o outro grupo, conforme combinado.

“Costelinha” e “Milico”, cujos nomes verdadeiros a polícia ainda investiga, foram assassinados no final do ano passado. “Foi uma represália da quadrilha do Jorge”, falou o superintendente Neimir Cristóvão, da DH. Segundo o policial, os dois foram mortos numa tocaia armada por Ronaldo Gonçalves, 21 anos.

Ronaldo, por sua vez, também seria alvo de vingança: na tarde da última sexta-feira, dia 21, levou oito tiros e caiu morto numa rua da Vila Audi, Uberaba. Diego Ribeiro, 15 anos, e Jeferson Márcio Gonçalves, 17, que estariam ao lado de Ronaldo, foram assassinados a tiros no dia seguinte, no mesmo bairro. “Os dois menores não tinham envolvimento com os grupos inimigos. Foi uma queima de arquivo”, disse o superintendente.

A autoria desses três crimes é atribuída ao garoto de 17 anos detido pela Polícia Militar quarta-feira à tarde, no Uberaba, e encaminhado à Delegacia do Adolescente. O menor, supostamente ligado a “Lobinho”, também é suspeito de matar Ronaldo Neves de Lara, 22 anos, o “Ronaldinho”, crime ocorrido segunda-feira de manhã na Vila dos Torres.

A ação dos homens que cometeram a chacina seria, portanto, uma vingança do grupo de Jorge pelas mortes de Ronaldo Gonçalves, Jeferson Gonçalves e Diego Ribeiro. Neimir Cristóvão acredita que os alvos dos matadores não eram apenas Denise e Arlindo. “Eles queriam o Lobinho e chegaram a perguntar por ele. Como não conseguiram, executaram tio e tia, como vingança, e os demais ocupantes do barraco, que eram testemunhas”, suspeita o policial. Valdir Barbosa, 30 anos, também acredita que o irmão Jadir foi morto sem dever nada. “Ele nunca foi preso nem era de arrumar briga. Só estava dormindo naquela casa, esperando para arrumar emprego e voltar para Apucarana”, contou.

Autoria

Segundo a DH, um Passat e outro carro foram vistos rondando a invasão Ilha do Mel momentos antes da chacina Å mais uma pista da autoria das cinco mortes. A polícia trabalha agora para identificar Jorge e “Lobinho”, os cabeças dos grupos. “Já temos informações do paradeiro de ambos e tudo indica que a chacina seja mesmo um acerto de contas”, concluiu o policial.

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