Amigo diz que matou casal por dinheiro

Matei pelo dinheiro, admitiu o assassino confesso de Cristiano Henrique Brande Camilo, 28 anos, e da noiva deste, a empresária suíça Cristine Pizon Kelli, 34, encontrados mortos quarta-feira à tarde, na Vila Sandra. O promotor de vendas desempregado Jean Francisco Schamposki Maceno, 26 anos, amigo de infância de Cristiano, entregou-se ontem de manhã à polícia e descreveu o crime com riqueza de detalhes, apontando o nome de um co-autor. O acusado foi preso e o Cope (Centro de Operações Policiais Especiais) investiga agora a suposta participação de mais duas pessoas no duplo assassinato.

Jean, que já era apontado como autor pela polícia e em cuja residência os corpos das vítimas estavam enterrados, telefonou ontem de manhã para o Cope dizendo que se apresentaria. Encontrou-se com os policiais na Galeria Ritz, centro de Curitiba, e foi detido.

O acusado diz ter agido somente com um amigo, identificado pela polícia como Cláudio Chaves, que permanece foragido e está com mandado de prisão temporária. Mas há a suspeita do envolvimento de uma terceira pessoa, que foi vista dias depois ao lado de Jean e com o carro da vítima. O Cope também não descarta o envolvimento da esposa do detido, Kátia, que revelou o local onde os corpos foram enterrados. “Ela apareceu com sapatos, roupas e máquina fotográfica do casal, como se houvesse uma partilha do produto do crime”, afirmou o delegado Vinicius Augustus de Carvalho, do Cope. Jean alega que a esposa, com quem tem uma filha, nem sequer sabia do crime. “Os acusados serão novamente interrogados. Assim que o Cláudio for preso e também revelar sua versão, descobriremos o grau de participação de cada um dos envolvidos”, falou o delegado.

Descrição

Jean descreveu minuciosamente o assassinato. Dia 28 de novembro, quinta-feira, chamou Cristiano para a casa em que morava com o padrasto, na Rua João Flygare Telles, Vila Sandra. Como eram amigos há mais de dez anos, a vítima apareceu lá com o Escort 1998 comprado à vista dias antes, sem imaginar o que o aguardava. “Combinei tudo com o Cláudio, que ficou escondido e acertou com uma barra de ferro a cabeça do Cristiano. Ele caiu desacordado e o Cláudio deu mais uns três golpes”, contou. A vítima morreu na hora e foi colocada numa fossa semi-aberta na lavanderia da casa.

Algum tempo depois, às 22h30, os acusados foram com o carro de Cristiano ao flat onde o casal estava hospedado, no bairro do Batel. Sob o pretexto de que o noivo a aguardava, Jean convenceu a suíça, que já o conhecia, a entrar no carro. Cláudio, apresentado à mulher como um amigo de Jean, entrou no banco de trás do carro. “No caminho, o Cláudio começou a enforcar a Cristine. Ela gritou muito mas chegou morta na minha casa”, relatou Jean. O corpo da empresária foi jogado no mesmo buraco onde estava o noivo, sendo coberto com terra e cal.

No dia seguinte, Jean voltou ao flat apresentando-se como Paulo e tentou retirar as malas do casal, mas os funcionários não permitiram. Também tentou, sem êxito, ter acesso ao cofre onde estavam os dólares do casal, que pretendia comprar à vista um apartamento em Florianópolis. Na segunda-feira, Jean esteve em algumas revendas de automóveis, mas também não pôde vender o Escort do amigo e abandonou o carro num estacionamento em Araucária. Neste mesmo dia, a família de Cristiano soube da tentativa de negociação e decidiu registrar queixa na Delegacia de Homicídios. O acusado desapareceu assim que soube da denúncia.

Os autores tiveram que se contentar com algumas roupas e objetos das vítimas e cerca de R$ 300 da carteira da empresária. Jean disse que esteve um dia em São Paulo e depois voltou, e afirma desconhecer o paradeiro de Cláudio. Falou ainda que resolveu entregar-se por arrependimento e para que a sua mulher não seja incriminada. “Não pensei no que estava fazendo, só em sair dessa situação financeira ruim”, disse o acusado, que considerou o crime a “pior besteira que fez na vida”.

Amizade começou há 14 anos

Há cerca de 14 anos, Jean Francisco Maceno mudou-se da Água Verde para a Vila Sandra, onde conheceu o amigo Cristiano. “Era o único garoto da minha idade. Virou meu melhor amigo”, lembrou o acusado.

Os dois só se separaram quando Cristiano juntou dinheiro e tentou arriscar a sorte na Europa, há quatro anos. “Ele nunca abriu o jogo sobre o que fazia lá”, disse Jean. Segundo a família, a vítima trabalhava como pintor de paredes. Seis meses atrás, o rapaz passou a viver com Cristine, próspera dona de uma agência de publicidade em Zurich, Suíça, com filial em Nova York. Tinham planos de se casar em breve – a mulher gostava muito do noivo, segundo o antigo conhecido. O casal deixou a Suíça há duas semanas para visitar a mãe de Cristiano, que estava muito doente. Ela morreu no mesmo dia da chegada do filho.

Jean disse que trabalhou como promotor de vendas e marceneiro e está desempregado desde setembro. Ele nega que tenha sido movido pela inveja do amigo, nascido pobre como ele e que agora vivia bem na Europa – mas demonstrou certo ressentimento de Cristiano. “Ele vinha aqui e gastava muito dinheiro, comprava do bom e do melhor. Gabava-se porque agora era muito rico”, falou.

O acusado afirma que pensou em se matar após o crime. “Meus parentes e os do Cristiano devem estar de “cara virada” comigo. Sei que vou pegar uns 60 anos de cadeia e agora só me resta pagar pelo que cometi”.

Voltar ao topo