Acusado de crime no Chile poderá ser julgado aqui

Transcorridos quatro anos e meio do brutal assassinato da jovem Luciene Ribeiro de Paula, 18 anos, ocorrido em Santiago, no Chile, o marido dela e principal suspeito do caso, Aristóteles Smoraleck Júnior, 27 anos, poderá ser levado a julgamento em fevereiro do ano que vem, pelo Tribunal do Júri de Curitiba. Um processo contra ele,

acusando-o pelo assassinato da esposa, está correndo pela 1.” Câmara do Tribunal de Justiça, a pedido dos pais da vítima – Maria Judith e Paulo de Paula – que não se conformam com a impunidade.

Smoraleck esteve envolvido em outros crimes e está recolhido em uma das celas da Prisão Provisória de Curitiba, no Ahu. Ele nunca admitiu ter assassinado Luciene, muito embora a polícia chilena tenha reunido diversas provas que o incriminam. A Justiça do Chile chegou a pedir que Smoraleck fosse extraditado para poder ser julgado no vizinho país, no entanto as leis brasileiras não permitem a extradição de um nacional.

Justiça

Temendo que o caso caísse no esquecimento e Smoraleck jamais fosse punido pelo crime que aparentemente praticou, os pais da jovem morta pediram ajuda na Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Paraná. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB – Dálio Zippin Filho – foi acionado e passou a acompanhar o caso, entrando com recursos no Tribunal de Justiça para que o acusado fosse julgado no Brasil.

“Tudo o que queremos é que ele pague pelo que fez”, dizem os pais, que no fim de semana deverão comparecer a um programa de TV em rede nacional para apelar à Justiça para que o caso tenha continuidade e ele responda pelo assassinato de Luciene.

Golpe

O acusado, segundo foi apurado, deverá responder por homicídio, ocultação de cádaver, aborto e estelionato. Antes de levar Luciene para o Chile, ele fez um seguro de vida no valor de 250 mil dólares em nome dela, sendo ele e a filha dela – uma garotinha que na época tinha 8 meses de vida – os beneficiários. A seguradora se recusou a pagar o prêmio a ele, mas a criança poderá ter direito a receber pelo menos parte do seguro.

Para garantir que pelo menos esta parte que caberia à menina poderia ser administrada por ele, Smoraleck assumiu a criança como sendo sua filha. A menor, hoje com 5 anos, está sob os cuidados da mãe dele, Leci Smoraleck. Porém, nos próximos dias a mulher deverá entregar a garota para os policiais do Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas) que receberam ordens da juíza Dilmari Helena Kessler, da 3.” Vara da Família, para devolverem a criança ao pai biológico, José Divonsir dos Santos.

Filha

José já teria se submetido a um exame de DNA e através dele provado ser o pai da garotinha. Já o defensor de Smoraleck, Osmann de Oliveira, nega a existência do DNA e diz ter entrado com um recurso para impedir que a menina vá para as mãos do pai verdadeiro, já que este seria um desconhecido para a criança e não teria condições financeiras de cuidá-la, segundo avaliação do advogado.

A garotinha estaria em São Paulo, conforme informações da polícia, e está sendo aguardado para hoje o comparecimento de Leci na sede do Sicride, para dar conta do paradeiro da menor. “Vamos tentar recuperar a criança sem muitos traumas. Primeiro vamos conversar”, disse o delegado Harry Herbert, do Sicride.

Sonho que virou pesadelo

A história da morte de Luciene mais se assemelha a um filme de violência do que a cenas da vida real. Pobre, a jovem trabalhava em boates para se sustentar. Teve um filho que ficou aos cuidados dos pais dela e com dificuldades tentava sustentar a outra filha, de poucos meses de vida. Foi na boate que ela conheceu o então professor Aristóteles Smoraleck Júnior. Algumas semanas de um suposto romance e ele a pediu em casamento, prometendo assumir como sua a filha pequena.

Os pais de Luciene – Maria Judith e Paulo de Paula – suspeitaram do futuro genro. Não conseguiam entender seu comportamento quase sinistro e tentaram impedir o relacionamento. Porém, atraída pela possibilidade de uma vida melhor, a jovem não se intimidou e passou a viver com ele em um apartamento no Alto da XV. Ambos legalizaram a situação em uma cerimônia de casamento em que ninguém da familia dela compareceu.

Com o passar dos meses Luciene mostrava-se cada vez mais triste e já não podia mais visitar a família, por ordem do marido. Mesmo assim fez algumas confidências a amigos, contando que era espancada e muitas vezes drogada por Smoraleck.

Viagem sem volta

Em final de julho de 1998 o casal embarcou para Santiago, no Chile, numa suposta “lua-de-mel”. Antes Smoraleck tratou de fazer um seguro de vida em nome da mulher. Alguns dias depois de terem chegado em Santiago, Luciene desapareceu. O marido avisou as autoridades policiais do misteriosos sumiço e assim que pôde embarcou de volta para o Brasil, sem ao menos saber o que havia acontecido com ela. À polícia disse que a deixou em frente ao hotel e saiu para passear. Ela, grávida de três meses, teria pedido para ficar no quarto porque não estava se sentindo bem.

Uma semana depois do retorno de Smoraleck, a polícia chilena encontrou o corpo da jovem, na tarde de 9 de agosto daquele ano. Ela havia sido assassinada em uma mata, num local retirado conhecido por San Cristóbal. Luciene tinha recebido vários golpes na cabeça, desferidos com um taco de beisebol. O carro que o casal havia alugado para passear por Santiago apareceu queimado. E um rapaz, preso dias depois, confessou ter ateado fogo no veículo a pedido de um brasileiro.

No Brasil, Smoraleck já então considerado principal suspeito do crime, negou terminantemente a autoria e até hoje nega. Ele chegou a enterrar o corpo da vítima no jazigo de sua família, no Cemitério Municipal, para tentar demonstrar sua inocência. Este fato revoltou ainda mais os pais de Luciene, que agora lutam também pelo direito de remover para outro túmulo os restos mortais da jovem que viveu um conto de cinderela às avessas.

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