Recolhida em uma das celas do 9.º Distrito Policial (Santa Quitéria), Elenir Voltolin Papker, 37 anos, acusada de ter mandado assassinar o amante em Pontal do Paraná (e suspeita de envolvimento em outros dois crimes), nega terminantemente participação em qualquer dos delitos. Entre pequenas crises de choro e preocupação com os três filhos que não vê desde que foi presa, na sexta-feira passada, ela se diz vítima de uma armação. “Não tenho nada a ver com isso tudo. Minha vida virou um inferno desde que conheci Neri”, diz ela.

Elenir desmente a versão de que atraiu Neri para uma cilada, forçando um encontro amoroso entre eles. “Eu não estava no carro com ele. Pode ter sido outra mulher, pois ele tinha caso com muitas amantes”, afirma a acusada. Neri Pereira, 61 anos, proprietário de uma oficina mecânica em Pontal do Paraná, foi morto com um tiro dentro de seu carro, num matagal à margem do Rio Caraguaçu. O carro com o corpo em seu interior foi incendiado. Próximo do local foi encontrada a carteira de identidade de Elenir. Os autores do crime seriam Adriel Vagner Gonçalves, 18, e Adriano da Silva, 28, além de um terceiro indivíduo chamado Jorge.

Embora negue participação no crime, de acordo com a polícia, foi a própria Elenir quem indicou onde estava o carro e o corpo. Surpreendida em casa por investigadores que estão atuando na Operação Verão, que atenderam o registro de queixa de desaparecimento do mecânico, ela teria apresentado álibis para negar que estivera com o amante. Mas depois de algum tempo, mostrou onde estava o corpo.

Negativas

Além de negar participação na morte de Neri, com quem inclusive havia comprado uma casa em sociedade, na Praia de Leste, Elenir também diz nada saber a respeito da morte de um antigo namorado, Nelson Ferreira, 36 anos, ocorrida em 2001, na Vila Zumbi dos Palmares, nem ter qualquer participação no crime que vitimou seu marido, Jorge Alceu Papker, 40, acontecido em 22 de agosto do ano passado, na Vila Martins, em Borda do Campo.

A confusa história de Elenir começa em Nova Prata do Iguaçu, onde ela nasceu e trabalhou na lavoura. Aos 16 anos namorou Nelson, de quem engravidou. Nelson era tio de Jorge. Este, apaixonado por ela, pediu-a em casamento, mesmo sabendo que ela esperava um filho de outro homem. Casaram-se e foram morar em Mato Grosso durante anos. Lá, Jorge aprendeu os ofícios de pedreiro e marceneiro. Mudaram-se então para Curitiba. O casal teve mais dois filhos. As meninas estão com 13 e 18 anos, e o garoto com 17.

“Nós sempre vivemos bem, éramos um casal feliz”, relata a suspeita. Há pouco mais de dois anos eles resolveram morar no litoral, em uma invasão, em Praia de Leste. Lá, a filha mais velha engravidou e Jorge, irritado com a situação decidiu tocá-la de casa. A mãe interferiu, pedindo que dessem atendimento à adolescente. “Ele disse que então sairia de casa e foi assim que nos separamos. Ele foi morar com a mãe dele, em Borda do Campo. Mas mandava dinheiro para a gente e ia nos visitar”, conta a mulher.

Amantes

Durante o ano e meio que estiveram separados, Elenir conheceu Neri e teve um romance com ele. Jorge, por sua vez, teria se relacionado com outra mulher. Porém o casal resolveu voltar a morar junto. Romperam com seus amantes e foram residir em Borda do Campo. “Fomos morar na casa da minha sogra, até conseguir arrumar um lugar para a gente. A partir de então, passamos a ser ameaçados de morte por Neri, que me queria de volta”, explicou.

Elenir diz acreditar que foi Neri quem encomendou o assassinato de seu marido. “Ele nos perturbou muito. Chegou quase a violentar sexualmente a minha filha mais nova. Eu tinha muito medo dele”, afirma. Depois que Jorge foi morto, o assédio do amante aumentou, conforme relata. Para fugir dele, estaria trocando sua casa em Praia de Leste por outra em Araucária. Ela, inclusive, estaria na praia – quando Neri foi morto -, apenas para acertar a papelada da troca das casas. Mas apesar de tudo, continuava sócia de Neri na casa do balneário Monções.

Por fim, sobre a morte de Nelson, ela lembra que o antigo namorado tinha muitos inimigos. “Ele foi morto no Zumbi dos Palmares, a tiros, não sei porquê nem por quem. Nada tenho a ver com isso”, enfatiza.

Uma caçada aos suspeitos

Policiais do Cope (Centro de Operações Policiais Especiais), lotados na Operação Verão, continuam no encalço dos três suspeitos de participar do assassinato do empresário Neri Pereira, 61 anos, ocorrido quinta-feira passada em Pontal do Paraná. Ontem os policiais percorreram matagais na região do Rio Caraguaçu, divisa entre Pontal e Paranaguá, checando indícios da passagem dos foragidos por ali, e estiveram a poucos passos de pegar o trio.

De acordo com o investigador Taíco, que integra a equipe, pescadores relataram ter visto Adriel Vagner Gonçalves, Adriano da Silva e um terceiro indivíduo, conhecido como Jorge, acampando na margem do rio. “Encontramos um acampamento improvisado abandonado com restos de comida. Tudo leva a crer que os marginais estiveram ali poucas horas antes”, comentou o policial do Cope, que trabalha no caso junto com os policiais Edimar, Iara, Lica, Zé Carlos, Desiré, Levir e Miguel. Para Taíco, é só uma questão de tempo até os três caírem nas mãos da polícia. “Eles continuam aqui pelo litoral e mais cedo ou mais tarde serão encontrados”, disse.

Acusada de ser mentora intelectual do crime, Elenir Voltolin Papker, 37 anos, foi presa na sexta-feira passada e apontou o local onde estavam o carro e o corpo de Neri, amante dela. Nas margens do Rio Caraguaçu, onde o casal costumava se encontrar, Neri foi morto dentro do Corsa com um tiro e em seguida carbonizado. Elenir foi indiciada na delegacia de Pontal por homicídio e ocultação de cadáver. Ela foi transferida anteontem para a carceragem do 9.º Distrito, em Curitiba.

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