Os mesmos pais que viam na internet um meio fundamental de mostrar o mundo aos filhos são, agora, os principais adeptos de funções que consigam controlar os acessos das crianças enquanto navegam pela rede. Prova disso é o que considera como boa demanda de público o criador de um programa capaz de proporcionar ao usuário doméstico o impedimento de acesso a sites que contenham conteúdos de pedofilia e pornografia. Os doze mil downloads da versão experimental e gratuita do Anjo da Internet, como é chamado, são vistos como resultado da preocupação dos pais e também de empresas em conseguir bloquear acessos desse tipo, seja via Orkut, MSN ou em salas de bate-papo virtuais. E o criador do programa já promete novidades para uma nova versão: possibilidade de barrar até mesmo downloads de vídeos e, ainda, permitir o monitoramento de tudo o que se digita no teclado do computador.
O Anjo da Internet existe desde o final do ano passado e, de lá para cá, o número de interessados em pelo menos experimentar o programa foi expressivo, acredita o criador da solução, José Marcos Longhitano: "Isso mostra a necessidade do mercado", atesta. Já a instalação definitiva é mais "salgada": R$ 69,90 para baixar o arquivo e mantê-lo em operação. Segundo Longhitano, vale para pais que pretendem barrar o que os filhos acessam ou empresas que querem evitar que funcionários naveguem por onde não devem. "É um programa feito não para proteger a máquina, mas o usuário", define seu autor. No caso de escolas do ensino médio e fundamental, sejam públicas ou particulares, a boa notícia é que a instalação definitiva do programa é de graça. O procedimento para acessá-lo deve ser consultado pelo site www.anjodaguarda.com.br.
Sem privacidade
O programa ainda não consegue barrar conteúdos baixados por programas como Kazaa ou E-mule. Nestes sistemas podem ser facilmente encontrados vídeos pedófilos, por exemplo – os quais, informa a Polícia Federal, já são conhecidos e investigados. Mas José Marcos garante que há planos para este fim. "É um trabalho mais difícil, mas que pretendemos incluir na próxima versão", adianta. Outra propriedade que promete incluir no programa é a possibilidade de se visualizar o que um usuário digitou no teclado enquanto usava o computador. "O pai vai poder ver, por exemplo, o que o filho digitou no MSN. Muitos pais optam não por bloquear, mas apenas monitorar", argumenta.
Para a Polícia Federal, programas que detectem conteúdos pedófilos ou pornográficos auxiliam os pais a monitorarem os filhos, mas, mesmo assim, não excluem a necessidade de redobrar a atenção sobre o uso da internet, já que muitas vezes as intenções de assédio vêm camufladas de boas intenções. Os policiais do Núcleo de Inteligência da Polícia Federal de Curitiba informam que os pedófilos geralmente fazem parte de grupos fechados, usando de nick names (apelidos) que os identificam entre si, mas disfarçam seus reais interesses e diminuem as possibilidade de se exporem. Em suas buscas, em vez de atestarem que procuram por fotos de meninos, por exemplo, utilizam códigos para comunicarem seus objetivos. Além disso, usam de conversas inocentes para atrair as crianças.
O núcleo aconselha que os pais monitorem e fiscalizem os acessos. No caso de desconfiança, vale denunciar à polícia. Para a Polícia Federal – que já chegou a apurar em Curitiba denúncias de um pai que conseguiu até mesmo se comunicar com o pedófilo ao fiscalizar o que o filho fazia na internet, se passando por ele -, nessas situações os filhos não podem ter privacidade, já que ficam expostos na rede e acabam ludibriados por pessoas experientes.