Assassino de Rachel pode voltar a agir a qualquer hora

Se não forem pegos pela polícia, o homem que brutalmente assassinou a pequena Rachel Genofre, de apenas 9 anos e tantos outros criminosos que praticaram atrocidades semelhantes, irão torturar, estuprar e matar novamente. Especialistas afirmam que esses indivíduos são psicopatas.

Diferenciam-se pela falta de arrependimento, culpa ou remorso, entre outras características. E, mesmo que sejam presos ou submetidos a internação, se forem soltos, é grande a possibilidade de voltarem a praticar crimes.

Na visão da psiquiatra forense Sheila do Carmo Wendler, uma das mais conceituadas profissionais internacionais, a psicopatia é incurável e os medicamentos e tratamentos psicológicos não se mostram eficazes.

O psicopata é resultado de uma série de fatores, que vão desde abusos sofridos na infância até danos cerebrais causados por problemas mentais e neurológicos. Embora sejam considerados indivíduos perigosos, passam despercebidos no cotidiano porque não revelam distúrbios e, alguns, chegam a manter relacionamentos sociais aparentemente normais. Boa parte dos pedófilos se enquadra nesse grupo, entre eles o responsável pela morte de Rachel.

 “A principal razão que indica que esse homem é um psicopata é o fato de que ele usou a criança para satisfazê-lo sexualmente e depois a matou sem ter nenhuma consideração pelo sofrimento que ele causou à menina e sua família. Psicopatas não têm empatia pela vítima ou pela família dela”, analisou Wendler.

Prisão perpétua

Faz mais de 20 dias que o corpo de Rachel foi encontrado dentro de uma mala, debaixo de uma das escadas da rodoferroviária de Curitiba e a polícia parece distante de encontrar o assassino. No entanto, ainda que o criminoso fosse localizado e detido, qual seria seu futuro, levando em conta que realmente se trata de um pedófilo psicopata?

Especialistas afirmam que não há cura para a psicopatia e a única maneira de garantir que não voltem a atacar novamente é mantê-los presos por toda a vida. “Nos Estados Unidos, muitos psicopatas ficam internados ou presos para o resto da vida, e outros recebem a pena de morte”, lembrou Wendler.

Porém, não existe prisão perpétua ou pena de morte no Brasil. Assim, restaria a internação que, segundo o Código Civil brasileiro, pode ser por prazo indeterminado para os criminosos reconhecidamente inimputáveis (pessoas com enfermidade mental e sem consciência de seus atos).

No entanto, essa classificação gera outra polêmica, já que o psicopata, embora deturbado mentalmente, compreende a ilicitude e imoralidade do crime que pratica.

Dessa forma, ao invés de internado por tempo indeterminado, ele pode ser preso e, em razão de sua deficiência mental, ter sua pena reduzida de um a dois terços. A conclusão é alarmante. “Não importa quanto tempo ele fique na cadeia. Quando sair, vai procurar a próxima vítima”, afirmou Wendler.

Risco maior no primeiro ano de vida

Átila Alberti
Sheila e Mathews ministram conferência amanhã, em Curitiba.

Não são apenas os psicopatas que cometem crimes brutais. Recentemente, tragédias envolvendo crianças foram registradas no Paraná e no Brasil. Sheila Wendler explica muitas dessas mortes e as estatísticas revelam que a grande maioria é causada pelos próprios pais ou padrastos.

As causas são variadas. Podem estar vinculadas a um transtorno mental, problemas com bebidas alcoólicas e drogas, desestrutura familiar, maus-tratos, negligência ou, mais raramente, vingança contra alguém ligado à vítima. Wendler, lembra que h&aacute,;, inclusive, mães que matam os filhos acreditando estar fazendo um favor a eles.

De acordo com a especialista, o risco de uma criança ser vítima de assassinato é maior no primeiro ano de vida. Nos últimos meses, pelo menos dois recém-nascidos foram encontrados mortos em Curitiba: um no aterro da Caximba e outro boiando no lago do Parque Barigüi.

“Esse tipo de crime é cometido quase sempre pela mãe, normalmente jovem, solteira, de baixa renda e que teve uma gravidez indesejada”, explicou. Em junho deste ano, Mariane Damiane Teixeira, de 8 meses, foi jogada pela própria mãe do 6.º andar de um prédio, no centro de Curitiba.

A mãe, Tatiane Damiane, foi presa em flagrante e foi apurado que, antes do crime, ela recebeu tratamento psiquiátrico. “Muitas mães que matam os filhos têm histórico de doenças mentais”, disse Wendler.

A psiquiatra, que mora há 15 anos nos Estados Unidos, foi consultora de um caso de repercussão internacional, ocorrido em 2001, no Texas. A norte-americana Andrea Yates afogou os cinco filhos na banheira de casa. “Ela acreditava que seus filhos estavam sendo perseguidos pelo demônio”, contou.

Maus-tratos

Entretanto, a especialista afirmou que a maior parte das mortes de crianças é causada por maus-tratos por parte dos responsáveis, que exageram na forma de disciplinar ou são negligentes.

Usuários de drogas também tendem a agredir ou serem descuidados com os filhos. Há 10 dias, a morte da menina Lavínia da Rosa, 9 anos, no Atuba, confirma esta teoria.

Serviço:

Sheila Wender e Daryl Mathews estarão amanhã no Hospital Nossa Senhora da Luz, ministrando a conferência “Violência e Doença Mental” aos psiquiatras da instituição. Ela é médica formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPr) e professora assistente de psiquiatria na Universidade do Hawaii. Mathews é professor de psiquiatria na mesma universidade, consultor do Comando Médico da U.S. Army Medical e autor de vários artigos científicos e livros.

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